Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas


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2.2. A capitania-mor do mar da Índia 

Compensações suplementares foram reservadas a Martim Afonso de 

Sousa e aos parentes que o tinham ajudado a projectar o Brasil. Como era 

usual, face ao carácter limitado dos recursos disponíveis no Reino e às 

necessidades mais prementes da Coroa, todas elas se traduziram em novas 

nomeações para o circuito imperial, as quais comportavam um prestígio 

superior ao da última missão, mas impunham, em definitivo, uma 

especialização no serviço marítimo ou ultramarino. 

João de Sousa Rates e Heitor de Sousa de Ataíde foram beneficiados 

com a capitania de naus da armada extraordinária que zarpou para o Oriente  

em Outubro de 1533, sob o comando de D. Pedro de Castelo Branco

158


quedando-se depois ambos às ordens do Estado da Índia. 

Pêro Lopes de Sousa foi-se mantendo próximo da orla litoral portuguesa, 

não deixando por isso de valorizar a carreira. Em 1534, estando a praça 

marroquina de Safim a enfrentar o assédio dos Saadidas, foi ele que m ganhou 

a primazia do socorro, junto com o primo coirmão Tomé de Sousa

159

. Uma 


segunda ameaça muçulmana,  em alastramento  no Norte de África e no 

                                                 

154

 Cf. carta de de D. João III a Martim Afonso de Sousa, Lisboa, 28.IX.1532, pub. in História da 



Colonização Portuguesa do Brasil, dir. Carlos Malheiro Dias, vol. III, p. 161. 

155


 Cf. António Vasconcelos de Saldanha, As Capitanias..., pp. 100-105. 

156


 Cf. Ibidem, pp. 55-56 e 330-331. 

157


 Veja-se infra capítulos 2.2., 2.3. e 3.1.  

158


 Cf. carta de D. João III a D. António de Ataíde, Évora, 13.VIII.1533, pub. in  Letters of John 

III...,  ed. J. D. M. Ford, pp. 122-123; Relação, p. 50 e  Emmenta, p. 30. Sobre os objectivos da 

armada veja-se Andreia Martins de Carvalho, «D. Pedro de Castelo Branco, Capitão de 

Ormuz», in A Nobreza e a Expansão..., coord. João Paulo Oliveira e Costa, pp. 325-326. 

159


 Cf. carta de D. António de Ataíde a D. João III, Lisboa, 21.V.1534, pub. por Frei Luís de 

Sousa,  Anais..., vol. II, p. 238 e carta de Fernão Álvares [a D. António de Ataíde], Évora, 

23.V.1534, pub. in CSL, vol. I, p. 18.   


Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

173 



Mediterrâneo Ocidental,  era a dos Turcos Otomanos, que ocuparam Tunes 

exactamente em 1534. No ano seguinte, a reacção internacional organizada 

por Carlos V contou com o apoio de uma esquadra portuguesa, da qual foram 

capitães, entre outros, Pêro Lopes e o primo Henrique de Sousa Chichorro

160



As competências náuticas e a experiência de guerra naval acumulada pelo 



segundo varão de Lopo de Sousa acabaram por tornar óbvia, em 1536, a sua 

designação para a capitania-mor da armada de guarda da costa portuguesa. A 

função era de vital importância numa fase em que o corso francês atacava na 

zona


161

, revelando-se o desempenho de Pêro Lopes bastante eficaz

162



A Martim Afonso de Sousa coube a melhor sorte, como seria de esperar. 



Em Novembro de 1533, foi catapultado para a segunda posição da hierarquia 

político-militar do Estado da Índia, a capitania-mor do mar da Índia, com um 

estipêndio fixado em 600.000 reais anuais

163


. A partida de encontro à nova 

experiência extra-europeia ocorreu a 12 de Março do ano seguinte, levando o 

fidalgo como encargo suplementar o comando supremo da armada em que 

viajou


164

A promoção de Martim Afonso de Sousa resultara óbvia em virtude do 



tipo de dignidade concedida e do complexo histórico-geográfico que lhe serviria 

de moldura. De maneira genérica, pode descrever-se o palco imperial 

português daquela época como uma justaposição de quatro cenários distintos: 

I)  O marroquino, que continuava a facultar notoriedade a quem por lá 

movesse a luta aos rivais muçulmanos, mas a custo de enfrentar o crescente 

                                                 

160

  Cf. carta de D. João III a D. António de Ataíde, Évora, 11.I.1535, pub. in  Letters of John 



III...,  ed. J. D. M. Ford, p. 196; Frei Luís de Sousa, Anais..., vol. II, p. 248 e Frei Prudencio de 

Sandoval,  Historia..., vol. II, p. 491. Em Barcelona, os dois capitães reuniram-se a outro 

membro da numerosa prole de Garcia de Sousa Chichorro, Manuel de Sousa Chichorro, o qual 

aderira à fuga terrestre protagonizada pelo infante D. Luís depois de D. João III lhe ter negado 

consentimento para se incorporar na expedição – cf. Frei Luís de Sousa, Anais..., vol. II, p. 252. 

