EfEméridEs brasilEiras


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obras

 

do



 

barão


 

do

 



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EfEméridEs brasilEiras



Fundação Alexandre de Gusmão, instituída em 1971, é uma fundação pública vinculada ao 

Ministério das Relações Exteriores e tem a finalidade de levar à sociedade civil informações 

sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomática brasileira. sua missão é 

promover a sensibilização da opinião pública nacional para os temas de relações internacionais 

e para a política externa brasileira.

ministério das relações Exteriores

Esplanada dos ministérios, bloco H

anexo ii, Térreo, sala 1

70170-900 brasília, df

Telefones: (61) 2030-6033/6034/6847

fax: (61) 2030-9125

site: www.funag.gov.br

M

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Ministro de Estado  Embaixador antonio de aguiar Patriota

 Secretário-Geral Embaixador ruy Nunes Pinto Nogueira

F

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de

 G



usMão

 Presidente 

Embaixador José Vicente de sá Pimentel



Instituto de Pesquisa de 

Relações Internacionais

 

Diretor 

 

 

Centro de História e 



Documentação Diplomática

 

Diretor 

Embaixador maurício E. Cortes Costa


ministério das relações Exteriores

fundação alexandre de Gusmão

brasília, 2012

Obras do barão do rio branco

Vi a

Efemérides brasileiras



Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Sonale Paiva 

– Crb /1810 

depósito legal na fundação biblioteca Nacional conforme lei 

n° 10.994, de 14/12/2004.

Direitos de publicação reservados à

fundação alexandre de Gusmão

ministério das relações Exteriores

Esplanada dos ministérios, bloco H

anexo ii, Térreo

70170-900 brasília – df

Telefones: (61) 2030-6033/6034

fax: (61) 2030-9125

site: www.funag.gov.br

E-mail: funag@itamaraty.gov.br 



Editor:

Embaixador manoel antonio da fonseca Couto Gomes Pereira



Equipe Técnica:

Eliane miranda Paiva

Vanusa dos santos silva

andré luiz Ventura ferreira

Pablinne stival marques Gallert

Revisão:

mariana de moura Coelho



Programação Visual e Diagramação:

Gráfica e Editora Ideal Ltda.

impresso no brasil 2012

Obras do barão do rio branco Vi : efemérides brasileiras.  / 

rodolfo Garcia, organizador. – brasília: fundação 

alexandre de Gusmão, 2012.

 

968 p.; 15,5 x 22,5 cm



.

 

 



isbN 978-85-7631-357-1

 

1. diplomata. 2. relações internacionais. i. Garcia, 



rodolfo.

CdU 341.71



Comissão Organizadora da Celebração do Primeiro Centenário da 

Morte do Barão do Rio Branco 

Presidente:  Embaixador antonio de aguiar Patriota

 

Ministro de Estado das Relações Exteriores



Membros: 

Embaixador ruy Nunes Pinto Nogueira



Secretário-Geral das Relações Exteriores

senhor Julio Cezar Pimentel de santana



Assessor do Chefe de Gabinete do Ministro da Defesa

Primeira-secretária luciana rocha mancini



Assessora Internacional do Ministério da Educação

senhor maurício Vicente ferreira Júnior



Diretor do Museu Imperial em Petrópolis, Ministério da Cultura

Ministro Aldemo Serafim Garcia Júnior



Assessor Internacional do Ministério das Comunicações

Professor doutor Jacob Palis 



Presidente da Academia Brasileira de Ciências,

Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

ministro rodrigo de lima baena soares



Assessor Especial da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da 

República

Primeiro-secretário rodrigo Estrela de Carvalho 



Assessoria Especial da Presidência da República

senhora mônica rizzo soares Pinto



Diretora do Centro de Referência e Difusão da  

Fundação Biblioteca Nacional

doutora Christiane Vieira laidler

Diretora do Centro de Pesquisa da Fundação Casa de Rui Barbosa

senhora maria Elizabeth brêa monteiro



Coordenadora de Pesquisa e Difusão do Acervo do Arquivo Nacional

Professor doutor Carlos fernando mathias de souza



Vice-Reitor Acadêmico da Universidade do Legislativo Brasileiro – Unilegis, 

Senado Federal 

doutor José ricardo Oria fernandes



Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados 

Comitê Executivo:

Coordenador-Geral:

Embaixador manoel antonio da fonseca Couto Gomes Pereira,  

Coordenador-Geral de Pesquisas do instituto de Pesquisa de relações internacionais

Coordenador de Seminários e Publicações:

Embaixador José Vicente de sá Pimentel, diretor do instituto de Pesquisa de 

relações internacionais

Coordenador no Rio de Janeiro:

