Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
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247 Antes mesmo das conversações que antecederam a batalha de Toro, Rui de Sousa fora enviado a Castela, em 1474, com o intuito de solicitar à recém entronizada D. Isabel a entrega do Reino a D. Joana – cf. Fernando del Pulgar, Crónica de los Reyes Católicos, vol. I, Madrid, Espasa-Calpe, 1943, pp. 95-99. 248
Cf. Garcia de Resende, Crónica..., p. 42 e Rui de Pina, «Chronica d’ElRei Dom João II», in Crónicas, p. 905. Sobre as relações anglo-portuguesas neste período veja-se a obra de Consuelo Varela, Ingleses en España y Portugal, 1480-1515: Aristocratas, Mercaderes y Impostores, Lisboa, Edições Colibri, 1998. 249
Cf. Garcia de Resende, Crónica..., p. 126 e Rui de Pina, «Chronica d’ElRei Dom João II», p. 960.
250 Cf. 1º e 2º Tratados de Tordesilhas, 7.VI.1494, pubs. in Descobrimentos Portugueses..., dir. João Martins da Silva Marques, vol. III, pp. 432-440, 446-453; Garcia de Resende,
e Alonso de Santa Cruz, Crónica de los Reyes Católicos, vol. I, Sevilha, Escuela de Estudios Hispano-Americanos de Sevilla, 1951, pp. 108-110.
Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I
78 em Évora, entre os finais de Novembro e os inícios de Dezembro de 1490 251 .
O acontecimento congregou a presença de vários filiados na linhagem. Terá, aliás, constituído excelente oportunidade para a auto-promoção de Rui de Sousa e da respectiva descendência, pois, se o monarca sempre se mostrou bastante comedido na criação de novos títulos nobiliárquicos 252 , ao
menos distinguira-os, no anterior mês de Fevereiro, com o prestigiado estatuto de Dom 253 . Além do senhor de Beringel e do seu varão D. Pedro de Sousa 254
, tiveram estadia atestada em Évora o seu irmão e antigo capitão dos ginetes do infante D. Fernando, João de Sousa, e os seus sobrinhos Garcia de Sousa Chichorro, filho legitimado de Vasco Martins 255
, e Gonçalo de Sousa, o Lavrador, filho de Pêro de Sousa 256 . É de admitir que tivessem estado todos junto de outros parentes, cujos nomes não foram guardados na memória colectiva . Uma ausência, porém, foi segura e evidente, precisamente, a de Pêro de Sousa.
À semelhança dos restantes varões de Martim Afonso de Sousa, Pêro não sentiu dificuldades de maior no desenvolvimento de uma trajectória fidalga digna. À morte do pai, D. Afonso V fez-lhe rápida mercê do cargo de
251
Cf. Luís Adão da Fonseca, D. João II, pp. 197-203 252
Cf. Brasões, vol. III, pp. 330-343. 253
Cf. Ibidem, vol. I, pp. 214-215. Foi neste contexto que João Rodrigues de Sousa adoptou a identidade mais aristocrática de D. João de Sousa. A respeito da importância da forma de tratamento em questão veja-se Joaquim Romero de Magalhães, «A Sociedade», in História
254
Cf. Garcia de Resende, Crónica…, p. 186. Antes de o ano findar, saiu do porto de Lisboa uma arma da com destino ao Congo, cujas figuras de proa eram o capitão-mor Gonçalo de Sousa e o embaixador D. João da Silva. A morte de ambos, no decurso da viagem, obrigou à escolha in situ de um novo dirigente, recaindo a responsabilidade sobre um parente do falecido capitão-mor, de seu nome, Rui de Sousa – cf. Rui de Pina, «Chronica d’ElRei Dom João II», pp. 996-997 e Ásia, I, iii, 9. Estes Sousas também pertenceriam à estirpe Chichorro, por descendência bastarda de Gonçalo Anes de Sousa (cf. supra Introdução, nota nº 46), sendo de referir que o dito Rui teria sido o primeiro marido de D. Violante de Távora, tia paterna do futuro governador da Índia, Martim Afonso de Sousa, e mãe de D. António de Ataíde, 1º conde da Castanheira – cf. Andreia Martins de Carvalho & Alexandra