Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas


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PARTE I 

LINHAGEM E PODER 

(MEADOS DO SÉC. XIII – 1º QUARTEL DO SÉC. XVI) 

 

 



«A minha geração (des que há Reis em Portugal) foi sempre das mais 

 honradas do Reyno, e ouve sempre nella muitos honrados homens». 

Carta de Aleixo de Sousa Chichorro a D. João de Castro (1545) 


Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

 

30 



 

1.1. A Identidade Linhagística dos Sousas Chichorro 

A 9 de Fevereiro de 1516, D. Jaime, 4º duque de Bragança, escreveu 

e despachou, a partir de Vila Viçosa, uma missiva dirigida ao seu tio e rei D. 

Manuel I


1

. O documento terá sido recebido escasso tempo depois na corte 

portuguesa, que então estanciava em Almeirim

2

. Era constituído por breves 



linhas e subordinava -se, em exclusivo, a um tema que, do ponto de vista da 

condução dos negócios do Estado, poderia ser qualificado como um mero 



fait-divers. Não obstante, o mesmo reveste-se de uma particularidade 

interessante, pois, por aquela via, a figura de Martim Afonso de Sousa, bem 

como a faceta voluntariosa da sua personalidade, ganhavam, pela primeira 

vez, evidência pública e histórica.  

D. Jaime informava o soberano de que, naquele exacto dia, recebera a 

visita inesperada de Martim Afonso. O fidalgo tomava o rumo de Castela e, 

de caminho, passara pelo paço ducal, presumivelmente em busca do 

consentimento formal do patrono da sua família mais chegada

3



Aparentemente desprovido de argumentos persuasivos para o impedir de 



seguir viagem, o duque convenceu-o a permanecer junto de si durante alguns 

dias, aguardando a manifestação de instância superior. Perante o monarca, 

D. Jaime justificava a necessidade e a urgência de intervenção, afirmando 

«lenbro a Vossa Alteza quanto seu serviço he nom deixar hum homem de 

tanto serviço e de tais qualidades e perde lo de seu serviço Vosa Alteza me 

mande responder com brevidade porque nom sey o que mais querera 

esperar.»

4



As interrogações  que ocorrem de imediato prendem-se com o motivo 

que dispôs o duque a preocupar-se com o destino de um  jovem

5

 e, tão ou 



                                                 

1

 O texto original omite a referência ao ano da redacção, constando apenas uma menção ao 



ano de 1515 no respectivo resumo  – cf. IANTT, Gavetas, XV-14-14; pub. in GTT, vol. IV, p. 

461. Em função dessa circunstância e da matéria exposta infra, na Parte I, nota nº 4, é minha 

convicção, no entanto, que a produção datará antes de 1516.  

2

 Cf. João Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel I..., p. 268 



3

 Assunto a merecer desenvolvimento nos capítulos 1.2. e 1.3. 

4

 Cf. carta de D. Jaime a D. Manuel I, Vila Viçosa, 9.II.[1516], pub. in GTT, vol. IV, p. 461. 



5

 «Eu comecei de servir El-Rei Nosso Senhor [D. João III], que santa glória haja, sendo 

príncipe, de idade de dezasseis anos, e na era de dezasseis, que agora faz quarenta e um 

anos»  - cf. Martim Afonso de Sousa, «Brevíssima e Sumária Relação que fez da sua vida e 

obras o grande Martim Afonso de Sousa», redigida em 1557 e endereçada à rainha D. 

Catarina, pub. in  Martim Afonso de Sousa, dir. Luís de Albuquerque, Lisboa, Publicações 

Alfa, 1989, p. 67. A idade e a data de nascimento de Martim Afonso de Sousa são 

corroboradas por outro documento, lavrado em 1520, que lhe apontava então a condição de 



Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

  31 


 

mais intrigante, que argumentos o autorizavam a supor que D. Manuel 

dedicaria atenção ao caso? O contexto não era, certamente, o mais propício 

ao atendimento da solicitação. Além dos assuntos de gestão corrente do 

Reino, precisamente por aquela época, o Venturoso continuava preocupado 

com os destinos do Estado da Índia, congeminando sub terfúgios susceptíveis 

de  devolver o governo a Afonso de Albuquerque em detrimento do recém-

empossado Lopo Soares. O meio cortesão nacional vivia ainda no rescaldo 

do braço-de-ferro, que estalara no ano transacto, entre ideologias e 

interesses divergentes em relação ao modelo de desenvolvimento da 

presença portuguesa no Índico e nas regiões bordejantes

6

.  De Castela 



também não chegavam boas novas. Primeiro a doença e, por fim, a morte de 

Fernando, o Católico, deixavam pairar um espectro de larga e perturbadora 

incerteza quanto ao futuro político do reino vizinho, a merecer particular 

cuidado da parte da Coroa portuguesa

7



A verdade é que, em função do testemunho indirecto do protagonista 



da questão, dando conta da sua entrada no círculo de apoio ao príncipe 

herdeiro


8

, adivinha -se que  o assunto mereceu a atenção positiva de D. 