Embaixador maurício Eduardo Cortes Costa, diretor do Centro de História e 

documentação diplomática

Coordenador de Divulgação:

Embaixador Tovar da silva Nunes, Chefe da assessoria de Comunicação social 

do ministério das relações Exteriores


O texto das Efemérides brasileiras, que constitui o presente volume das 

Obras do barão do rio branco, foi preparado e organizado pelo historiador 

rodolfo Garcia, de acordo com o critério indicado na Explicação que 

vai adiante, sob a sua autorizada assinatura. ficou, outrossim, sob sua 

responsabilidade a revisão integral das provas, cabendo-lhe ainda a 

elaboração dos índices de nomes e de assuntos acrescidos ao volume, 

assim como a nota da página 370.

O texto segue a ortografia acolhida pelo Novo Acordo Ortográfico da 

língua Portuguesa, que se tornará obrigatório em 1

o

 de janeiro de 2013.



Sumário

apresentação, 9

Embaixador luiz felipe de seixas Corrêa

Explicação, 23

Efemérides brasileiras, 27

Índice de nomes, 749

Índice de assuntos, 857


9

Apresentação

1

Embaixador

 

Luiz Felipe de Seixas Corrêa

No âmbito das celebrações do primeiro centenário da morte do 

barão do rio branco, em boa hora decidiu a comissão organizadora 

reeditar as Efemérides brasileiras. Publicadas originalmente no Jornal 

do Brasil desde o seu primeiro número, em 9 de abril de 1891, as 

Efemérides brasileiras constituem monumental contribuição do barão 

do Rio Branco à História do Brasil.

a ideia da obra foi do conselheiro rodolfo dantas, fundador 

daquele diário do rio de Janeiro. Em carta a um amigo, cujo original 

se conserva no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), Rio 

branco refere-se ao encargo que lhe dera rodolfo dantas como “um 

pequeno artigo diário comemorando ou indicando os nossos principais 

acontecimentos históricos, isto é, uma espécie de Efemérides”.

Em junho de 1916, o chanceler lauro müller, a quem havia recaído 

a responsabilidade de suceder rio branco após a sua morte, em 1912, 

passou  às  mãos  do  conde  de Afonso  Celso,  presidente  do  IHGB,  os 

originais manuscritos das Efemérides tal como constavam do arquivo 

do barão, adquirido à família pelo governo e depositado no Itamaraty. 

1  


  O presente texto constitui versão revista da apresentação feita pelo autor para a reedição d’As 

efemérides brasileiras publicada em 1999 pelo senado federal, como parte da coleção brasil 

500 anos.



lUiz fEliPE dE sEixas COrrêa

10

segundo assinala lauro müller no ofício junto ao qual encaminhou 



a documentação a afonso Celso, após a publicação dos textos pelo 

Jornal do Brasil, o barão não só havia melhorado consideravelmente o 

seu trabalho, acrescentando grande quantidade de fatos novos ligados 

à história militar, mas também completou-o com eventos relativos aos 

meses que não haviam aparecido na imprensa.

O trabalho de rio branco, enriquecido na ocasião com os 

aportes de uma comissão especial do iHGb, foi publicado na revista 

daquela veneranda instituição em 1917. desde 1919, o iHGb cumpre 

religiosamente com a prática de dar leitura, ao início de cada sessão, do 

texto das Efemérides referentes ao dia. 

Novamente revistas e atualizadas por rodolfo Garcia, as 



Efemérides  ganharam  sua  edição  definitiva  em  1945,  desta  feita  sob 

a responsabilidade do itamaraty, no contexto das comemorações do 

centenário do nascimento do barão.

as  Efemérides do Brasil são o melhor registro do caráter 

meticuloso e sistemático das pesquisas históricas feitas por rio branco. 

O pesquisador encontrará nesta obra um levantamento impressionante 

de dados, fatos, personagens e eventos de nossa história. bem ao estilo 

do temperamento do barão, prevalece sobretudo a preocupação em 

transmitir informações objetivas. Estávamos ainda longe de correntes 

historiográficas  mais  recentes  que  privilegiam  a  interpretação  das 

grandes tendências, mas que muitas vezes negligenciam a matéria-

prima do conhecimento histórico: as fontes primárias, os documentos 

originais.

Álvaro lins fez o seguinte comentário a respeito das Efemérides:

Porque é um gênero aparentemente fácil, o que dá valor a um volume de efemérides 

é a capacidade pessoal do seu autor: a perspicácia no escolher para a fixação de 

cada dia os seus acontecimentos realmente representativos, a exatidão nas datas 

e nomes, o dom da expressão sintética, a memória vigilante para os pormenores. 