Pelúcia, «Os Primeiros Fidalgos...», pp. 137-138 e Anexo Genealógico nº VII. A homonímia verificada em relação a Rui de Sousa, senhor de Beringel, explica que, erroneamente, seja dada como adquirida a participação do segundo na empresa ultramarina – cf. Humberto Baquero Moreno, «Dois Negociadores do Tratado de Tordesilhas: Rui de Sousa e João de Sousa», in Oceanos, nº 18, Tordesilhas: a Partilha do Mundo, Lisboa, CNCDP, 1994, pp. 12-14. Resulta, igualmente, em engano a eventual associação do Gonçalo de Sousa da expedição em causa ao homónimo, filho de Pêro de Sousa e sobrinho de Rui de Sousa, cuja morte ocorreu, garantidamente, em 1516 – veja-se supra p. 42 e o Anexo Genealógico nº VII. 255 Cf. carta de legitimação, Lisboa, 3.VIII.1471, in IANTT, Ch. de D. Afonso V, l. 22, fl. 1v. Veja-se o Anexo Genealógico nº IV. 256
Cf. Garcia de Resende, Crónica…, p. 186 e Brasões, vol. III, pp. 129-130. Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 79
vedor-mor das obras reais em Trás-os-Montes. Em 1462, conti nuava destacado naquela região, mas investido em ofício de maior responsabilidade, a alcaidaria-mor das coisas defesas, que lhe conferia alçada para perseguir as actividades de contrabando, que deviam enxamear pela linha de fronteira 257 . Tempos depois, em data incerta, foi alvo de uma clara elevação, manifestada pelo provimento na vedoria da Casa do Africano, posição da qual veio a ser afastado, com seu total acordo, em 1475, durante a estadia do rei em Castela 258
. A atitude de «prazer e consentimento» que, segundo Rui de Pina, demonstrou Pêro de Sousa, a propósito, talvez encontrasse explicação na vontade em se instalar no senhorio do Prado, que lhe foi reconhecido na mesma época 259 . A verdade é que a sua existência foi apagada nos anos seguintes, apenas perturbada pelo forte abalo político- social que assolou o Reino em 1483, quando D. João II ordenou a prisão de D. Fernando, 3º duque de Bragança, acusado de congeminar um crime de lesa-magestade, pelo qual conheceria uma rápida condenação à pena capital.
Rezam as notícias coevas que, sendo surpreendida pelo acontecimento em Vila Viçosa, a duquesa D. Isabel acautelou a imediata segurança dos filhos varões, os pequenos D. Filipe, D. Jaime e D. Dinis, despachando-os para a corte castelhana «e com elles fidalgos de sua casa» 260
. Pêro de Sousa foi um daqueles compelidos a decidir sobre o sentido último da sua fidelidade pessoal, a optar entre a perseverança do apoio aos Braganças e a quebra da lealdade devida ao rei, implicando esta,
257 Cf. carta de nomeação, Tentúgal, 13.IX.1462, in IANTT, Ch. de D. Afonso V, l. 1, fl. 67v. A actividade era ainda designada como alcaidaria-mor das sacas – cf. Gastão de Mello de Mattos, s.v. «Alcaide», in Dicionário de História de Portugal, vol. I, p. 81. 258 Cf. Rui de Pina, «Chronica do Senhor Rey D. Affonso V», p. 835. O abandono do serviço mais directo do monarca, em benefício de João de Porras, é confirmado pela Chancelaria Real, na qual se conserva registo de uma tença de 48.800 reais, atribuída a título de compensação. Contudo, de acordo com esse documento, o ofício em causa era o de mordomo da Casa Real – cf. carta de tença a Pêro de Sousa, Arevalo, ?.X.1475, in IANTT, Ch. de D. Afonso V, l. 30, fl. 2. A experiência anteriormente acumulada pelo fidalgo nas vedorias do marquês de Valença e das obras reais de Trás -os-Montes afigura-se, todavia, menos consonante com a mordomia do que com a vedoria da Casa Real, não sendo de excluir a hipótese de lapso por parte do escrivão que redigiu o referido documento. É, no entanto, certo que também a mordomia-mor foi alvo de mudanças naquela altura – cf.