A participação portuguesa na reconquista de Tunes foi analisada por Isabel M. R. Mendes 

Drumond Braga,  Um Espaço..., pp. 195-203 e Aude Viaud reflectiu a respeito da adesão do 

infante D. Luís ao ideal de cruzada e aos projectos de Carlos V no artigo «L’Infant D. Luís de 

Portugal», in Aquém e Além da Taprobana..., ed. Luís Filipe Thomaz, pp. 39-53. 

161


 Cf. cartas de  D. João III a D. António de Ataíde, Évora, 5.VIII.1536, 10.VIII.1536, 

12.VIII.1538, 22.VIII.1536, 3.X.1536, 10.X.1536, 12.X.1536 e 22.X.1536, pubs. in  Letters of 



John III..., ed. J. D. M. Ford, pp. 257, 259, 261-262, 280, 282, 284 e 289.  

162


 «Receby prazer  de saber como se Pero Llopez com elles ouve, que foy cõ tanto esforço e 

Recado como he a cõfianca que d’elle tenho» - cf. carta de D. João III a D. António de Ataíde, 

Évora, 2.X.1536, pub. in Ibidem, p. 279.  

163


 Cf. carta de mercê, Évora, 19.XII.1533, in IANTT, Ch. D. João III, l. 7, fl. 26 e registo de 

mercê, Évora, 10.XII.1534 [sic], pub. in RCI, vol. I, nº 270, p. 62. 

164

 Cf. Martim Afonso de Sousa, «Brevíssima e Sumária Relação...», pp. 69-70; Relação, p. 50 



Emmenta, p. 32.  

Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

174 



perigo militar dos Saadidas e os respectivos propósitos de reunificação político-

territorial, causadores das dúvidas que começaram a germinar no espírito de D. 

João III quanto à viabilidade da manutenção das praças portuguesas. 

II) O africano, maioritariamente votado ao desenvolvimento de 

actividades comerciais, com destaque para o resgate de escravos na costa da 

Guiné e de ouro na região da Mina, constituindo, precisamente, a capitania da 

fortaleza de S. Jorge o posto mais importante e susceptível de exercer atracção 

sobre a fidalg uia de carreira ultramarina. 

III) O brasileiro, no qual se descortinavam boas potencialidades ao nível 

da exploração económica, mas implicando o emprego prévio de razoáveis 

esforços humanos e materiais, bem como a superação de algumas resistências 

índias aguerridas, cujo afrontamento se afigurava  pouco prestigiante para a 

nobreza de linhagem. 

IV)  E o asiático, que concitava a maior atenção da parte da Coroa, no 

qual a presença portuguesa assentava em bases estáveis, apesar de não 

gozar da aceitação da generalidade dos potentados locais, estando por isso o 

binómio honra-proveito ao alcance da generalidade dos fidalgos que por lá se 

movimentavam, muito especialmente daqueles que partiam logo numa posição 

elevada. 

Em termos directos, Martim Afonso de Sousa ficou a dever a relevante 

nomeação aos êxitos que somara no Brasil, em particular aos de natureza 

marítimo-militar, que se esperava viessem a ser emulados nas águas do Índico. 

Importa, contudo, não descurar a influência determinante que D. António de 

Ataíde terá continuado a jogar na ascensão do primo coirmão, sempre em 

articulação com os desenvolvimentos da sua própria carreira e com os 

interesses dela decorrentes. 

No âmbito das reformas levadas a cabo por D. João III na administração 

central do Reino, a vedoria da Fazenda também foi alvo de mudanças 

significativas. Estava em vigor, desde 1516, um modelo de funcionamento 

assente numa divisão quadripartida de alçadas, a saber, Reino, Índia, África e 

Contos, confiadas à gestão de cada um dos vedores, em regime de rotação 

anual


165

. Passados dezasseis anos, o Piedoso apostou na dedicação exclusiva 

                                                 

165


 Cf. Ana Isabel Buescu, D. João III..., p. 188.  

Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

175 



dos vedores  a uma única repartição, obedecendo à seguinte distribuição: os 

assuntos de Estado ficaram sob a responsabilidade de D. Francisco de 

Portugal; D. João de Vasconcelos assumiu a tutela dos assentamentos dos 

moradores da Casa Real e das rendas do Reino; as matérias ditas de África 

(na realidade respeitantes aos domínios marroquinos) foram entregues ao 

cuidado de D. Rodrigo Lobo; e D. António de Ataíde obteve o controlo sobre as 

problemáticas relacionadas com a Índia e com as ligações comerciais à 

Flandres e aos entrepostos sub -saarianos, as quais correspondiam no conjunto 

às pastas de maior importância

166


Da leitura da documentação compulsada por J. D. M. Ford e publicada 

na colectânea  Letters of John III ressaltam, claramente, as sérias obrigações 

que passaram a marcar a actividade quotidiana de D. António: o despacho das 

esquadras da Carreira da Índia, superintendendo todos os aspectos 

relacionados com a logística, os  capitães, os pilotos, os criados da Casa Real 

embarcados e as cargas de especiarias transportadas; a preparação das 

armadas que zelavam pela segurança da navegação nas águas portuguesas e 

de outras extraordinárias, como aquelas que acudiram a Safim e a Tunes; a 

reexportação das especiarias para os mercados europeus; e o 

acompanhamento dos tratos  africanos. O favorito do rei prosseguiu, assim, 

numa senda de sucesso e de provocação de azedumes palacianos

167



consolidada, naquele mesmo ano de 1532, através da sua elevação ao título 



de 1º conde da Castanheira

168


Mandatado para dirigir a burocracia e os negócios ultramarinos, com 

particular ênfase para aqueles que estavam associados ao plano asiático, é 

natural que D. António de Ataíde tenha sido sensível ao desejo de lhes imprimir 

uma marca pessoal de influência política. O governador Nuno da Cunha havia 

sido reconduzido em 1532, meses antes de D. João III ter procedido à 

reformulação da orgânica da vedoria da Fazenda, pelo que estava excluída, a 

                                                 

166

 Cf. carta de Lope Hurtado de Mendoza a Francisco de los Cobos, Setúbal, 20.VI.1532, pub. 



in Correspondance..., ed. Aude Viaud, p. 531.  

167


 Cf. nota anterior e carta de Lope Hurtado de Mendoza a Carlos V, Lisboa, 3 e 5.IX.1532, 

pub. in Ibidem, p. 571.  

168

 Veja-se supra Parte II, nota nº 39. Observou D. António, com sagacidade: «Fez me S. A. 



Conde, e por eu ainda entaõ ser de menos idade, da q?

 

o eraõ quasi todos os passados q?



 

naõ 


socederaõ no titulo per morte de seus Pays, foy a merce grãde, e eu a tiue e tenho por tal, 

posto que alguãs pessoas viaõ que já entaõ eu cuidava no titulo de Marques, ou ao menos que 

o de Conde fosse com me S. A. dar mais huã Villa de que o fosse.» - cf. Copia..., p. 13.  


Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

176 



curto prazo, a hipótese de o fazer por via do condicionamento de uma nova 

nomeação para a chefia do Estado da Índia. 

O facto de Nuno da Cunha não ter recebido sucessor não significou que 

a sua administração tivesse equivalido a um sucesso em toda a linha. Quedava 

por cumprir um dos principais itens da ordem de trabalhos que lhe fora 

atribuída, o qual consistia na fundação de um estabelecimento português em 

Diu

169


, tendo em vista o patrulhamento mais eficaz da área estratégica do golfo 

de Cambaia, a intervenção nos lucrativos tráficos que ali eram conduzidos 

(baseados na exportação da produção têxtil local e na redistribuição de artigos 

de origem diversa) e o enfraquecimento da comunidade mercantil da região, 

cujo raio de acção alcançava boa parte da Ásia marítima

170


. Nenhum dos 

argumentos, bélicos ou diplomáticos, a que o governador lançou recurso, entre 

1531 e 1533, teve eficácia declarada

171


. Posto isto, a necessidade de superar o 

impasse para o qual resvalara a questão do Guzerate terá fornecido ao conde 

da Castanheira pretexto para sugerir a colocação na Índia de Martim Afonso de 

Sousa, na expectativa de continuar a somar créditos políticos mediante as 

soluções de comando fornecidas para acudir aos problemas do Império

172


Além da solidariedade pessoal, o primo coirmão dava-lhe como garantia a 

exibição de um porte de competência militar mais pronunciado do que o de 

Nuno da Cunha

173

. Aliás, as qualidades idealizadas pelo conde do Vimioso em 



relação ao candidato que deveria ser seleccionado para a coordenação geral 

do Estado da Índia, nos finais da década de 1520, apontavam para a 

                                                 

169


 «Nuno da Cunha como de Portugal viera encarregado de tomar Dio, ou haver nella huma 

fortaleza, e tinha já tomada sobre si esta obra, como de empreitada, a que ElRey per todas as 

Armadas que de Portugal vinham, o incitava, e que já lhe tinha custado tanto, não queria que 

ninguem nisso puzesse as mãos, nem ganhasse honra nessa empreza, senão elle.»  - cf. João 

de Barros, Ásia, IV, vi, 10.  