E porque representam esse trabalho de erudição, seleção e rigor histórico, as 

Efemérides de rio branco são as mais completas na sua espécie.

as  Efemérides brasileiras são, essencialmente, um livro de 

referência. Permitem, portanto, diversos níveis de leitura, segundo 

o interesse do leitor. Para um estudioso de história diplomática, por 



aPrEsENTaçãO

11

exemplo, ressalta acompanhar a sensibilidade demonstrada por rio 



branco para os temas dos limites do brasil, algo que viria a notabilizá-

lo anos mais tarde no encaminhamento de soluções para as questões de 

fronteira então pendentes.

é fascinante acompanhar as referências de rio branco – algumas 

apenas factuais, outras com comentários mais extensos – a respeito de 

datas em que se registram eventos relevantes para a obra de definição 

de nossas fronteiras: 7 de junho de 1494 (Tratado de Tordesilhas), 11 

de abril de 1713 (Tratado de Utrecht entre Portugal e frança), 13 de 

janeiro de 1750 (Tratado de madri), 12 de fevereiro de 1761 (Tratado 

de El Pardo), 1

o

 de outubro de 1777 (Tratado de santo ildefonso), 12 



de dezembro de 1851 (Tratado de aliança e de limites com o Uruguai), 

27 de março de 1867 (Tratado de limites com a bolívia) ou 25 de 

janeiro de 1890 (Tratado com a argentina sobre a questão de Palmas). 

Curiosamente, rio branco não registrou com data própria os tratados 

de limites assinados pelo império com o Peru, em 23 de outubro de 

1851, com a Venezuela, em 5 de maio de 1859, e com o Paraguai, em 9 

de janeiro de 1872.

Profundo conhecedor das questões do Prata, rio branco registra 

nas  Efemérides as datas relevantes para a história de nossas relações 

com os vizinhos do sul: 1

o

 de janeiro de 1680 (fundação da Colônia do 



sacramento), 27 de agosto de 1828 (Tratado provisório entre o brasil 

e as Províncias Unidas do Rio da Prata que põe fim às disputas sobre 

a Província Cisplatina e que reconhece a independência da república 

Oriental do Uruguai), 27 de maio de 1851 (acordo de aliança entre brasil, 

Uruguai e Entre-rios, para fazer frente a rosas e Oribe), 3 de fevereiro 

de 1852 (derrota de rosas na batalha de monte Caseros), 20 de fevereiro 

de 1865 (convênio de paz entre o brasil e o Uruguai, após intervenção do 

império em favor dos “colorados” de Venâncio flores) ou 1

o

 de maio de 



1865 (Tratado da Tríplice aliança brasil-argentina-Uruguai).

as  Efemérides, no entanto, tornam particularmente evidentes o 

interesse e os conhecimentos de rio branco sobre a história militar do 

brasil. Os eventos militares chegam a ocupar, na obra, mais espaço do 

que o dedicado à história diplomática. É ilustrativo, por exemplo, o longo 

texto sobre a batalha de Passo do rosário, de 20 de fevereiro de 1827. 

Não havia em rio branco, contudo, entusiasmo pueril ou inconsequente 

em  relação  à  nossa  história  militar.  Uma  boa  demonstração  desse 



lUiz fEliPE dE sEixas COrrêa

12

julgamento é a sobriedade com que relata a participação do brasil na 



batalha de Monte Caseros, que precipitou o fim do regime de Rosas na 

argentina.

recuperar as Efemérides  significa,  acima  de  tudo,  comemorar  a 

memória de um dos maiores brasileiros de todos os tempos, um dos 

construtores deste país, um homem público excepcional, por sua obra e 

pelo exemplo de sua personalidade e de suas qualidades pessoais.

seu trabalho de consolidação das fronteiras do país, por meio de 

recurso à arbitragem internacional ou de negociações diretas com nossos 

vizinhos, permanece ainda hoje como a mais relevante obra da diplomacia 

nacional, no mesmo nível de importância da atuação brasileira na região 

do Prata na época do Império. A evolução pacífica de nossas relações com 

os vizinhos sul-americanos ao longo do século xx é em grande medida 

consequência do trabalho de estadista levado a cabo por rio branco de 

1893, quando assumiu a defesa da posição brasileira na questão de Palmas 

com a argentina, a 1909, ano em que o brasil assinou tratado de limites 

com o Uruguai.