Manuel, além de que fica descartada qualquer hipótese de homonímia a 

envolver a situação

9



A atitude do rei caucionou, assim, a pertinência da iniciativa do duque 



de Bragança. A um outro nível, mais significativo, é de crer que a atenção de 

ambos  se explique, não tanto  pela valorização pessoal de um mero jovem 

promissor, como pelo apreço dedicado à linhagem dos Sousas Chichorro, na 

qual se filiava Martim Afonso. Pela primeira vez na sua vida, o fidalgo teria 

                                                                                                                                            

menor de vinte anos – cf. Escritura de concerto e obrigação, Évora, 28-V I-1520 (inserta em 

alvará régio, Évora, 2.VII.1520), pub. in  História da Colonização Portuguesa do Brasil, dir. 

Carlos Malheiro Dias, vol. III, p. 159. 

6

 Cf. Alexandra Pelúcia, «A Baronia do Alvito e a Expansão Manuelina no Oriente ou a 



Reacção Organizada à Política Imperialista», in  A Alta Nobreza..., ed. João Paulo Oliveira e 

Costa & Vítor Luís Gaspar Rodrigues, pp. 284-295. De uma forma mais genérica, a temática 

foi explorada por Luís Filipe Thomaz, «L’Idée Impériale Manueline», in  La Découverte, le 

Portugal et l’Europe, Paris, FCG, 1990, pp. 35-103 e «A “Política Oriental” de Manuel e suas 

Contracorrentes», in De Ceuta a Timor, pp. 189-206.  

7

 Cf. João Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel I..., p. 195. 



8

 Martim Afonso de Sousa foi admitido ao serviço da Coroa ainda no decurso daquele ano  – 

veja-se supra Parte I, nota nº 4.  

9

  Por aquela altura, entre os membros vivos da sua linhagem, o fidalgo contava com dois 



primos a responderem por nome igual: um bisneto do tio-avô Fernão de Sousa, que também 

se encontrava no círculo de apaniguados da Casa de Bragança, e um neto do tio-avô João 

de Sousa – Veja-se o Anexo Genealógico nº. II e V. 


Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

 

32 



 

apreendido, em termos práticos, que em Portugal, à semelhança das 

restantes sociedades europeias de natureza corporativa

10

, o sucesso da 



carreira individual articulava-se estreitamente com a visibilidade e a 

importância do grupo social e familiar, construídas e cimentadas ao longo do 

tempo, graças aos esforços de sucessivas gerações, delas se dependendo 

bastante para manter um papel coadjuvante na acção governativa e ganhar 

acesso a oportunidades relevantes, sempre com a responsabilidade de 

assumir bons desempenhos para os voltar a potenciar, em benefício privado, 

dos membros mais desfavorecidos e dos elementos vindouros da linhagem. 

Enquanto unidades de organização sócio-familiar, as linhagens 

estruturavam-se a partir de um conjunto de símbolos, que se associavam a 

esquemas mentais de representação e definiam, de modo indelével, 

consciente e intergeracional, a reputação do grupo e a identidade comum dos 

agregados

11

. Daí resultava o reconhecimento da especificidade que lhes 



assistia, por parte dos pares e da generalidade da sociedade, mas também 

pelos próprios, que ficavam, assim, aptos a desenvolver sentimentos de 

coesão interna. O núcleo principal desses símbolos resumia-se a um 

triunvirato baseado no nome, no brasão de armas e no património 

acumulado, tanto numa  vertente imobiliária como funcional. Numa 

perspectiva abrangente, a percepção da linhagem repousava ainda na 

fundação de capelas e de panteões funerários, na realização de  sufrágios 

religiosos dos antepassados, na produção de genealogias e de crónicas 

                                                 

10

 Sobre a concepção corporativa sigo João Cordeiro Pereira, «A Estrutura...», in  Nova 



História de Portugal, dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, vol. V,  coord. João José 

