Revista de estudos orientais


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Bibliografía:
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DIáSPORA ARmêNIA NO bRASIL
Mônica Nalbandian Marcarian*
Resumo: Na história as nações existem e desaparecem. Os Armênios existem 
no mundo nos últimos quatro mil anos. Eles contribuíram para o crescimento das 
civilizações, aceitaram o cristianismo bem no início da era cristã. No final do século 
XIX começou a sofrer sistemáticas perseguições e assassinatos. A única forma de 
sobrevivência  era  migrar  para  países  que  aceitassem  e  dessem  oportunidades  a 
imigrantes para melhorar sua vida e ter paz. Os armênios que vieram ao Brasil 
procuravam uma vida pacífica. Começaram a trabalhar nas mais diferentes áreas, 
formaram  suas  famílias  e  tornaram-se  respeitáveis  brasileiros  sem  esquecer  a 
cultura, língua e história de seus ancestrais.
Palavras-chave: sobrevivência, novos horizontes, paz, prosperidade.
Abstract: Nations existed and disappeared during history. Armenians existed 
in the world for the last four thousand years. They contributed for the growing of 
civilizations, accepted Christianity at the very beginning of Christian era. At the 
end of XIX Century Armenians began to suffer with systematic persecutions and 
assassinations. The only way of surviving was to immigrate to countries which 
accepted and gave opportunities to immigrants to improve their living and have 
peace. Armenians who came to Brazil were seeking for peaceful life. They began to 
work in many different areas, formed their families and became lawful Brazilians 
without forgetting their ancestors’ culture, language and history. 
Keywords: survival, new horizons, peace, prosperity.
Todo e qualquer texto que faça referência à Diáspora Armênia no século XX 
terá como fontes principais relatos de imigrantes armênios que foram forçados a 
emigrar de sua terra natal. Poucos são os livros que registram a formação da Diáspora 
Armênia, porém a história contada não difere tanto dos relatos já publicados por 
outros povos que sofreram perseguições e foram forçados ao exílio.
__________
*Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora Visitante da Área 
de Língua e Literatura Armênia do DLO

Mônica Nalbandian Marcarian - Diáspora Armênia no Brasil
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 No que se refere à chegada dos armênios ao Brasil, há dois livros, um em 
armênio de autoria do Arcipreste Yeznig Vartanian (1948) e outro em português de 
autoria do Reverendo Pastor Aharon Sapsezian (1988), constantes da bibliografia 
relacionada no final deste artigo. A maior parte das informações é fruto de entrevistas 
com os primeiros armênios de São Paulo, bem como de pesquisas realizadas nos 
acervos de correspondência e documentos das organizações da coletividade. 
 Para falar da Diáspora Armênia no Brasil, é necessário definir, em primeiro 
lugar,  o  que  se  entende  por  diáspora.  Segundo  o  Penguin  Atlas  of  Diasporas, 
diáspora é “a dispersão coletiva forçada de um grupo religioso ou étnico precipitado 
por um desastre freqüentemente de natureza política”.
A Nação Armênia, em sua história milenar, teve vários movimentos considerados 
diaspóricos, sendo o primeiro em 1080, rumo à Cilícia. Nos séculos XVII e XVIII, 
começa o movimento diaspórico em larga escala para a Europa, como conseqüência 
de  dominações  e  perseguições.  Cidades  como  Amsterdã,  Londres  e  Marselha 
possuem até hoje igrejas construídas naquela época, símbolos eternos da passagem 
deste povo cristão. Existem também registros de forte presença armênia na Ásia. 
A  partir  do  início  das  matanças  sistemáticas  de  armênios  nos  anos  de  1895 
e  1896,  o  movimento  diaspórico  se  intensifica  especificamente  para  os  Estados 
Unidos  da  América.  Nessa  mesma  época,  algumas  famílias  armênias  chegam 
ao  Brasil.  Segundo  VARTANIAN  (1948)  o  início  da  formação  da  coletividade 
armênia no Brasil data do final do século XIX, quando a família Gasparian chega 
a São Paulo. O patriarca da família, Gaspar Gasparian, foi o primeiro a chegar e 
trouxe aos poucos também seus sobrinhos Nazarian e Jafferian, dando início assim 
ao que hoje conhecemos como Comunidade Armênia do Brasil. Segundo relatos, 
não confirmados, Dom João VI teria contratado um engenheiro holandês de origem 
armênia que veio ao Brasil, cumpriu seu contrato e voltou à Holanda.