a vida e a obra do barão do rio branco foram tratadas em livros 

que podem ser considerados definitivos, entre os quais cabe mencionar, 

a título exemplificativo, os seguintes: (i) Rio Branco e as fronteiras do 

Brasil (uma introdução às Obras do Barão do Rio Branco), de a. G. de 

Araújo Jorge, escrito na década de 1940, como introdução à publicação 

por parte do ministério das relações Exteriores das obras completas do 

barão (as chamadas Memórias sobre as questões de Palmas, do amapá e 

da Guiana inglesa, documentos diplomáticos diversos, discursos, artigos de 

imprensa, textos e notas esparsas sobre a história do brasil); (ii) Rio Branco 

(biografia), de Álvaro Lins, igualmente da década de 1940; (iii) A vida do 

Barão do Rio Branco, de luiz Viana filho (1959); e (iv) José Maria da 

Silva Paranhos, Barão do Rio Branco (uma biografia fotográfica), com 

texto de Rubens Ricupero, e organização, iconografia e legendas de João 

Hermes Pereira de araújo (1995).

Para que o leitor possa melhor apreciar o sentido e o alcance das 



Efemérides brasileiras, torna-se útil fazer um registro dos traços essenciais 

da vida e da obra de rio branco. Álvaro lins selecionou, como epígrafe 

de seu livro, uma citação de Joaquim Nabuco que sintetiza as qualidades 

do barão:



aPrEsENTaçãO

13

Estão aí os traços característicos do segundo rio branco: genuíno patriotismo, 



culto amoroso ao pai, organização conservadora, entusiasmo militar, afastamento 

da política, paixão da glória do povo, e, para satisfazê-la, vocação de historiador; 

por último, inclinação pessoal para a representação nacional no exterior. Todos 

esses sentimentos são de ordem desinteressada, todos, incluindo mesmo essa 

admiração filial, são impulsos do mesmo motor, o amor do País.

Bem  ao  estilo  apologético  da  época,  refletem-se  nessa  curta 

passagem todas as qualidades pessoais e profissionais que iriam fazer 

de rio branco uma das mais bem-sucedidas e populares personalidades 

da história brasileira.

Rio Branco era filho de José Maria da Silva Paranhos, visconde do 

Rio Branco. Guindado à vida pública ainda jovem, pela mão poderosa 

e experiente de Honório Hermeto Carneiro leão, o marquês do Paraná, 

que o levou como secretário para sua missão no Prata de 1851 a 1852, e 

visconde do Rio Branco revelou-se uma das mais importantes figuras do 

segundo reinado. O “primeiro rio branco” foi presidente do Conselho de 

ministros de 1871 a 1875, o mais longo gabinete do império. Promoveu a 

aprovação da lei do Ventre livre, em 1871, que de certa forma antecipou 

o fim da escravatura. Foi ministro dos Negócios Estrangeiros e também 

de outras pastas. Esteve em cinco missões diplomáticas no Prata, de 1851 

a 1871.


O “segundo rio branco” nasceu em 20 de abril de 1845. Viveria em 

relativa obscuridade praticamente até completar 50 anos. Nada nos seus 

primeiros anos teria permitido prever os de grandeza e de realizações que 

marcariam o período final de sua existência. Após os estudos de Direito em 

São Paulo e no Recife, passou por uma fase de indefinições profissionais. 

foi professor de História no Colégio Pedro ii no rio de Janeiro, promotor 

público, jornalista, chegou a exercer dois mandatos de deputado federal, 

de 1869 a 1875, e assessorou o pai em diferentes momentos, como na 

missão diplomática ao Prata nos anos de 1870 e 1871. 

desde a faculdade em são Paulo, o barão dedicou-se aos estudos de 

história do brasil, em especial em seus aspectos militares e diplomáticos. 

Essa foi a paixão de toda a sua vida. Tornou-se um especialista nessas 

matérias, sobre as quais chegou a escrever vários textos esparsos. 

infelizmente, contudo, não chegou a realizar seu sonho de escrever uma 

história militar e diplomática do brasil.


lUiz fEliPE dE sEixas COrrêa

14

Dos contatos com o pai que tanto admirava, filtrou a vocação para 



a diplomacia. Não demonstrou interesse em seguir a carreira política. 

Por isso – mas também por motivos familiares –, postulou e obteve, em 

1876, sua nomeação para o cargo de cônsul-geral em liverpool.

rio branco iniciaria, então, longa permanência no exterior, de mais 

de 25 anos. Voltaria ao rio de Janeiro apenas em 1902, para assumir 

o  cargo  de  ministro  das  Relações  Exteriores,  no  qual  ficaria  até  sua 

morte, em 10 de fevereiro de 1912. aproveitou intensamente esse 

afastamento para aprofundar seus conhecimentos de história brasileira. 