Alves Dias, pp. 283-284; José Martínez Millán, «Introducción: la Investigación sobre las Elites 

del Poder», in Instituciones y Elites de Poder en la Monarquia Hispana Durante el Siglo XVI

ed. José Martínez Millán, Madrid, Ediciones de la Universidad Autónoma de Madrid, 1992, 

pp. 14-15; Álvaro Fernández de Córdoba Mirales, La Corte de Isabel I. Ritos y Ceremonias 

de una Reina (1474-1504), Madrid, Dykinson, 2002, p. 32; e António Manuel Hespanha, 

Poder e Instituições no Antigo Regime. Guia de Estudo, Lisboa, Edições Cosmos, 1992, pp. 

35-58.   

11

 No que toca à consciência de linhagem baseio-me, largamente, nos trabalhos de Isabel 



Beceiro Pita & Ricardo Cordoba de la Llave,  Parentesco, Poder y Mentalidad.  La Nobleza 

Castellana, Siglos XII-XV, Madrid, CSIC, 1990, pp. 75-82, 88-10; Michel Nassiet, «Nom et 

Blason. Un discours de la Filiation et de l’Alliance (XIVe-XVIIIe Siècle)», in  L’Homme 129,  

XXXIV (1), Janeiro-Março 1994, pp. 5-30; Idem, Parenté..., pp. 29-45 ; e  Maria de Lurdes 

Rosa,  O Morgadio....  Foram ainda úteis os apontamentos produzidos em torno do assunto 

por José Enrique Ruiz-Doménec,  El Gran Capitán.  Retrato de una Época, Barcelona, 

Ediciones Península, 2002, pp. 76-78 e Rudolf Braun, «Staying on Top: Socio-Cultural 

Reproduction of European Power Elites», in  Power Elites and State Building, dir. Wolfgang 

Reinhard, Oxford, European Science Foundation & Clarendon Press, 1996, pp. 235, 247, 

257.  


Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

  33 


 

particulares  e  na conservação de  objectos raros e valiosos.  Em suma, em 

tudo aquilo susceptível de proporcionar distinção e prestígio. Se a 

transmissão da dimensão material corria de par com a sucessão jurídica na 

herança, favorecendo prioritariamente os varões  legítimos e primogénitos, já 

a perpetuação dos atributos nominativos e heráldicos e a interiorização da 

ideologia de linhagem, além de mais  igualitária, porque acessível à 

generalidade dos consanguíneos, era assegurada através dos mecanismos 

da rememoração oral e da prática de solidariedade no seio do grupo. 

No Portugal manuelino encontravam-se espelhadas várias marcas 

sobre as quais se alicerçava o renome público e o sentido de linhagem dos 

Sousas Chichorro. A origem de algumas perdia-se na própria memória do 

Reino e com ela se confundia, conferindo uma fonte acrescida de honra aos 

componentes do grupo, em razão da antiguidade da nobreza de sangue que 

lhes assistia, por direito imperativo

12

. É, pois, de crer que Martim Afonso de 



Sousa fosse um fidalgo extremamente orgulhoso das suas raízes e cioso do 

respeito devido às mesmas. Sendo necessário, para defender a sua honra ou 

legitimar pretensões especiais, ele deveria estar em plenas condições de 

desfiar a história familiar, à semelhança daquilo que haveriam de fazer alguns  

fidalgos contemporâneos

13

 e até  o primo  Aleixo de Sousa Chichorro. Com 



efeito, escrevendo ao recém-empossado governador da Índia D. João de 

Castro,  num  delicadíssimo contexto de deterioração de relações pessoais, 

que «sou de melhor relée que vós, e que a minha geração (des que há Reis 

em Portugal) foi sempre das mais honradas do Reyno, e ouve sempre nella 

muitos honrados homens»

14

, Aleixo deixou implícito o  conhecimento de um 



vasto e impressionante rol de antepassados,  feitos e símbolos, que teriam 

                                                 

12

 Em última análise, a antiguidade da linhagem servia como um dos principais factores de 



hierarquização interna da nobreza  – cf. Isabel Beceiro Pita & Ricardo Córdoba de la Llave, 

Parentesco..., pp. 98-100 e Michel Nassiet, Parenté..., pp. 32, 118. 