259
Cf. supra p. 50. 260
Cf. Garcia de Resende, Crónica…, p. 62. Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I
80 além de perdas patrimoniais e políticas já avaliadas 261 , uma possível deterioração do contacto com os restantes Sousas Chichorro, em virtude da mácula aportada à honra da linhagem 262 .
Não é de excluir, de resto, que tenha havido mais figuras incomodadas no seio da estirpe, em face das drásticas soluções encontradas por D. João II para superar a crise de relacionamento entre a Coroa e a aristocracia nacional. Seria o caso dos descendentes de Fernão de Sousa, também eles vinculados à Casa de Bragança 263
, e de João de Sousa, este na qualidade de antigo comendador-mor da ordem de Santiago durante a menoridade de D. Diogo, 4º duque de Viseu 264
, que sucumbiu em 1484, às próprias mãos do monarca.
único chefe de uma casa senhorial dos Sousas Chichorro a deixar testemunho de uma posição frontal e radical, tendo partilhado o exílio dos Braganças 265
. Castela foi o destino natural, considerando um conjunto de factores que relevavam da proximidade geográfica, dos nexos familiares que uniam as crianças a Isabel, a Católica 266
, da notória atenção dispensada pelas autoridades do reino vizinho à evolução política portuguesa 267 e,
inclusive, de uma consolidada tradição ibérica de “intercâmbio” de nobres exilados
268 . O próprio Pêro de Sousa contava, no país de acolhimento, com a
261
Veja-se supra p. 51 e nota nº 195. 262
A correcção do comportamento global evidenciado em relação à figura do soberano era um dos critérios, regularmente, impostos pelos instituidores de morgadios aos respectivos sucessores, sob pena de lhes ser vedada a propriedade vinculada e o direito de representação linhagística – cf. Maria de Lurdes Rosa, O Morgadio..., pp. 108-111. A menos de um século de distância, o neto de Pêro de Sousa e ex-governador da Índia, Martim Afonso de Sousa, revelaria preocupação semelhante ao estabelecer o seu próprio morgadio, num razoável indício de que a sintonia com a Coroa funcionaria como um dos elementos de identidade e de prestígio do colectivo familiar – Veja -se infra capítulo 3.2. Sobre a importância da honra como valor nobiliárquico, que afectava reciprocamente o indivíduo e as estruturas de parentesco em que ele se inseria, veja-se Henry Kamen, «The Ruling Elite», in Early Modern European Society, Londres -Nova Iorque, Routledge, 2000, p. 71, bem como os textos de J. G. Peristany, «Introdução», pp. 4-5; Julian Pitt-Rivers, «Honra e Posição Social», pp. 13-18, 25; e Julio Carlo Baroja, «Honra e Vergonha. Exame Histórico de Vários Conflitos», p. 70, pubs. in Honra e Vergonha. Valores das Sociedades Mediterrânicas, ed. J. G. Peristany, Lisboa, FCG, 1988. 263
Cf. supra Parte I, nota nº 199. 264
Cf. Brasões, vol. I, p. 228. 265
Cf. supra p. 51. 266
Cf. Garcia de Resende, Crónica…, p. 62. 267
Cf. Jean Aubin, «D. João II Devant sa Succession», in Le Latin…, vol. II, pp. 49-82. 268
Cf. Rita Costa Gomes, A Corte..., pp. 98-102; Mafalda Soares da Cunha, «A Nobreza...», pp. 225-231; Isabel Beceiro Pita, «Los Pimentel, Señores de Braganza y Benavente», in Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 81
solidariedade pessoal do conde de Benavente 269 , pelo que se reuniram condições gerais para uma estadia aprazível quanto bastasse.