170


 A fim de perceber a importância marítimo-comercial do sultanato do Guzerate veja-se, por 

exemplo, Geneviève Bouchon, «Pour une Histoire du Gujarat du XVe au XVIIe Siècle», in Inde 



Découverte, Inde Retrouvée 1498-1630.  Études d’Histoire Indo-Portugaise, Lisboa-Paris

CCCG & CNCDP, 1999, pp. 359-373.  

171

 Cf.  João Paulo Oliveira e Costa & Vítor Luís Gaspar Rodrigues, Portugal y Oriente..., pp. 



192-193 e Ana Paula Menino Avelar,  Fernão Lopes de Castanheda, Historiador dos 

Portugueses na Índia ou Cronista do Governo de Nuno da Cunha?, Lisboa, Edições Cosmos, 

1997, pp. 161-164.  

172

 Gaspar Correia atribuiu, taxativamente, a ida de Martim Afonso para o Oriente a diligências 



feitas por D. António de Ataíde. Sem que se lhe possa reconhecer qualquer razão, o cronista 

advogou que a relação de ambos adquirira tons de rivalidade, daí resultando o desejo do conde 

de afastar o primo do Reino, primeiro para o Brasil e depois para a Índia  – cf. Lendas, vol. III, 

pp. 580-581.  

173

 Fica, assim, genericamente  partilhada a interpretação dos factos feita por  Andreia Martins 



de Carvalho, Nuno da Cunha..., p. 130. 

Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

177 



conciliação de aptidões militares e administrativas, mormente no sector da 

Fazenda


174

. Os estudos conduzidos por Andreia Martins de Carvalho 

demonstraram que tais critérios foram acatados pela Coroa, por ocasião da 

nomeação de Nuno da Cunha

175

. Mas, na realidade, as capacidades 



operacionais do governador tiveram resultados bem melhores na esfera 

burocrática do que na concepção e na aplicação de estratégias de guerra

176



numa sequência coerente em relação à sua anterior experiência de vida e à 



carreira do pai, Tristão da Cunha

177


 

A situação de convivência institucional a que foram constrangidos o 



governador Nuno da Cunha e o capitão-mor do mar Martim Afonso de Sousa 

não tinha, contudo, precedentes nos cerca de três de decénios de história que 

o Estado da Índia levava e, como tal, encerrava um potencial de desarmonia 

que não tardaria a declarar-se publicamente. A existência e a hierarquia 

intrínseca dos dois cargos estavam consagradas desde 1505, constatando-se 

daí em diante que ao governador em funções era reconhecido o direito, sujeito 

a ratificação régia, de sugerir o nome do capitão-mor do mar

178


. Estabeleceu-

se, assim, um mecanismo de auto-regulação de poderes, que prevenia a 

emergência de tensões bilaterais entre os dirigentes de cúpula do Estado da 

Índia e, por conseguinte, quebras de eficiência político-militar, pelo simples 

facto de os capitães-mores do mar serem homens da estrita confiança dos 

                                                 

174

 Como foi oportunamente explicado, o conde do Vimioso tinha em mente a figura do conde 



do Prado para se encarregar do governo da Índia. Antes, porém, de explicitar e justificar a sua 

preferência traçou, em abstracto, as características do governador ideal face à conjuntura 

vigente na época  – cf. carta de D. Francisco de Portugal a D. João III, s.l., 26.VIII.[1526-1528], 

in IANTT, Cartas Missivas, maço 2, doc. 137, fls. 1-1v. 

175

 Cf. «The King’s Agent in the East: the Choice of Nuno da Cunha, Governor of Portuguese 



India», in  Indo-Portuguese History…, eds.  Fátima da Silva Gracias, Celsa Pinto & Charles 

Borges, pp.117-127. O assunto foi retomado pela autora na dissertação de mestrado, Nuno da 



Cunha..., pp. 54-71.  

