Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
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na costa indiana do Canará, no ano de 1542 417
. As causas profundas são fáceis de apontar. Martim Afonso estava estrear-se em funções, pelo que lhe conviria protagonizar uma exibição de força com impacto bastante para renovar o prestígio como chefe de guerra e assim conter, por antecipação, as veleidades de possíveis rivais. Como os pretextos de ataque lhe eram facultados pelo atraso no pagamento dos tributos devidos à Coroa portuguesa e pelas facilidades localmente concedidas aos corsários mappillas juntava-se o útil ao agradável, ou seja, o dirigente tinha oportunidade de vincar a importância que lhe merecia o controlo do litoral indiano a Sul de Goa e dos tráficos marítimos de lá emanados 418 . Ficava demonstrado que as divergências 249-251, 266-269, 285-286, 295-296, 337-338, 343-344, 404-407, 423, 427-428; Ásia, V, ix, 9 e V, x, 4. 414
Cf. carta de Nuno Vaz de Castelo Branco a D. João III, Cochim, 12.I.1543, in IANTT, CC, I- 73-42, fls. 1-1v e Ásia, V, ix, 3. 415 Cf. carta de Estevão Limpo a D. João III, feitoria do Achém, 15.III.1543, in IANTT, CC, I-73- 62, fls. 1-2v. 416
Veja-se Isabel M. R. Mendes Drumond Braga, Um Espaço, Duas Monarquias..., pp. 139- 141; «Tratado de paz entre Jordao de Freitas, Gobernador de Ternate e islas Moucas, y el General de Nueva España, en nombre de sus soberanos», Ternate, 8.I.1545, pub. in Tratados
Truyol y Serra, vol. I, Espanã-Portugal, ed. P. Mariño & M. Moran, Madrid, CSIC, 1978, pp. 407- 409; e «Concierto de Hernán de Sousa com el Capitán de los Castellanos», Talangame, 4.XI.1545, pub. in Ibidem, vol. I, pp. 410-414. 417 Cf. Martim Afonso de Sousa, «Brevíssima e Sumária Relação...», p. 78; Ásia, V, ix, 2; História, IX, xxxi; e Lendas, vol. IV, pp. 257-262. 418
Para um enquadramento da perseguição aos interesses mappillas no governo de Martim Afonso de Sousa veja-se Sanjay Subrahmanyam, O Império Asiático..., pp. 130-131. Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
234 que alimentara com Nuno da Cunha, neste capítulo, eram de fundo programático e não relevavam de meras quesílias pessoais. À parte o diminuto número de navios, a composição da esquadra de 1541 reservava surpresas a outro nível. Como é sabido, desde que fora instituída uma estrutura permanente e centralizada de comando português na Ásia, tornara-se corrente a prática de os dirigentes máximos seguirem acompanhados de familiares providos em capitanias da Carreira e do Estado da Índia. Contudo, à largada da capital, faltava essa equipa de apoio a Martim Afonso. Dos restantes quatro capitães da armada somente um tinha ligação a ele, mesmo assim por via de interposta pessoa. Era ele Luís Caiado, cunhado do desaparecido irmão Pêro Lopes de Sousa 419
. Quanto à presença de consanguíneos a bordo, apenas se detectam três, todos eles em fase de início de carreira. Um deles era o segundo varão do governador, Lopo Rodrigues de Sousa
420 , que contaria, no máximo, dezasseis anos de idade e que perdeu a vida antes da acostagem final a Goa, sem dúvida vítimado pelas extremas dificuldades que pautaram aquela navegação 421 . Os restantes eram os segundos primos Garcia de Sousa, bastardo de Tomé de Sousa 422
, e
419 Cf. Àsia, V, viii, 1; Lendas, vol. IV, p. 211; Frei Luís de Sousa, Anais..., vol. II, pp. 161-162; Relação, p. 55; Emmenta, pp. 42-43; e lista de membros da armada de 1541, baseada na Memoria das Pessoas que passarão à Índia, pub. por Georg Schurhammer S. J., in Francis Xavier..., vol. II, p. 687; 420