Com espírito meticuloso, fez amplas pesquisas em fontes primárias, a 

exemplo dos arquivos históricos das potências coloniais, que viriam a 

ser fundamentais para explicar seu êxito posterior nas negociações para 

a definição das fronteiras nacionais.

Proclamada a república em 1889, o governo provisório empenhou-

se desde cedo em procurar superar as desconfianças que por tanto tempo 

haviam mantido afastados o império brasileiro e as vizinhas repúblicas 

sul-americanas. A fixação definitiva das fronteiras tornou-se prioritária. 

Como registra Álvaro lins:

Só com dois países – o Paraguai (1872) e a Venezuela (1859) – o Império fixara 

as fronteiras de modo definitivo. Tratados de limites foram assinados também 

com o Peru (1851) e com a bolívia (1867), mas as questões voltariam a se impor 

anos depois, exigindo novos tratados na república. ao Uruguai ofereceríamos 

espontaneamente uma retificação dos diplomas assinados em 1851 e 1852. A 

herança recebida pela república [...] era, pois, a de uma nação quase sem fronteiras 

fixadas; em compensação, seria uma figura formada no Império o estadista que, 

servindo à República, daria estabilidade e segurança ao mapa político do Brasil.

a primeira das questões territoriais a ser encaminhada envolvia 

o território de Palmas, no oeste do atual estado de santa Catarina, 

de pouco mais de 30 mil km². O governo provisório, ansioso por dar 

prova de fraternidade americana, assinou em 25 de janeiro de 1890, em 

montevidéu, tratado que dividia essa área entre o brasil e a argentina. 

seguiu-se, contudo, intensa mobilização popular e das elites dirigentes 

brasileiras contra o que se percebia como uma cessão territorial 

indevida. Em 10 de agosto de 1891, o Congresso Nacional terminou por 

rejeitar o Tratado de montevidéu. recorreu-se então ao arbitramento do 



aPrEsENTaçãO

15

presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland.



Em 5 de abril de 1893, rio branco foi indicado para defender a 

posição brasileira em Washington, em substituição ao recém-falecido 

barão de aguiar de andrada. Três dias após, dirigiu carta a a. f. de 

Paula e sousa, então ministro das relações Exteriores, da qual vale 

a pena reproduzir trecho pelo que contém de revelador sobre sua 

personalidade:

desde 1875 tenho levado uma vida de retraimento que é a que melhor quadra com 

as disposições de meu espírito e me permite consagrar boa parte de meu tempo 

aos estudos e trabalhos de minha predileção. muito voluntariamente, quando ainda 

era moço e podia ter ambições, pois contava com amigos e protetores influentes, 

renunciei a tudo para levar a vida obscura que tenho vivido e a que desejo 

prontamente voltar. agora, acudindo ao apelo do senhor marechal presidente e 

de vossa excelência, vou sair por alguns meses de meu retiro, voltar, por assim 

dizer, ao mundo [...] Trata-se da defesa de um território brasileiro de que os nossos 

vizinhos nos querem esbulhar, de uma questão de história e geografia que suponho 

conhecer, e, portanto, de uma missão em que acredito poder ser de algum préstimo 

[...] Eu não tenho, portanto, o direito de escusar-me no caso presente, alegando 

motivos de comodidade pessoal ou de ordem privada quando o sacrifício que faço, 

ao romper com meus hábitos, é apenas temporário e levo a esperança de poder 

estar de volta dentro de poucos meses.

Em  outras  cartas  do  mesmo  período,  repete  que  “preferiria  ficar 

sossegado no meu canto”. Afirma que “terminada a missão voltarei para 

o meu canto e para os meus livros e papéis velhos, porque não quero 

saber de eminências e grandezas [...]”

rio branco teve pouco tempo para preparar sua defesa da posição 

brasileira, entregue ao árbitro em 10 de fevereiro de 1894. O laudo 

do presidente Cleveland foi dado ao conhecimento das partes a 5 

de fevereiro de 1895 e reconhecia em toda a sua plenitude o direito 

do brasil. rio branco tornou-se imediatamente um herói nacional. 