176


 Considere-se o bem sucedido trabalho de transformação de Goa como capital político-

administrativa do Estado da Índia, por comparação com o fracasso do acometimento da ilha de 

Bete, sobrevindo em 1531, durante a ofensiva contra Diu  – cf.  Catarina Madeira Santos, «Goa 

é a Chave de Toda a Índia». Perfil Político da Capital do Estado da Índia (1505-1570), Lisboa, 

CNCDP, 1999, pp. 144-148 e  Ana Paula Menino Avelar, Fernão Lopes de Castanheda..., pp. 

162-163. 

177


 Respeitando os padrões de conduta da fidalguia, Nuno da Cunha teve contacto com 

actividades militares desde a juventude. No entanto, seria como diplomata e como vedor da 

Fazenda de D. João III que se haveria de notabilizar. Quanto ao pai, foi manifesto o à vontade 

com que se moveu no sector dos negócios  – cf. Andreia Martins de Carvalho,  Nuno da 



Cunha..., pp. 27-41, 49-54 e Idem, «Tristão da Cunha e a Expansão Manuelina», in  A Alta 

Nobreza..., ed. João Paulo Oliveira e Costa & Vítor Luís Gaspar Rodrigues, pp. 205-224.  

178


 A mesma faculdade era aplicável ao preenchimento dos comandos de algumas das 

principais fortalezas da rede portuguesa.  



Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

178 



governadores, recrutados, na esmagadora maioria dos casos, no seio das 

respectivas parentelas

179



 



Decorrido um mês sobre a data em que saíra da barra de Lisboa e sem 

sequer ter cruzado a linha equatorial do Atlântico, já Martim Afonso de Sousa 

dava vazão às reservas que lhe eram inspiradas pelo carácter inusitado da 

posição que ia assumir na Índia, deixando adivinhar a relação delicada que iria 

manter com Nuno da Cunha, ao longo dos quatro anos vindouros

180


. A mesma 

sensação de incómodo deve ter afligido o governador desde que o novo 

capitão-mor do mar desembarcou em Goa e tomou posse do cargo, em 

Setembro de 1534

181

. Nenhum problema de ordem pessoal afectava a priori o 



                                                 

179


  O vice-rei D. Francisco de Almeida (1505-1509) elegeu o filho D. Lourenço de Almeida. 

Afonso de Albuquerque (1509-1515) teve primeiro a colaboração de um apoiante fiel, Manuel 

de Lacerda, e depois do sobrinho D. Garcia de Noronha. Lopo Soares de Albergaria (1515-

1518) e Diogo Lopes de Sequeira (1518-1521) optaram pelo concurso de D. Aleixo de 

Meneses, de quem eram, respectivamente, tio e primo. D. Duarte de Meneses (1521-1524) 

socorreu-se do irmão D. Luís de Meneses. A escolha de D. Vasco da Gama (1524) recaiu 

sobre o filho D. Estevão da Gama. D. Henrique de Meneses (1524-1526) designou o primo D. 

Simão de Meneses. António Miranda de Azevedo constituiu um caso particular, sem ligações 

de parentesco a D. Henrique de Meneses, a quem serviu de capitão-mor do mar a partir dos 

fins de 1525 ou inícios de 1526, mantendo-se no lugar enquanto o governo da Índia foi 

disputado entre Pêro Mascarenhas e Lopo Vaz de Sampaio. Por fim, Nuno da Cunha (1529-

1538) saiu de Portugal, estando previsto que o irmão Simão da Cunha viesse a ocupar-se da 

capitania-mor do mar. Confrontado com a morte precoce deste, o governador convocou para o 

mesmo exercício o cunhado Diogo da Silveira, que se manteve no lugar até à chegada de 

Martim Afonso de Sousa, em 1534. As interacções familiares descritas foram alvo de análise 

da seguinte bibliografia, havendo vários títulos entre ela que reflectem, de forma mais 

abrangente, sobre o peso das relações de parentesco na organização política do Estado da 

Índia: Joaquim Candeias da Silvas, O Fundador..., pp. 112-113; Alexandra Pelúcia, «Manuel de 

Lacerda: Guerreiro e Naufrago», in A Nobreza e a Expansão..., coord. João Paulo Oliveira e 

Costa, pp. 262-263; André Pinto de Sousa Dias Teixeira, «Uma Linhagem...», in  A Alta 



Nobreza..., ed. João Paulo Oliveira e Costa & Vítor Luís Gaspar Rodrigues, pp. 147-151; 

Alexandra Pelúcia, «A Baronia do Alvito...», in  Ibidem, p. 294; Teresa Lacerda, «Os Meneses 

de Cantanhede e o Projecto Manuelino», in  Ibidem, pp. 84-89; João Paulo Oliveira e Costa, 

«Dom Duarte de Meneses and the Government of India (1521-1524)», in  Indo-Portuguese 


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