Cf. lista..., pub. por Georg Schurhammer S. J., in Ibidem, vol. II, p. 688; Frei Luís de Sousa, Anais..., vol. II, p. 162; e Emmenta, p. 43, que o cita, por lapso, como Lopo Pires de Sousa. 421
Veja-se supra Parte II, nota nº 393. A viagem, de que Georg Schurhammer apresentou uma reconstituição minuciosa, in Francis Xavier..., vol. II, pp. 3-132, foi marcada pela experiência prolongada de calmarias na zona equatorial do Atântico. Daí resultaram a detioração das provisões alimentares e a degradação da condição física da tripulação e dos passageiros. Registaram-se, por conseguinte, diversas mortes. Em Setembro de 1542, quando a armada chegou a Moçambique, sem poder já rumar à Índia, por falta dos ventos favoráveis da monção, eram ainda muitos os doentes a inspirarem cuidados, neles se incluindo Martim Afonso de Sousa, que padecia de «grandes febres e frenesis» – cf. Ásia, V, viii, 2. Durante os cerca de seis meses que a esquadra ali teve de se demorar, os Jesuítas empenharam-se na prestação de assistência clínica e espiritual, registando o Pe. Francisco Xavier o falecimento de oitenta indivíduos e a permanência de muitos doentes quando o governador decidiu levantar ferro – cf. carta do Pe. Francisco Xavier aos membros da Companhia de Jesus, Goa, 20.IX.1542, pub. in DHMPPO-I, vol. III, p. 27 e carta de João de Sepúlveda a D. João III, Moçambique, 10.VIII.1542, pub. in DPMAC, vol. VII, p. 136. 422 Reportando-se à visita de Martim Afonso de Sousa à fortaleza de Cananor, em Novembro de 1544, Diogo do Couto deu conta de que junto daquele estava «hum filho bastardo de Thomé de Sousa, [...] que lhe ficava em lugar de sobrinho, que lhe levava hum guião de Christo», cuja identificação omitiu - cf. Ásia, V, x, 8. Além de Garcia de Sousa, nascera ao futuro 1º governador-geral do Brasil outro rebento ilegítimo, baptizado como Francisco de Sousa. Visto que o único membro da armada de 1541 que tinha nome igual era o capitão da nau Santa
de Sousa, presume-se que o Garcia de Sousa citado numa única das listas de embarcados fosse o bastardo de Tomé de Sousa - cf. Francis Xavier..., vol. II, p. 83 e «Rol das pessoas
Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
235 Pantaleão de Sá, filho do alcaide-mor do Porto, João Rodrigues de Sá e Meneses
423 . Ambos deveriam ter sido confiados pelos pais à protecção de Martim Afonso, aproveitando, em simultâneo, o alto cargo em que este fora investido e a tradição nobiliárquica de os mancebos receberem formação prática na arte da guerra por parte de familiares mais velhos, adestrados no manejo das armas e socialmente bem colocados 424 .
A verdade é que teria sido complicado a Martim Afonso de Sousa reunir em Lisboa, nos inícios de 1541, um lote de membros da sua linhagem que tivessem somado experiência compatível com o exercício de funções ultramarinas de responsabilidade e que estivessem disponíveis para o acompanhar até aos domínios orientais. Na década anterior, o fidalgo ficara privado, para sempre, da colaboração do primo Manuel de Sousa e dos irmãos João Rodrigues e Pêro Lopes de Sousa, embora continuasse a acalentar esperanças de vir a encontrar o último 425 . Os primos João de Sousa Rates, Aleixo, Belchior e Henrique de Sousa Chichorro tinham continuado, com destinos diferentes, ao dispor do Estado da Índia 426 . Excluindo um punhado de despachadas e que tem licença del rey nosso senhor pera irem aa India este ano de 1541», pub. in CSL, vol. I, p. 159. Veja-se o Anexo Genealógico nº VII. 423