Joaquim Nabuco incitou-o a “deixar de ser politicamente indolente” e 

a retornar ao brasil. Por temperamento e por desejo de não ofender as 

sensibilidades da argentina com comemorações populares no rio de 

Janeiro, optou no entanto por voltar diretamente dos Estados Unidos 

para liverpool.



lUiz fEliPE dE sEixas COrrêa

16

Em julho de 1895, rio branco deixou o consulado-geral e passou a 



preparar, em Paris, a defesa da posição brasileira na questão de limites 

com a Guiana francesa, sobre a qual o brasil e a frança viriam a assinar 

um compromisso arbitral em 10 de abril de 1897. a questão envolvia 

cerca de 260 mil km². O governo suíço foi indicado como árbitro. O 

laudo, dado ao conhecimento das partes no dia 1

o

 de dezembro de 1900, 



atendia plenamente às posições nacionais. Praticamente todo o território 

em litígio ficou com o Brasil, a fronteira foi fixada no curso de água que 

identificávamos como sendo o Oiapoque, e vedou-se à França o acesso 

à margem esquerda do rio Amazonas.

rio branco seria ainda o primeiro responsável pela redação da 

Memória brasileira na questão de limites da Guiana inglesa, submetida 

ao arbitramento do rei da itália por tratado assinado em 6 de novembro 

de  1901.  Araújo  Jorge  refere-se  às  quatro  Memórias redigidas por 

rio branco – Palmas, Guiana francesa (duas) e Guiana inglesa – 

como “modelos de erudição histórica, jurídica e geográfica”, em que 

sobressaíam a “clareza” e a “ordem” do texto, bem como a “pureza”, a 

“elegância” e a “precisão” da língua. O laudo do rei da itália, divulgado 

em 1904, foi mais favorável aos interesses ingleses do que aos direitos 

brasileiros, adjudicando ao brasil 13.750 km² de uma área em disputa 

de 33.200 km². Nesse meio tempo, rio branco tornara-se ministro das 

relações Exteriores, e a defesa brasileira na questão da Guiana inglesa 

ficara a cargo de Joaquim Nabuco, a quem coube o estabelecimento da 

memória definitiva.

durante sua curta permanência como ministro plenipotenciário em 

berlim (1901-1902), rio branco foi convidado por rodrigues alves 

a assumir o ministério das relações Exteriores. Evidenciou-se nessa 

ocasião sua falta de ambições políticas. aceitou o cargo somente após 

muito relutar. Em várias cartas a rodrigues alves, a Campos salles e a 

amigos influentes, alegou razões de ordem funcional, pessoal, de saúde, 

financeiras, de família e de falta de gosto pela política. Chegou mesmo 

a sugerir o nome de seu amigo Joaquim Nabuco. Em uma das cartas, 

observou que “depois de tão longa vida de retraimento, fechado com 

os meus livros, mapas e papéis velhos, receio mostrar-me desajeitado 

na vida inteiramente diversa que deveria ter na posição de ministro de 

Estado”. No dia 29 de agosto de 1902, contudo, recebeu de rodrigues 

alves o seguinte telegrama: “Valiosas ponderações cartas não me 



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convenceram. Nome vossa excelência será muito bem recebido não 



podendo negar país sacrifício pedido.”

rio branco serviria a quatro presidentes: rodrigues alves, até 1906; 

afonso Pena e Nilo Peçanha, de 1906 a 1910; e Hermes da fonseca, 

até a sua morte, em 1912. Curiosamente, esse monarquista convicto – 

talvez menos por razões ideológicas e mais pela profunda admiração 

que devotava a dom Pedro ii e a seu pai – viria a ter na república o seu 

maior momento de projeção pessoal.

logo ao assumir o cargo, rio branco defrontou-se com a 

necessidade de uma solução urgente para a questão explosiva do acre. 

Em berlim, dera-se conta do risco da internacionalização da questão, 

havendo gestionado audaciosamente para impedir que bancos alemães 

se associassem ao Bolivian Syndicate. Em nossa história diplomática, 

poucos assuntos tiveram tanta repercussão interna e tanta carga emotiva. 

Havia um risco iminente de conflitos armados entre os cerca de 60 mil 

colonos brasileiros estabelecidos em território boliviano, no acre, e 

o governo de la Paz. Não se tratava, nesse caso, diferentemente das 

questões  anteriores,  de  esgrimir  argumentos  históricos  e  geográficos 

para defender a soberania brasileira sobre determinado território, mas 

sim de procurar uma solução política e diplomática para um problema 

de fato criado pela presença em território boliviano de uma população 

brasileira que não aceitava submissão à La Paz. Nessas condições, Rio 

branco entendeu que não era aconselhável a via do arbitramento, e 

empenhou-se em promover entendimentos diretos com a bolívia.