Os primeiros armênios que vieram de Kharpert, Armênia histórica, foram os 
pioneiros de um movimento que ganhou força nos anos 20. 
A Diáspora Armênia no Brasil se formou, verdadeiramente, no período de 1924 
a 1926, segundo VARTANIAN (1948), quando um grande número de imigrantes 
provenientes da Síria, Líbano, Egito e Turquia aportou em terras brasileiras. Eles 
eram  sobreviventes  do  Genocídio Armênio  de  1915  e  num  primeiro  momento 
tinham conseguido refúgio nos orfanatos, hospitais e casas comunitárias mantidas 
por  organizações  armênias  fundadas  especialmente  para  dar  abrigo  e  alimentar 
os armênios,  estabelecidas em cidades como Beirute, Cairo, Jerusalém, Aleppo, 
Damasco.

Revista de Estudos Orientais n. 6, pp. 109-115 - 2008
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Esses imigrantes vieram com documentos sírios, libaneses, gregos, egípcios, 
turcos, ou mesmo com o passaporte nanseniano
1
, documento expedido especialmente 
para  sobreviventes  do  genocídio  que  não  possuíam  nenhum  tipo  de  documento 
pessoal. Tratava-se de uma forma de autorização internacional, que levava o nome 
do seu criador Fridtjorf Nansen, e permitia embarcar para o destino escolhido. Na 
verdade, o destino de muitos não tinha sido nem sequer escolhido, era apenas a 
certeza de ir para a América, terra nova, de oportunidades, e não necessariamente 
ao Brasil. Essa certeza é a mesma que permeia a trama do filme América, América 
de Elia Kazan, que retrata fielmente o desejo dos imigrantes de “fazer América” 
como  diziam,  sem  sequer  saber  que  o  continente  americano  era  uma  terra  que 
abrigava culturas, raças e nações diferentes entre si.
O primeiro porto na América do Sul era o Rio de Janeiro, local onde ficaram 
vários armênios, formando uma comunidade considerável com aproximadamente 
trezentas famílias, que se organizaram em instituições e, apesar de não terem tido 
a oportunidade de construir uma igreja, ficaram unidas às denominações religiosas 
armênias de São Paulo. 
Os armênios que chegaram ao Brasil foram bem recebidos e se espalharam por 
vários estados. Os registros da comunidade demonstram que os armênios residem 
ou residiram no Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de 
Janeiro,  Rio  Grande  do  Sul,  Distrito  Federal  e  São  Paulo.  É  provável  que  haja 
armênios em outras partes do país, porém não há informações oficiais. É necessário 
lembrar  que  os  primeiros  armênios  trabalharam  como  mascates  e,  portanto, 
trilharam os caminhos do Brasil em todas as direções.
Na verdade, a comunidade armênia do Brasil, centralizada hoje em São Paulo, 
Osasco e Rio de Janeiro, é fruto da reunião de famílias que começaram sua vida 
no interior e, pouco a pouco, se estabeleceram nos grandes centros. Cidades como 
Campo Grande, Guaxupé, Uberaba, Santa Maria, Porto Alegre, São José do Rio 
Preto, Anápolis, Araçatuba, Lins, Nova Palestina, Penápolis, São Paulo, Osasco, 
Fortaleza, Rio de Janeiro são alguns exemplos. Esses locais receberam de braços 
abertos os sobreviventes do genocídio armênio e lhes deram a possibilidade de 
trabalhar, formar famílias e progredir. 
O povo armênio sempre foi grato àqueles que o ajudaram. A história demonstra 
isto. Os armênios do Brasil se organizaram, erigiram suas igrejas e templos, suas 
escolas,  suas  instituições.  Trabalharam  com  afinco  e  deram  aos  seus  filhos  a 
possibilidade de ter uma profissão, um diploma. Esses filhos começaram a trabalhar, 
tornando-se, em alguns casos, personalidades de destaque na vida do país.
1. É possível ver documentos desse tipo no acervo do Memorial do Imigrante.