O quadro delineado justifica, pois, que Pêro de Sousa não tenha comparecido em Évora, por ocasião das comemorações do casamento real, conquanto a participação do filho Gonçalo possa ser entendida como uma nota da tolerância de D. João II. Sucede que a perda do favor do soberano português fora compensada pela aproximação à Coroa castelhana. Aproveitando o período de desanuviamento das relações bilaterais, propiciado por aquele enlace, D. Isabel, a nova princesa portuguesa e filha dos Reis Católicos, não tardou a interceder junto do sogro, a favor do fidalgo, conseguindo que lhe fosse concedida uma tença de 115.000 reais 270 . Esta
prova da boa vontade do rei estaria, quiçá, associada a uma autorização de regresso de Pêro de Sousa a território nacional, precária que fosse. O afastamento físico entre Pêro de Sousa e os jovens Braganças seria até uma constante, uma vez que os exilados seguiam o movimento itinerante da corte dos Reis Católicos 271
, ao passo que o antigo senhor do Prado desempenharia as funções de alcaide da localidade de La Puebla de Sanabria 272 , sita nas vizinhanças de Astorga, Benavante e Zamora, a curta distância da fronteira com Portugal e da cidade de Bragança. A presença e a posição de centralidade dos Sousas Chichorro junto da posteridade do falecido duque continuaram, porém, a manifestar-se de forma acentuada. Atribuindo a rainha de Castela verbas anuais destinadas ao provimento da subsistência dos membros do séquito e das respectivas montadas, averigua-se que Lopo Sousa, o primogénito de Pêro, exerceu
Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval, vol. I, Porto, Centro de História da Universidade do Porto & INIC, 1987, p. 317; e Isabel M. R. Mendes Drumond Braga, Um Espaço, Duas Monarquias (Interrelações na Península Ibérica no Tempo de Carlos V), Lisboa, Centro de Estudos Históricos-UNL & Hugin, 2001, pp. 29-31. 269 Assunto retomado infra neste capítulo. 270 Cf. carta de tença, Montemor-o-Novo, 29.IV.1491, in IANTT, Ch. de D. João II, l. 10, fl. 130. É incontroversa a identidade do beneficiário da mercê régia, visto que, anos depois, Pêro de Sousa trespassou o direito de receber 20.000 dos ditos 115.000 reais no filho Gonçalo de Sousa, tendo-lhe sido emitida uma nova carta – cf. carta de 95.000 reais de tença a Pêro de Sousa, Estremoz, 3.X.1497, in IANTT, Ch. de D. Manuel I, l. 28, fl. 9 e carta de tença de 20.000 reais a Gonçalo de Sousa, Estremoz, 3.X.1497, in IANTT, Ch. de D.
271 Cf. Antonio de la Torre, «Los Hijos del Duque de Braganza en Castilla (1483-1496)», separata de Hidalguía, Madrid, Instituto Salazar y Castro, 1962, pp. 163 e 165. 272 Assunto retomado infra neste capítulo. Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I
82 desde 1492 o cargo de aio de D. Jaime de Bragança 273 , o qual se tornara presuntivo sucessor da Casa após a morte do irmão D. Filipe, sobrevinda em 1484
274 . A partir de 1494, encontram-se ainda evidências de que Sebastião de Sousa, irmão de Lopo, estava igualmente afecto ao dito círculo de apoio directo
275 .
Nos primórdios da década de 1490, D. Jaime era um adolescente 276 ,
títulos. As concepções vigentes na época preconizavam o trabalho paralelo de dois tipos de formadores: um mestre, devotado à carreira eclesiástica, responsável pelo ensino de natureza académica, moral e religiosa, e um aio leigo, tanto melhor se nobre, que iniciaria o pupilo nas artes militares e afins, bem como no domínio das normas sociais nobiliárquicas 277
. Lopo de Sousa reuniria as últimas qualidades acrescidas de uma clara mais valia: a confiança política que devia inspirar a um quarteto de impressionantes mulheres que, durante aqueles anos de fogo, forjaram um futuro para a estirpe bragantina . Eram elas a duquesa viúva, D. Isabel, a infanta D. Beatriz, sua mãe, a rainha D. Leonor de Portugal, sua irmã, e a sua prima e soberana castelhana, Isabel, a Católica 278
.