O  barão  definiu  como  objetivo  a  aquisição  do  território,  o  que 

se concretizou com a assinatura do Tratado de Petrópolis, a 17 de 

novembro de 1903. mediante uma indenização de dois milhões de libras 

esterlinas, compensações territoriais de cerca de 3.200 km² em outros 

pontos da fronteira comum e outros benefícios concedidos à Bolívia, 

atribuiu-se ao brasil a soberania sobre um território de cerca de 191 mil 

km². de todos os entendimentos promovidos por rio branco, esse foi o 

único em que houve uma expansão territorial, pois em todos os outros o 

brasil empenhara-se apenas pelo reconhecimento de direitos legítimos, 

decorrentes de motivos históricos e jurídicos. Essa foi, também, a única 

aquisição territorial do brasil como nação independente.

araújo Jorge fez o seguinte comentário sobre o tratado com a 

bolívia:


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Política externa menos escrupulosa teria adotado para o caso acriano um expediente 



de que não seria difícil rastrear precedentes em outros países: fomentar a revolta, 

reconhecer a independência dos acrianos, de conformidade com os seus desejos

proceder à incorporação do Acre ao Brasil, deixando à Bolívia o recurso extremo 

de uma guerra desigual.

Houve no brasil muitas críticas ao tratado, entre as quais as de 

Rui Barbosa, por conter alegadamente concessões excessivas à Bolívia. 

argumentava-se, entre outros pontos, que os Estados Unidos haviam 

pago  à  Espanha  apenas  quatro  milhões  de  libras  esterlinas  pelas 

filipinas, território com superfície e população muito maiores que as do 

acre. Como quer que seja, a própria existência dessas críticas pode ser 

vista como uma comprovação do espírito de equidade e de equilíbrio 

com que rio branco conduziu as negociações.

Outra importante questão solucionada por rio branco foi a dos 

limites com o Peru. a área em litígio era de 442 mil km², na qual 

se incluíam os 191 mil km² incorporados ao brasil pelo Tratado 

de Petrópolis. após cinco anos de negociações, foi assinado, a 8 de 

setembro de 1909, o tratado de limites que atribuiu ao brasil 403 mil 

km² e, ao Peru cerca de 39 mil km² (ficando o Acre, assim, reduzido a 

152 mil km²).

Na gestão de rio branco, foram ainda assinados tratados de limites 

com a Holanda (Guiana Holandesa) em 1906, com a Colômbia em 1907 

(o qual reafirmou a soberania brasileira sobre uma área de 127 mil km²) 

e com o Uruguai em 1909. Esse último acordo é um dos mais marcantes 

exemplos do espírito de equidade de rio branco. Para reparar o excesso 

de rigor cometido contra os uruguaios pelo Tratado de 1851, que lhes 

tinha negado o direito de navegação na lagoa mirim e no rio Jaguarão, 

rio branco concedeu-lhes pelo Tratado de 30 de outubro de 1909 mais 

do que haviam demandado: não só a livre-navegação, mas também o 

condomínio da lagoa mirim e do Jaguarão e a propriedade de algumas 

ilhas. Em mensagem ao Congresso, o presidente e o chanceler do 

Uruguai registraram que “a chancelaria brasileira concedeu ao Uruguai 

muito mais do que a nossa diplomacia pediu em todos os tempos, e 

aceitou muito menos do que essa mesma diplomacia ofereceu, como 

compensação, em suas primeiras gestões”.

O tratado com o Uruguai foi o último dos grandes entendimentos 


aPrEsENTaçãO

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de limites promovido pelo barão do rio branco. de 1895, quando foi 



divulgado o laudo do presidente Cleveland sobre a região de Palmas, 

a  1909,  Rio  Branco  esteve  à  frente  de  negociações  que  levaram  ao 

reconhecimento definitivo da soberania brasileira sobre territórios de 

cerca de 900 mil km² (ou seja, mais de 1/10 da área atual do brasil). 

Encerrada essa etapa de seu trabalho, rio branco comentaria já ter 

“construído o mapa” do brasil, e que “agora o meu programa é de 

contribuir para a união e a amizade entre os países sul-americanos”.

até certo ponto, portanto, o nome de rio branco está associado 

a  um  tipo  de  diplomacia  –  a  de  fixação  de  fronteiras  e  da  posse  de 

territórios – que é parte do passado. a ele atribui-se a expressiva 

afirmação de que “território é poder”. Mas, na verdade, sua obra foi 

muito além da definição de nossos limites. Na sua gestão à frente do 

ministério das relações Exteriores, o barão lançou as bases de duas 

diretrizes de política externa que se mantiveram ao longo do século 

xx: a importância de uma relação  próxima  com os Estados Unidos, 

que emergiam então como a nova potência mundial, e o imperativo da 

cooperação e da aproximação com os vizinhos sul-americanos. 