Mônica Nalbandian Marcarian - Diáspora Armênia no Brasil
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Onde quer que dois armênios se encontrem, sempre haverá uma igreja e uma 
escola. No Brasil, não foi diferente. A organização da comunidade, especialmente 
em Osasco e São Paulo, é um exemplo disso. Segundo VARTANIAN (1948), já 
em  1924,  a  Igreja Apostólica Armênia  tinha  seu  representante.  Nos  anos  30,  a 
primeira igreja foi construída. Hoje existem duas igrejas: uma em Osasco e outra 
em  São  Paulo,  a  sede  da  Diocese.  Já  SAPSEZIAN  (1988)  lembra  que  a  Igreja 
Evangélica Armênia existe no Brasil desde 1931 e a Católica Armênia, desde 1935. 
A  vida  comunitária  começou  a  organizar-se  com  a  fundação  do Azkain  Turian 
Varjaran, Externato José Bonifácio, que há 79 anos educa as crianças e jovens da 
comunidade.
O  povo  armênio  sempre  se  destacou  perante  seus  vizinhos  pela  educação  e 
cultura.  Sua  história  e  cultura  milenares  são  estudadas  por  pesquisadores  de 
inúmeros países. A necessidade de manter tradições, costumes, língua e cultura 
milenares,  de  fortalecer  o  sentimento  de  armenidade  nas  gerações  nascidas  na 
diáspora, foi e é ponto de extrema importância para os armênios, daí a preocupação 
de manter escolas, cursos de língua armênia, instituições beneficentes, culturais e 
regionais.
Com o decorrer dos anos, a comunidade armênia do Brasil organizou-se em 
instituições, procurando assim locais para unir os imigrantes e seus descendentes.
Hoje, com mais de oitenta anos de existência, a comunidade tem as três igrejas, 
a  escola  já  mencionada,  cursos  de  língua  e  cultura  armênia  no  Clube Armênio 
(fundado em 1941) e na União Geral Armênia de Beneficência (fundada em 1964), 
associações culturais formadas dentro dos três históricos partidos políticos armênios, 
a Associação Beneficente de Damas Brasil Armênia e sua Casa de Repouso. Há 
também a Marachá, organização que congrega os imigrantes nascidos em Marash, 
uma das cidades que sofreram durante o genocídio, e seus descendentes.
Nenhuma nação pode perdurar sem investir nas futuras gerações. Os armênios 
sempre souberam que a existência do povo armênio na diáspora dependia dos seus 
descendentes, cidadãos natos dos países que os acolheram. A comunidade armênia 
do Brasil hoje oferece aos representantes da terceira e quarta gerações instalações 
esportivas  (dois  ginásios  de  esportes),  bibliotecas,  salas  de  reunião  para  que 
conheçam e sintam orgulho de suas raízes e percebam que são seres privilegiados, 
pois são guardiões de duas culturas, a brasileira e a armênia.
Sempre que se fala da Armênia, se pensa na distância. Porém, a comunidade 
sempre manteve laços estreitos com a Armênia. Nos 70 anos da Armênia Soviética, 
o  elo  era  o  Comitê  de  Relações  Culturais  com  os Armênios  da  Diáspora,  que 
constantemente enviava livros e materiais diversos para as escolas armênias, bem 
como  para  a  Cadeira  de  Língua  e  Literatura Armênia  da  USP,  estabelecida  em 

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1962 (segundo publicação no Diário Oficial), uma iniciativa pioneira na América 
do Sul e uma forma de divulgar a língua, literatura, cultura e história para além 
das fronteiras da comunidade. A partir de 1982, artistas e escritores da Armênia 
visitaram terras brasileiras.  A comunidade armênia teve, em duas oportunidades, 
em 1985 e 1987, a possibilidade de enviar grupos de jovens à Armênia em viagem 
cultural. 
O terremoto de dezembro de 1988 trouxe uma nova realidade à comunidade. 
Preocupada com mais um momento de extremo sofrimento na história armênia, 
a  comunidade  uniu-se  e  trabalhou  incansavelmente  para  enviar  sua  ajuda  aos 
desabrigados.  Mais  uma  vez,  o  governo  e  o  povo  brasileiro  mostraram  sua 
solidariedade e prestaram seu auxílio à comunidade, contribuindo na campanha 
nacional  para  arrecadação  de  roupas,  medicamentos  e  alimentos,  bem  como  na 
cessão de um avião da FAB para levar as mais de 40 toneladas de doações. 