A plena reabilitação esteve, contudo, sempre dependente do desaparecimento físico de D. João II. Desta sorte, em 1495, consumada a aclamação de D. Manuel I, não tardou a ser feito apelo ao regresso da generalidade dos proscritos. Por alturas da Páscoa do ano seguinte, verificou-se o reencontro do novo rei com os parentes e membros da alta
273
Cf. «Nominas» outorgadas pela rainha D. Isabel de Castela (sempre pagas em relação ao ano transacto, excepto a última, relativa aos primeiros dois meses e meio de 1496), s.l., 15.V. 1493, 11.XI.1494, 20.II.1495, 10.III.1496 e 15.III.1496, pubs. in Cuentas de Gonzalo de
Madrid, CSIC, 1956, respectivamente, pp. 44, 127, 204, 259 e 310. 274 Cf. Antonio de la Torre, «Los Hijos...», p. 163. 275 Cf. «Nominas» outorgadas pela rainha D. Isabel de Castela, s.l., 20.II.1495, 10.III.1496 e 15.III.1496, pubs. in Cuentas..., vol. II, respectivamente, pp. 204, 259 e 310. 276
Nascera em 1479. Sobre o 4º duque de Bragança leia-se o estudo de Maria de Lurdes Rosa, «D. Jaime, Duque de Bragança: entre a Cortina e a Vidraça», in O Tempo de Vasco da Gama, dir. Diogo Ramada Curto, pp. 319-332. 277
Cf. Ana Isabel Buescu, «A Educação de Príncipes e Niños Generosos. Um Modelo Quinhentista Peninsular», in Revista de História das Ideias, vol. 19, A Cultura da Nobreza, Coimbra, Instituto de História e Teoria das Ideias & Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1998, pp. 353-354. 278 Cf. Maria de Lurdes Rosa, «D. Jaime…», p. 325 e João Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel I..., pp. 70-71 e 77. Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 83
nobreza que tinham escapado à sanha do Príncipe Perfeito 279 .
tempo 280
, numa opção que se adivinha ter sido condicionada pela necessidade de resolução de todos os assuntos que ligavam D. Jaime a Castela. Numa atitude expectável e complementar, que concorria inclusive para o reforço da sua própria autoridade, D. Manuel I procedeu à reconstituição da Casa de Bragança, através do reconhecimento formal do título ducal a D. Jaime e da devolução dos direitos e domínios territoriais antes confiscados 281
. A opção régia implicou o recurso à via negocial e a soluções indemnizatórias destinadas a compensar os interesses de terceiros que viessem a ser lesados, trata ndo-se este de mais um plano que envolveu os Sousas Chichorro e denotou o respectivo protagonismo. Ora, a haver um bem cuja reintegração patrimonial se afigurasse de todo indispensável à satisfação de D. Jaime, o mesmo corresponderia ao senhorio da cidade de Bragança, sede simbólica do ducado, que fora mantido por D. João II sob tutela directa da Coroa. Deste ponto de vista, a alienação não sugeria um foco de problemas e, com efeito, foi prontamente resolvida 282 .
militar, estritamente ligado à nomeação de oficiais, com realce para o alcaide- mor
283 , o que obrigaria, por conseguinte, à destituição do fidalgo que então ocupava o lugar por indicação do falecido monarca. O sujeito em apreço era o antigo capitão dos ginetes de D. Afonso V, Vasco Martins de Sousa Chichorro, destacado em serviço na região transmontana, havia já um decénio. O provimento original recebido neste âmbito remontava a 1486 e respeitava à alcaidaria-mor das sacas 284
. Provavelmente em 1491, ano em que abdicou desse cargo a favor do filho
279
Cf. Crónica, I, viii. 280
Garcia de Resende registou as glosas desenvolvidas em torno da apresentação de «Lopo de Sousa, aio do duque vindo de Castela no Verão com uma grande carapuça de veludo que os castelhanos chamam gangorra» - cf. Cancioneiro Geral, vol. IV, pp. 202-217. 281
Cf. Crónica, I, xiii e João Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel I..., pp. 77-79. 282
Cf. Crónica, I, xiii. 283
Cf. Mafalda Soares da Cunha, Linhagem…, p. 117. 284
Cf. carta de nomeação, Sintra, 13.I.1486, in IANTT, Ch. de D. João II, l. 1, fl. 7v. |
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