13

 Encarcerado em Lisboa, nos inícios da década de 1530, após ter sido desalojado do 



governo da Índia, Lopo Vaz de Sampaio elaborou uma defesa pessoal que não negligenciou 

a identificação dos seus ascendentes, tanto paternos como maternos, e dos serviços por eles 

prestados  – cf. Diogo do Couto,  Ásia, IV, vi, 7. Já Vasco da Cunha, após ter recusado a 

nomeação para a capitania de Chaul, evocou a sucessão e a qualidade da respectiva estirpe 

com o propósito exclusivo de legitimar a pretensão de aceder ao topo da hierarquia do 

Estado da Índia – cf. carta de Vasco da Cunha a D. João III, Goa, 6.XI.1544, pub. in «Cartas 

de “Serviços” da Índia (1500-1550)», ed. Luís de Albuquerque & José Pereira da Costa, in 

Mare Liberum, nº 1, Lisboa, CNCDP, 1990, p. 347. 

14

 Cf. Carta de Aleixo de Sousa a D. João de Castro, (?) Novembro de 1545, pub. in  Obras



vol. IV, p. 4. 

Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

 

34 



 

constituído parte importante do seu processo formativo e do dos restantes 

membros da linhagem, ajudando a moldar-lhes a identidade, a têmpera e até 

a ambição.  

A evidência em maior destaque era a da continuidade do apelido, 

resultado de uma construção que extravasara do mero campo biológico para 

o domínio político-social. Os Sousas de Quinhentos eram os descendentes 

homónimos daquela que se afirmou, segundo as palavras de Odília Gameiro, 

como «a mais prestigiada e poderosa das famílias fundacionais da nobreza 

tradicional portuguesa»

15

.  A sua existência e acção destacada remonta  aos 



finais do século IX

16

, embora tenha sido apenas nos finais da década de 1120 



que a linhagem adoptou o apelido que lhe deu fama para a posteridade, na 

sequência da fixação e da instituição de honras na região envolvente do rio 

Sousa

17

. A presença na corte do condado Portucalense e o apoio prestado a 



D. Afonso Henriques no movimento de formação do Reino deram ensejo à 

conquista  de  um estatuto invejável a todos os níveis, que se manteria nos 

reinados seguintes, não obstante choques pontuais com o poder real

18



graças à magnitude do património fundiário granjeado

19

, ao desempenho de 



funções cruciais  de índole militar, palatina e administrativa

20

, e inclusive à 



atribuição do título de conde em proveito das figuras de Mendo Gonçalves de 

Sousa (último quartel do século XII)

21

 e de Gonçalo Garcia de Sousa (1273-



1284/1285)

22

.    



 

O século XIII afigurou-se uma época de conturbação interna para os 

Sousas, fruto de uma sucessão de mortes e de incidentes, que exigiram a 

promoção de vários ramos secundogénitos de modo a preservar a varonia da 

representação. A situação culminou na extinção da linha masculina da 

                                                 

15

 Cf. Odília Filomena Alves Gameiro, A Construção das Memórias Nobiliárquicas Medievais. 



O Passado da Linhagem dos Senhores de Sousa, Lisboa, Sociedade Histórica da 

Independência de Portugal, 2000, p. 140. Sobre a importância da família, em jeito de síntese, 

veja-se José Mattoso, «A Sociedade Feudal e Senhorial», in  História de Portugal, dir. José 

Mattoso, vol. II, coord. José Mattoso, pp. 179-180. 

16

 Cf. Odília Filomena Alves Gameiro, A Construção..., p. 19.  



17

 Cf. Ibidem, p. 58. 

18

 A análise pormenorizada da evolução política da linhagem consta in Ibidem, pp. 19-25.  



19

 Cf. Ibidem, pp. 26-46. 

20

 Entre os governos de D. Afonso Henriques e de D. Afonso III, os cargos de alferes-mor e 



de mordomo-mor foram entregues com regularidade a membros desta linhagem, acrescendo 

ainda o governo de tenências concedidas pela Coroa – cf. Ibidem, pp. 46-57. 

21

 Cf. Ibidem, p. 22. 



22

 Cf. Ibidem, pp. 24-25. 



Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

  35 


 

linhagem, nos meados da década de 1280, em face da morte, sem geração, 

do conde Gonçalo Garcia

23

. A sobrevivência da herança, da memória e do 



nome dos Sousas acabou por ficar sob a responsabilidade da descendência 

feminina de Mem Garcia de Sousa, irmão de Gonçalo, a quem coubera a 

liderança da linhagem entre 1242 e 1255. 