Passados já 100 anos da chegada dos primeiros armênios, é possível afirmar 
que  a  comunidade  está  totalmente  inserida  na  realidade  nacional.  Há  muitos 
representantes  na  vida  política  e  econômica.  Qualquer  registro  escrito  sobre  a 
comunidade  não  esquece  personalidades  como  os  deputados  federais  Ubirajara 
Keutenedjian, Fernando Gasparian e Antonio Kandir; deputados estaduais como 
Carlos Kherlakian; Hrant Sanazar, primeiro prefeito de Osasco; ministro Antonio 
Kandir;  Pedro  Bedrossian,  governador  de  Mato  Grosso.  Na  área  diplomática, 
muitos são os que serviram ou servem no Itamaraty. Só para citar alguns: Helena 
Gasparian, Garmirian e o atual embaixador brasileiro no Uruguai Arslanian. Nas 
diferentes profissões ou segmentos econômicos do país, o sobrenome com sufixo 
-ian aparece constantemente. Nomes como Aracy Balabanian, Stephan Nercessian, 
Denis Derkian tornaram-se conhecidos do grande público através de suas atuações 
na televisão.
Há personalidades da comunidade que têm importância histórica dentro e fora do 
âmbito armênio, como é possível verificar em VARTANIAN (1960) e SAPSEZIAN 
(1994).  Comendadores  Karnig  Bazarian, André  Jafferian,  José  Distchekenian  e 
Yertchanig Kissadjikian; Dr. Simão Kerimian, Prof. Dr. Yessai Kerouzian, Prof. Dr. 
Antranig Manissadjian, Dr. Antonio Miksian e Dr. Varujan Burmaian são alguns 
desses grandes homens destacados em suas áreas de atuação.
Durante muitas décadas, talvez a única fonte de divulgação da armenidade tenha 
sido a Cadeira de Língua e Literatura Armênia. Os membros da comunidade na sua 
luta pela sobrevivência pouco fizeram para que a história e a cultura milenares 
fossem  conhecidas  em  âmbito  nacional,  a  não  ser  graças  a  algumas  exceções. 
Porém, muitos foram e são os jovens não-descendentes de armênios que conhecem 
e divulgam a história, língua e cultura armênias. 

Mônica Nalbandian Marcarian - Diáspora Armênia no Brasil
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Há poucos anos, a comunidade “despertou”, sentiu a necessidade de mostrar 
ao  país  que  existia,  e  organizou  uma  exposição  sobre  a  imigração  armênia  no 
Memorial do Imigrante. Apesar de ter sido uma das comunidades que colaboraram 
no início da existência do Memorial nos anos 90, ainda não tinha utilizado o espaço 
para divulgar sua existência. No ano de 2001, nas comemorações dos 1700 anos 
da adoção do cristianismo, a comunidade, mais uma vez, montou uma exposição 
bastante comentada. Desta vez, o intuito foi mostrar ao público que é a primeira 
nação cristã do mundo.
Em  2004,  por  ocasião  da  primeira  visita  pastoral  de  Sua  Santidade  Karekin 
II, Patriarca Supremo e Katolicós de todos os armênios, a Pinacoteca foi palco da 
Exposição dos Tesouros da Igreja Armênia, os quais a Igreja guardou através dos 
séculos e das dominações.
Em 2005, chegou o momento de mostrar ao mundo que, após noventa anos do 
genocídio, os armênios e seus descendentes continuam mantendo a cultura viva 
nos países em que se estabeleceram.
Com a independência da República da Armênia, a comunidade teve mais uma 
alegria, o estabelecimento de relações diplomáticas com o Brasil. A existência do 
Consulado Geral da República Armênia em São Paulo e a definição do local para 
futura embaixada em Brasília demonstram isso.
Hoje,  após  tantas  décadas,  a  comunidade  mostra,  por  meio  da  cultura,  da 
língua e do trabalho, que é grata ao Brasil que acolheu seus pais e avós e lhes 
deu oportunidade de progredir. A melhor forma que encontra para expressar sua 
gratidão é servir à pátria brasileira com dedicação.
Infelizmente,  como  mencionado  no  início  do  texto,  não  há  muitos  registros 
escritos sobre a vida da comunidade. A Comunidade Armênia de Osasco há pouco 
tempo organizou os documentos em uma área específica: o Clube Armênio e a 
União Geral Armênia de Beneficência estão montando seus arquivos catalogados. 