Cf. alvará de embarque, Almeirim, 10.II.1541, in IANTT, CC, I-69-39; Emmenta, p. 43; e Frei Luís de Sousa, Anais..., vol. II, p. 162. 424 Cf. Isabel Beceiro Pita & Ricardo Córdoba de la Llave, Parentesco..., pp. 282-283. 425 Em 1542, o governador haveria de despachar, a partir de Cochim, o fidalgo galego Diogo Soares de Melo, para uma missão de busca de Pêro Lopes de Sousa em torno da ilha de S. Lourenço, actual Madagáscar – cf. Lendas, vol. IV, p. 266. 426 Após ter sido obrigado por D. Garcia de Noronha a permancer na Índia e ter sido beneficiado com a capitania de Cananor (cf. supra Parte II, nota nº 312), cessaram todas as notícias a respeito de João de Sousa Rates. O Nobiliário, vol. X, p. 555 situa-lhe a morte na Índia, pelo que é possível que a mesma tenha sobrevindo durante o período em que Martim Afonso de Sousa esteve ausente da região, entre Janeiro de 1540 e Abril de 1542. Aleixo de Sousa Chichorro demorou-se em Moçambique depois de ter cessado funções como capitão de Sofala. Em Setembro de 1542, ali o veio a encontrar Martim Afonso de Sousa, provavelmente junto do meio-irmão Belchior, que tomara conta da alcaidaria-mor e da feitoria de Sofala – cf. Ásia, V, viii, 1. A Henrique de Sousa Chichorro também faltou autorização do vice-rei D. Garcia para retornar ao Reino, depois de ter sido resolvida a crise do ataque otomano a Diu. Em cumprimento da disposição régia que lhe atribuíra a capitania da viagem a Ceilão, vimo-lo a deslocar-se à ilha em 1541, a fim de ali carregar canela. Entretanto, deverá ter viajado para Portugal, desencontrando-se com Martim Afonso de Sousa. Reapareceu na Índia em 1545, como capitão da armada de D. João de Castro, para assegurar, finalmente, o comando da fortaleza de Cochim – cf. Lendas, vol. IV, pp. 100, 211; Emmenta, p. 49 e carta de Henrique de Sousa Chichorro a D. João de Castro, Cochim, 10.XI.1545, pub. in Obras, vol. IV, p. 3. Diogo do Couto confundiu-o com o irmão Belchior ao atribuir-lhe, relativamente ao ano de 1544, a capitania- mor da armada do Malabar e a autoria do assassinato de um dingitário muçulmano de Cananor – cf. Ásia, V, x, 8.
Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
236 outros primos, marcados pela fraca preparação e pela falta de notoriedade 427
, sobejava como elemento de utilidade o coirmão Tomé de Sousa. No entanto, este mostrar-se-ia desinteressado, a ajuizar pela estabilidade económica que alcançara 428 , pela falta de satisfação dada ao pedido, posterior, de D. João de Castro para que o fosse assistir na condução do Estado da Índia 429
, e por só ter voltado a sair do Reino em 1549, ao fim de cerca de doze anos de estadia consecutiva, munido do estatuto de primeiro governador-geral do Brasil. Na esfera de influência directa da estirpe, o primo Manuel de Sousa de Sepúlveda encontrava-se, igualmente, afecto às hostes portuguesas activas no Oriente, tendo a sua opção de serviço sido imitada, poucos anos antes, pelos irmãos João de Sepúlveda e Afonso Henriques de Sepúlveda 430
. Por seu turno, o cunhado António de Brito acabara de ser contemplado com uma promessa régia de nomeação para o lugar de capitão da fortaleza de S. Jorge da Mina, ao qual estava adscrita uma excelente remuneração de 800.000 reais por ano 431
. Depois de já uma vez se ter recusado a demandar o Índico 432
, e de noutra ter pensado em interromper a comissão de serviço que estava a realizar em Cochim 433
, Brito deveria sentir-se pouco inclinado à reinstalação em qualquer ponto asiático.