 

Mem Garcia gerara, pelo menos, três filhos que atingiram a idade 



adulta, incluindo um varão. Este, de nome Gonçalo Mendes de Sousa, 

sucedeu ao pai, mas abandonou definitivamente a posição e o Reino, no ano 

de 1262,  após ter abusado sexualmente da mais velha das irmãs, D. Maria 

Mendes de Sousa, segundo insinuação dos livros de linhagens medievais. 

Seja como for,  esta foi desposada  pelo rico-homem Lourenço Soares de 

Valadares,  vingando como único rebento do enlace D. Inês Lourenço de 

Valadares

24

. Por seu lado, a segunda filha de Mem Garcia, D. Consta nça 



Mendes de Sousa, casou com  Pedro Martins de Portel e deu à luz João 

Peres (o qual não deixaria  prole), D. Branca Peres e D. Maria Peres 

Ribeira

25

.   



 

À morte do conde Gonçalo Garcia, a galeria de personagens referidas 

disputou entre si a  valiosa herança Sousa, impondo-se a intervenção 

reguladora da Coroa para dirimir a pendência

26

. Daí resultou o privilégio 



notório das pretensões da secundogénita D. Constança

27

, sem que se 



tornasse evidente a causa da opção

28



 

A importância dos Sousas e do respectivo legado determinou que as 

netas de Mem Garcia se constituíssem como partidos apetecíveis no seio da 

estratégia matrimonial da realeza portuguesa, em particular num manifesto 

contexto de centralização do poder e de esforço de  controlo das principais 

linhagens do Reino

29

. O primeiro sinal disso foram os dois casamentos de D. 



                                                 

23

 Cf. Ibidem, pp. 22-25.  



24

 Cf. Brasões, vol. I, pp. 206-207. 

25

 Cf. Ibidem, vol. I, pp. 206 e 263-271. 



26

 Cf. Luís Krus, «D. Dinis e a Herança dos Sousas. O Inquérito Régio de 1287», in Estudos 



Medievais, nº 10, Porto, Secretaria de Estado da Cultura/Delegação Regional do Norte & 

Centro de Estudos Humanísticos, 1993, pp. 119-158.  

27

 Cf.


 

Brasões, vol. I, pp. 202 e 278.

 

28



 Anselmo Braancamp Freire sugere como hipóteses explicativas da negligência a que 

foram votados os interesses de D. Maria Mendes a sua eventual morte, entretanto ocorrida, 

ou a desonra de que fora vítima – cf. Brasões, vol. I, p. 206.  

29

 Cf. Odília Filomena Alves Gameiro, A Construção..., p. 166 e José Augusto de Sotto Mayor 



Pizarro, D. Dinis, s.l., Círculo de Leitores, 2005, pp. 224, 238. 

Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

 

36 



 

Leonor Afonso, bastarda de D. Afonso III, sucessivamente promovidos com 

indivíduos que, à data da realização dos esponsais, eram detentores da Casa 

senhorial em apreço

30

.  Foram depois  celebradas  uniões entre outros filhos 



ilegítimos do  Bolonhês  e as  representantes sobreviventes da  linhagem, a 

saber, entre Martim Afonso Chichorro e D. Inês Lourenço de Valadares; entre 

Afonso Dinis e D. Maria Peres Ribeira; bem como de um terceiro bastardo de 

estirpe real, Pedro  Afonso, concebido por D. Dinis e  futuro 3º conde de 

Barcelos, com D. Branca Peres

31

. Não tendo vingado a progénie da última 



união

32

, lograram as restantes dar seguimento à primitiva linhagem dos 



Sousas através do florescimento de duas linhas autónomas, doravante 

designadas como Sousas Chichorro

33

 e Sousas de Arronches



34

 



No caso dos primeiros, a geração original foi protagonizada pelo varão 

Martim Afonso Chichorro que, nas qualidades de sucessor do pai homónimo 

e de D. Inês Lourenço de Valadares, de neto de D. Afonso III e de sobrinho 

de D. Dinis, fruiu de um lugar reservado nas fileiras da alta nobreza. A sua 

elevação era aferida, social e politicamente, através dos estatutos de rico-

homem e de membro do Conselho que assistia o régio tio

35

, assim como, 



economicamente, por meio dos domínios territoriais que acumulou, nos quais 

                                                 

30

 

Cf. Odília Filomena Alves Gameiro, A Construção..., pp. 24 e 167



 

31

 Cf. Brasões, vol. I, pp. 207, 263 e 274; Odília Filomena Alves Gameiro, A Construção..., p. 



166. José Augusto de Sotto Mayor Pizarro evoca a saliência dos três bastardos régios, in  D. 


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