Como  fontes  de  pesquisa,  existem  hoje  também  as  bibliotecas  das  Igrejas  e  da 
escola, apesar da exígua bibliografia sobre o assunto.
Para entender os armênios e a diáspora armênia no mundo, é necessário entender 
as palavras de William Saroyan (1908 – 1981), escritor armeno-americano, aqui 
traduzidas:

Revista de Estudos Orientais n. 6, pp. 109-115 - 2008
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Gostaria de ver qualquer poder do mundo destruir essa raça, essa pequena tribo de 
pessoas pouco importantes, cujas guerras foram todas perdidas, cujas estruturas ruíram, 
cuja literatura não é lida, cuja música não é ouvida, e orações não são respondidas. Vá em 
frente, destrua a Armênia. Veja se você pode fazê-lo. Envie-os ao deserto sem pão ou água. 
Queime suas casas e igrejas. Depois, veja se eles não rirão, cantarão e rezarão novamente. 
Pois quando dois deles se encontrarem qualquer lugar do mundo, veja se não criarão uma 
nova Armênia. Saroyan, William in CHALIAUD and RAGEAU – Penguin Atlas of Diasporas 
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CHALIAUD  and  RAGEAU.  Penguin  Atlas  of  Diasporas.  Penguin  Publishing 
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Pesquisas em acervos:
Igreja Apostólica Armênia São Jorge – São Paulo
 União Geral Armênia de Beneficência – filial São Paulo
Entrevistas
Sobreviventes que vieram ao Brasil – alguns vivos ainda

117
A mULTICULTURALIDADE OTOmANA. 
ImIgRANTES jUDEUS DO
ImPéRIO OTOmANO NO bRASIL  
Rachel Mizrahi*
Resumo:  a  convocação  obrigatória  para  o  serviço  militar,  o  desemprego,  a 
pobreza  e  outros  motivos  gerados  no  fim  da  Primeira  Guerra  Mundial  levaram 
a que sefaradim e judeus-orientais emigrassem para a América. Embora o Brasil 
não fosse o local de preferência, algumas famílias desses imigrantes se instalaram 
em São Paulo e no Rio de Janeiro. Nessas cidades, sefaradim e judeus-orientais 
organizaram-se em comunidades com características distintas dos judeus de outras 
origens, que também emigraram no mesmo período. Estudos comparativos entre 
esses imigrantes nos levaram a considerações interessantes e pouco aprofundadas 
por aqueles que se dedicam aos estudos da imigração judaica no Brasil. Os dirigentes 
dessas primeiras comunidades do Oriente Médio no Brasil recepcionaram em suas 
sinagogas os imigrantes, seus conterrâneos, que chegaram a partir da década de 50 
do século XX.
Palavras-Chave:  Sefaraditas,  Judeus  Orientais,    Árabes/Otomanos,  Oriente 
Médio, Imigrantes. 
Abstract:  the  obligatory  requirement  to  join  the  Turkish  army  in  the  first 
decade of the XX th. Century, unemployment, poverty and conflicts between the 
ethnic  groups  in  the  old  Ottoman  Empire,  lead  the  Sephardim  (Jews  from  the 
Iberian Peninsula) and the Oriental Jews (Arabic-speaking Jews) to migrate to the 
Americas. Although some of these immigrants preferred to settle themselves in 
Argentina,  Uruguay  or  Chile,  a  few  families  settled  in  Rio  de  Janeiro  and  São 
Paulo. 
Sephardim from Izmir, Istambul, Rhodes Island and other places of the present 
Turkish Republic and the Oriental-Jews from Sidon, Beirut, Safed and from other 
cities of old Palestine organized themselves in communities different and distinct 
of  those  of  the  Askenazim  (Yiddish-speaking  Jews  from  Central  and  Oriental 
Europe), that migrated in that same period.
__________
* Autora de: Imigrantes Judeus do Oriente Médio em São Paulo e Rio de Janeiro. São Paulo: Ateliê Editorial, 
2003. 

Rachel Mizrahi - A Multiculturalidade Otomana...
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Comparative studies of those communities lead us to unheard of conclusions 
on  studies  on  the  Jewish  immigration  into  Brazil.  After  studying  the  Jewish 
communities in the Ottoman Empire we analysed their insertion into the Brazilian 
society.