427
Era o caso de Jorge de Sousa Chichorro, de quem apenas se tem como certa a viagem da Índia para Portugal, iniciada em Dezembro de 1545, na companhia do meio-irmão Aleixo – c f. Ásia, VI, i, 1. O rol de sujeitos apagados engrossava com três filhos de Vasco Martins de Sousa Chichorro, a saber, dois legítimos, Garcia de Sousa e Jerónimo de Sousa Chichorro, e um bastardo, o Francisco de Sousa, já apresentado a caminho da Índia em 1537 ou 1538 – veja-se
João de Castro, em 1545, beneficiando o primeiro da patente de capitão de uma urca – cf. Emmenta, pp. 47 e 49. Veja-se o Anexo Genealógico nº IV. 428
Assunto retomado no capítulo 2.4. 429
Cf. carta de D. João de Castro a D. João III, Diu, Setembro-Dezembro de 1547, pub. in Obras, vol. III, p. 494. 430
Entre 1538 e 1541, Manuel de Sousa de Sepúlveda achou-se como capitão da armada preparada para socorrer Diu, da armada enviada para firmar a paz com Calecut e da armada que penetrou no Mar Vermelho – cf. João de Barros, Ásia, IV, x, 19; Ásia, V, vi, 7 e V, vii, 5. João de Sepúlveda e Afonso Henriques de Sepúlveda navegaram para Oriente em 1538. O primeiro teve direito a uma das capitanias da esquadra de D. Garcia de Noronha e era portador da mercê da capitania de Sofala, pelo prazo de três anos, com 400.000 reais de ordenado – cf. Relação, p. 53; Emmenta, pp. 37, 39; Soldados da Índia..., pp. 9, 56; e registo de mercê, Lisboa, 1538, pub. in RCI, vol. I, nº 311, p. 71. 431 Cf. alvará de lembrança, s.l., 4.II.1541, referido na carta de mercê da capitania da fortaleza e cidade de S. Jorge da Mina, pelo prazo de dois anos, Évora, 10.I.1545, in IANTT, Ch. de D. João III, l. 25, fls. 4-4v. 432
Cf. carta de D. João III a D. António de Ataíde, Évora, 5.II.1533, pub. in Letters of John III, ed. J. D. M. Ford, p. 86. 433
«António de Brito não fica nesta fortaleza por outra nenhuma coisa senão por estar de guerra e por a Índia estar de feição como está; e faz ele nisso muito serviço a Vossa Alteza, porque esta fortaleza daqui é sem nenhuma honra nem proventos; e ele se determinava de se
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237 O estudo devotado por Andreia Martins de Carvalho à análise prosopográfica dos comandos terrestres do Estado da Índia, durante o governo de Nuno da Cunha, viabiliza o entendimento de uma segunda ordem de explicação para o relativo desamparo que Martim Afonso de Sousa se preparava para enfrentar em 1541. Em causa está o sistema de vagantes, vulgarizado pela Coroa a partir da década de 1530, o qual se traduziu na pluralização e na concomitante seriação de nomeações para a chefia de cada uma das fortalezas portuguesas. Daqui derivaram modificações apreciáveis na dinâmica institucional do Estado da Índia. Passou a registar-se um compasso de espera, de tendência crescente, entre a chegada ao Oriente das figuras distinguidas e a ocupação dos respectivos cargos. Automaticamente, os dirigentes de cúpula viram comprometidas as hipóteses de formação de “elencos governativos” com base em recrutamentos operados no seio das respectivas parentelas ou clientelas e sancionados pelo monarca 434 .
vagantes figura aqui como segundo factor de explicação. A concepção vigente da figura régia como fonte absoluta de graça conferia a D. João III a autonomia desejável para alterar a ordem dos fidalgos indigitados para o exercício de qualquer função. Disso haveria de ser exemplo António de Brito, a quem foi concedida a prerrogativa de se antecipar a Manuel de Macedo na administração do castelo da Mina, sem que se atendesse ao príncipio da antiguidade do provimento 435
. Ainda mais reveladoras quanto à liberdade de derrogação do soberano afiguram-se as condições em que Manuel de Sousa de Sepúlveda viria a ser colocado à frente da fortaleza de Diu, em Janeiro de 1542
436 . Ter-lhe-à bastado receber uma carta missiva do rei para que adquirisse direitos suficientes para conseguir sobrepor-se a D. João de
ir a Portugal e deixá-la, a pedir mercê a Vossa Alteza» - cf. carta de Martim Afonso de Sousa a D. João III, Cochim, 24.XII.1536, pub. in Martim Afonso de Sousa, dir. Luís de Albuquerque, p. 51. 434
Cf. Andreia Martins de Carvalho, Nuno da Cunha..., pp. 126-129 e 213-214. 435
Cf. supra Parte II, nota nº 431. 436
Cf. Ásia, V, viii, 5. Na versão de Gaspar Correia, terá sido em Janeiro de 1543 que Manuel de Sousa de Sepúlveda foi despachado para Diu – cf. Lendas, vol. IV, p. 266. Acha-se aqui alguma insconsistência, pois, as comissões de serviço nas fortalezas asiáticas tinham a duração prevista de três anos e o próprio fidalgo afiançou ter largado o posto em Fevereiro de 1545 – cf. carta de Manuel de Sousa de Sepúlveda a D. João III, Cochim, 15.I.1546, pub. in «Cartas de “Serviços”...», ed. Luís de Albuquerque & José Pereira da Costa, p. 368. Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