No encaminhamento da questão de limites com a Guiana francesa, 

rio branco pode avaliar em toda a sua extensão a relevância da doutrina 

monroe e do conceito de pan-americanismo para moderar as pretensões 

coloniais da frança. Em 1905, as respectivas missões diplomáticas do 

brasil e dos Estados Unidos em Washington e no rio de Janeiro foram 

elevadas à condição de embaixada. À época, só havia sete embaixadas 

em Washington, sendo o méxico o único país latino-americano com 

esse status.

Em 1909, rio branco redigiu pessoalmente um projeto de Tratado 

de Cordial inteligência Política e de arbitramento entre brasil, argentina 

e Chile. Essa sua primeira tentativa de formação de uma espécie de 



entente cordiale entre as três maiores nações do Cone sul viria mais 

tarde, após sua morte, a resultar na criação do chamado Pacto do abC, 

em 1915.

rio branco morreu em 10 de fevereiro de 1912. seu nome 

permaneceu como um dos mitos mais enraizados na consciência popular 

brasileira. as razões desse fenômeno não devem ser buscadas apenas na 

sua obra diplomática, mas também – e talvez especialmente – em seu 

carisma pessoal e nos traços mais marcantes de sua personalidade. ao 



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relutar em aceitar a indicação para o ministério em 1902, o barão dera 



mostras de seu desapego pelo poder. Cogitado para uma candidatura à 

presidência da república em 1910, manteve-se irredutível na decisão 

de não se envolver na vida política. Álvaro lins comentaria que “não 

houve talvez ninguém tão desinteressado do poder quanto o ministro do 

Exterior mais poderoso do brasil”.

rio branco dizia ter deixado a política por considerar que “só deve 

ser homem político quem tem alguma renda e não precisa de empregos 

públicos”. Não era esse o seu caso: filho de um dos maiores estadistas 

do império, e ele próprio ministro de Estado por quase 10 anos, morreu 

sem deixar patrimônio pessoal. Não herdou, nem acumulou fortuna.  

As  preocupações  financeiras  com  o  sustento  da  família  foram  uma 

constante em sua vida.

Era um homem profundamente conservador. fora de suas funções 

oficiais, levava vida ascética (“acostumei-me a viver com muito pouco 

porque meu pai não tinha fortuna”). destacava-se pela sobriedade e pela 

autocontenção. ao mesmo tempo, tinha perfeita noção da importância 

simbólica da pompa em cerimônias públicas. austero e de caráter 

reservado, considerava não haver “nada mais ridículo e inconveniente 

do que andar um diplomata a apregoar vitórias”. Em um país de 

bacharéis,  tinha  aversão  à  retórica.  De  temperamento  pragmático, 

herdou de seu pai o culto pela precisão das ideias e dos conceitos. Era 

avesso a elucubrações abstratas. A história e a geografia foram sempre 

os seus grandes interesses intelectuais.

sua dedicação ao trabalho era lendária. O gosto pessoal pelas coisas 

brasileiras era reflexo de seu genuíno patriotismo. Serviu ao país com 

espírito de desprendimento. Para rio branco, em suma, a vida pública 

foi o desempenho de uma missão, e não instrumento para atingir fins 

pessoais ou trampolim para metas políticas.

Representa, portanto, um serviço inestimável à memória histórica 

do país e de um de seus maiores homens públicos a promoção desta 

reedição das Efemérides brasileiras. aos 20 anos, rio branco escrevera 

o seguinte comentário em seu Esboço biográfico do general José de 



Abreu, barão de Cerro Largo:

Nem o passado, nem o futuro do país atrai entre nós a atenção 

pública, que descuidosa se deixa absorver na contemplação dos sucessos 

e dos homens do presente. Para os acontecimentos do passado – desse 



aPrEsENTaçãO

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passado ainda tão recente, mas tão útil em grandes exemplos e lições 



proveitosas – só há esquecimento e indiferença da parte de quase todos, 

e até escárnio e ridículo da parte de muitos.

ao promover a reedição das Efemérides, a comissão organizadora 

das celebrações do primeiro centenário da morte do barão revela-se 

fiel à sua memória e contribui para atenuar seu ceticismo em relação à 

importância que o país atribui ao conhecimento do passado.

diz-se que os povos que não conhecem a sua história estão 

condenados a repeti-la. Para este brasil, que nas últimas décadas foi 

capaz de consolidar a democracia e de promover o desenvolvimento 

econômico com inclusão social, as Efemérides do barão surgem como 

uma recordação poderosa do esforço que puseram os fundadores de 

nossa nacionalidade na construção deste imenso patrimônio, o qual as 

gerações atuais têm a responsabilidade de preservar. Para que possamos 

enfrentar os desafios do presente e perseverar no caminho da solução 

dos problemas que ainda nos angustiam, é sempre inspirador o exemplo 

dos personagens e dos eventos do passado.



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