Leaders  of  the  first  Middle-Eastern  communities  in  Brazil  received  in  their 
synagogues Jewish immigrants of their same geographic origin that immigrated into 
Brazil in the 1950’s, after conflicts started between Muslims and Jews following 
the foundation of the State of Israel.
Key  words:  Ottoman  Empire,  Multiculturality  Identity,  Imigration  Oriental 
Jew, Sefardi Jew.
Os  Otomanos,  povo  de  origem  asiática,  iniciaram  conquistas  em  direção 
à Anatólia  e  Oriente  Médio  a  partir  de  1291.  Em  1453,  depois  de  conquistar  a 
cidade de Constantinopla, capital do Império Bizantino e baluarte do cristianismo 
no Oriente, os otomanos ampliaram o domínio sobre extensas terras que iam da 
Península Balcânica ao Rio Danúbio na Europa e da Anatólia às regiões do Império 
Árabe e ao norte da África. Em meados do século XVII, absorvendo a Palestina 
e  a Arábia,  os  otomanos  atingiram  a  máxima  extensão  do  Império,  dominando 
em um único bloco terras dos Mares Negro, Egeu, Vermelho e do Golfo Pérsico, 
herdando do Islã as grandes concentrações urbanas do Oriente Médio
1
. Istambul, 
antiga Constantinopla, foi capital desse imenso Império que perdurou até pouco 
depois do final da I Grande Guerra.  
Convertidos ao islamismo e conscientes do fracasso das tentativas de imposição 
religiosa  e  cultural,  os  otomanos  posicionaram-se  nas  terras  conquistadas 
compondo uma ampla sociedade pluralista, considerando oportunas e vantajosas 
as possibilidades de riquezas advindas da tolerância
2
. Diante das diferenças étnico-
religiosas e conscientes das possíveis animosidades que poderiam surgir entre os 
habitantes do Império – muçulmanos, cristãos e judeus —, os otomanos adotaram 
um sistema administrativo conveniente
3
. Cada grupo religioso organizar-se-ia em 
1. Os 400 anos do domínio otomano podem ser sistematizados da seguinte forma: de 1300 a 1402 – período 
da ascensão do Primeiro Império; apogeu, de 1555 a 1789 e período da desagregação territorial e política do 
Império: de 1789 a 1914.
2. O Corão manifesta-se de forma clara e inequívoca sobre o judaísmo e o cristianismo, reconhecidos como 
“formas primitivas, incompletas e imperfeitas do Islã, mas depositárias de uma genuína, ainda que distorcida 
revelação divina”. In: Stillman, Norman A. The Jews of Arab Lands. A History and Source Book. Philadelphia: 
The Jewish Publication of America, 1979, p.25.
3. Os judeus apresentavam-se com vantagens quando comparados a outras minorias do Império: não ofereciam 
ameaça política, nem desafio à fé oficial e, tampouco, disputavam com os muçulmanos a adesão dos pagãos. 
Já os cristãos, praticantes de uma religião proselitista e competidora, constituíam-se em uma ameaça potencial, 
visto serem senhores de vasto Império adversário. Os positivos contatos entre otomanos e judeus permitiram 

Revista de Estudos Orientais n. 6, pp. 117-129 - 2008
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comunidades próprias e autônomas, denominadas Millet, dirigidas por um chefe 
religioso, responsável pela administração e cumprimento das leis. Além da religião, 
o responsável pela Millet cuidava dos deveres e responsabilidades dos participantes 
comunitários, da segurança coletiva e pagamento dos impostos à classe dominante 
otomana. 
A  harmonia  e  a  tranqüilidade  social  constituíam  os  principais  objetivos  do 
sistema organizado pelos otomanos, cujo poder emanava do sultão, personagem 
central que vivia em um majestoso palácio conhecido, nos círculos diplomáticos, 
como La Sublime Porte ou La Porte. O soberano constituía a chave do sistema 
otomano, ponte da lealdade entre governantes e governados. Durante quatro séculos 
este sistema funcionou e se tornou fator básico de estabilidade em distintos espaços. 
Por meio dele, diferentes grupos culturais mantiveram-se separados, reduzindo ao 
mínimo possíveis focos de conflito. Baseado nessa organização administrativa, o 
Estado Otomano estruturou-se em uma sociedade multicultural. 
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