238 Mascarenhas na sucessão a Diogo Lopes de Sousa, sendo aquele há mais tempo possuidor de uma carta patente 437 .
maioria dos Sousas Chichorro credenciados em matéria de intervenção extra- europeia terão sido condicionantes principais da limitada solidariedade linhagística experimentada por Martim Afonso, ao menos porque desproveram de sentido qualquer esforço de pressão sobre a Coroa com o escopo de facilitar colocações. Sintomático a este nível revelou-se a ocorrência, até aí inusitada, de o futuro governador nem sequer ter sido acompanhado de alguém instruído para entender na capitania-mor do mar da Índia, tendo levado a cabo a totalidade do mandato sem o correspondente oficial de apoio. O cargo ficara a salvo da generalização do sistema de vagantes, pelo que daqui não resultavam constrangimentos prévios. Mas, na falta de um parente talhado pela idade e pelo percurso de vida para merecer a indicação do próprio Martim Afonso e, sobretudo, sendo-lhe conhecidas as prevenções contra a falta de sintonia pessoal entre os responsáveis de topo do Estado da Índia, torna-se fácil admitir que ele tenha prescindido do concurso do dito oficial de modo a preservar a sua independência de poder. Meras coincidências ditaram que o exercício governativo de Martim Afonso de Sousa se desenvolvesse, grosso modo, em sincronia com o emprego de primos em duas capitanias orientais. Uma já atrás foi evocada, a que ligou Manuel de Sousa de Sepúlveda a Diu, entre os anos de 1542 e 1545, o qual deu ali mostras de zelo no reforço do dispositivo militar, preparando a praça para suster uma eventual repetição da investida otomana e colhendo o
437 O texto de Diogo do Couto ampliou a voz corrente de «que aquillo fora causa da rainha D. Catharina, que favorecia muito suas cousas, porque era Castelhano, e seu pai viera com ella de Castela.» - cf. Ásia, V, viii, 5. Admitindo-se o favor da rainha, há que esclarecer que o pai do fidalgo, Diogo de Sepúlveda, tinha sido capitão da armada despedida de Portugal em 1521 e logo passou a superintender a capitania de Sofala, ainda permanecendo no Oriente ao tempo do governo de D. Henrique de Meneses – cf. Lendas, vol. II, p. 674; Ásia, III, vii, 1 e 7; Ásia, III, x, 1; e Ásia, V, iii, 8. Resulta do facto a impossibilidade de ter integrado o séquito de D. Catarina, aquando da sua transferência de um reino para o outro. Manuel de Sousa de Sepúlveda estava de sobreaviso relativamente à atribuição próxima de uma mercê desde que recebera uma carta do rei, em 1539. O fidalgo respondeu em termos pouco rogados, escrevendo «espero na virtude de V. A que ma fará e será a que se faz aos homens da minha qualidade e serviço». De concreto, aspirava à capitania de Sofala, à qual esperava aceder graças aos serviços que somara na Índia. De resto, teria fé nos apoios que proclamava dispor em Portugal – cf. carta de Manuel de Sousa de Sepúlveda a D. João III, Goa, 25.XI.1539, in IANTT, CC, I-66-40, fls. 1 e 2. Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
239 aplauso da comunidade portuguesa residente 438
. A outra esteve centralizada em Sofala e foi assumida por João de Sepúveda, de 1541 a 1544 439 . Tratava- se de uma importante posição político-estratégica, como ficou demonstrado pelos contactos diplomáticos que o fidalgo manteve com o Monomotapa, o potentado do sertão cujos recursos auríferos eram escoados para Sofala, bem como pelas excursões intimidatórias que conduziu até diversos pontos da costa suaíli, com o intuito de fragilizar os sultanatos locais, aliados do Império Otomano. Esta va o capitão aborvido por esta campanha quando recebeu aviso da chegada extemporânea de Martim Afonso de Sousa a Moçambique e da situação de debilidade, técnica e humana, em que se encontrava a armada. Desta sorte se confirmava também a mais valia da zona para providenciar refresco e escala demorada aos navios portugueses que enfrentavam contratempos na derrota para a Índia 440
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