Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas


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de Ordenança no Estado Português da Índia, 1510-1580: Ensaios de Criação do Insucesso», in 



Oceanos, nº 19-20,  Indo-Portuguesmente, Lisboa, CNCDP, 1994, pp. 213-215; Jean-Louis 

Bacqué-Grammont & Anne Kroell,  Mamlouks, Ottomans et Portugais en Mer Rouge. L’Affaire 



de Djedda en 1517, Cairo, Institut Français d’Archéologie Orientale, 1988; e João Paulo 

Oliveira e Costa & Vítor Luís Gaspar Rodrigues, Portugal y Oriente…, pp. 126-137. 

235

 Veja-se o artigo «Making India Gama: the Project of Dom Aires da Gama (1519) and its 



Meaning», in Mare Liberum, nº 16, Lisboa, CNCDP, 1998, pp. 33-55. 

236


 A respeito desta matéria sigo as conclusões de Jorge Manuel Flores, Os Portugueses e o 

Mar de Ceilão..., pp. 174-188, e os dados veiculados nas crónicas e na auto-biografia de 

Martim Afonso de Sousa  – cf. João de Barros, Ásia, IV, viii, 12-14; Ásia, V, ii, 5;  História, VIII, 

clxxiii-clxxvi; Lendas, vol. III, pp. 818-835 e Martim Afonso de Sousa, «Brevíssima e Sumária 

Relação...», pp. 73-75.  



Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

192 



de Sitawaka

237


. Apesar de serem governados por dois irmãos, 

respectivamente, Bhunavekabahu VII e Mayadunne, a competição pautou a 

relação subsequente entre os dois Estados, levando-os a tornarem-se partes 

activas no conflito que evoluiu no Malabar, opondo os Portugueses ao bloco 

formado pelo Samorim e pelos corsários mappillas, na expectativa de que o 

triunfo de um dos lados ajudasse a decidir a luta pelo estatuto de superioridade 

no interior de Ceilão.  

Da bem sucedida acção marítimo-militar de Martim Afonso de Sousa não 

dependia, portanto, a mera defesa do tráfico pimenteiro. Estavam, igualmente, 

em jogo a protecção do rei de Kotte; o acesso português à canela cingalesa; a 

salvaguarda da circulação lusa na zona estratégica do Mar de Ceilão, através 

do golfo de Manar e do estreito de Palque; e a sobrevivência da cristandade 

que estava a emergir na margem indiana do mesmo mar, entre os Paravas da 

costa da Pescaria, os quais estavam sob a mira de assalto das armadas 

mappillas. Para cúmulo, carregavam o quadro de tons escuros os avisos da 

chegada eminente de uma armada otomana ao Guzerate, uma vez que 

serviam de estímulo à ousadia da coligação anti-portuguesa, no arco 

geopolítico que se estendia desde Calecut até Sitawaka. 

Martim Afonso de Sousa insistiu no carácter autêntico daquela 

influência

238

. A realidade verificada reforçou-lhe os argumentos ou não tivesse 



sido a esquadra que ficou operacional nos finais de 1537, sob o patrocínio do 

Samorim de Calecut, «a maior e a mais bem armada de todas as que, desde 

1525, cruzaram o Mar de Ceilão»

239


. O capitão-mor do mar moveu-lhe caça em 

duas fases. Na primeira, somente até ao cabo Comorim, onde lhe perdeu o 

rasto e se persuadiu da necessidade de regressar a Cochim, em busca de 

reforços humanos e de apetrechos na vais susceptíveis de vencerem as 

extremas dificuldades que a monção de Nordeste sempre impõe à travessia do 

Mar de Ceilão durante o mês de Dezembro

240

. Entretanto, a armada inimiga, 



comandada por Pate Marakkar, acolhera-se ao estratégico porto de Beadala-

                                                 

237

 Geneviève Bouchon debruçou-se sobre as crises dinásticas que perturbaram Kotte  – veja-



se «Les Rois de Kotte au Début du XVIe siècle», in Inde découverte…, pp. 264-277.  

238


 Cf. Martim Afonso de Sousa, «Brevíssima e Sumária Relação...», pp. 73 e 75. 

239


 Cf. Jorge Manuel Flores, Os Portugueses e o Mar de Ceilão..., p. 181.  

240


 Cf. Ibidem, p. 37. 

Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

193 



Vedalai, na costa da Pescaria

241


. Foi aqui que Martim Afonso de Sousa a veio 

encontrar e derrotar com estrondo, já no cabo de Janeiro de 1538

242



O capitão-mor do mar não só gizou a táctica de ataque, dividida numa 



frente marítima e noutra terrestre, como entrou  nos combates, dos quais saiu 

ferido a tiro, partilhando o destino da maioria dos sobreviventes da sua 

hoste

243


. Ainda assim, teve entendimento imediato da magnitude do triunfo 

havido


244

, como ficou demonstrado pela rendibilidade simbólica que extraiu do 

mesmo, com expressão superior nas diversas investiduras de cavaleiros que 

promoveu, em pleno local de batalha, e no seu regresso ao Malabar a bordo da 

fusta de Pate Marakkar, quando este fora constrangido a fazê -lo por via 

terrestre

245

. Antes disso, porém, fez questão de navegar até Colombo e dali 



chegar à cidade de Kotte a fim de se avistar com Bhunavekabahu VII, a quem 

tranquilizou sobre o esmorecimento das ameaças que pendiam sobre o 

respectivo trono. 

O recebimento de Martim Afonso de Sousa em Cochim decorreu em 

ambiente de apoteose. Todavia, à recepção da notícia de que outra armada de 

Calecut estava em trânsito entre as costas do Canará e do Malabar, o capitão-

mor fez-se de novo ao mar. O encontro produziu-se ao largo do Monte de Eli, a 

curta distância de Cananor, não tendo sido causa de sobressalto instantâneo 

para os tripulantes mappillas, atraídos pela vista de algumas embarcações e 

dos estandartes que tinham sido  apresados pelos Portugueses em Beadala-

Vedalai. Desfeito o engano teve lugar a luta, cujas intensidade e crueza ficaram 

subjacentes na descrição de Martim Afonso de que «era o mar tão vermelho 

em redor dos navios, assim do sangue dos nossos como dos seus, que era 

                                                 

241

 Veja-se Ibidem, pp. 46-47. 



242

 O balanço final apurou o arresto de todas as fustas que compunham a armada de Calecut, 

num total de 47 unidades, de 300 a 400 peças de artilharia, de cerca de 2 000 espingardas e 

de diversas alfaias religiosas roubadas a igrejas cristãs, bem como o resgate de prisioneiros 

portugueses, que manobravam remos em regime de escravidão  – cf. Martim Afonso de Sousa, 

«Brevíssima e Sumária Relação...», p. 74 e alvará de Martim Afonso de Sousa, Beadala, 

1.II.1538, inserto em carta de confirmação do estatuto de cavaleiro a André Luís, sumariado in 

Cartas..., ed. Georg Schurhammer S.J., p. 32. 

243


 Cf. Martim Afonso de Sousa, «Brevíssima e Sumária Relação...», p. 74 

244


 Aspecto em que haveria de ser secundado por João de Barros, que qualificou a batalha de 

Beadala-Vedalai como «uma das mais bem pelejadas que se deram na India», e por Fernão 

Lopes de Castanheda, este sentenciando «que foy esta vitoria muy importãte pera segurar a 

India» - cf. João de Barros, Ásia, IV, viii, 13 e  História, VIII, clxxvi. 

245

 Cf. Jorge Manuel Flores, Os Portugueses e o Mar de Ceilão..., pp. 180 e 182. 



Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

194 



coisa muito medonha de ver»

246


. O desfecho foi, mais uma vez, 

inequivocamente favorável ao partido português, conquanto não tivesse 

dissuadido o fidalgo da prática de um derradeiro e consciente acto de tragédia, 

destinado à prevenção de ulteriores afrontamentos ao predomínio do Estado da 

Índia na região. A cena principal do mesmo foi reservada  para a praia de 

Cananor, diante da qual compareceram as velas portuguesas, ostentando um 

sem número de mappillas enforcados nas vergas, cujos corpos foram, 

seguidamente, depostos e abandonados no areal.  

O balanço do périplo descrito por Martim Afonso de Sousa no Malabar e 

no Mar de Ceilão dificilmente poderia ter sido mais positivo, desde logo ao nível 

das vantagens somadas pelo Estado da Índia. Os danos militares e 

económicos infligidos aos grupos de inimigos eram de natureza a inibir-lhes

por largo tempo, a capacidade reactiva, e estavam criadas excelentes 

condições para o fortalecimento de uma série de alianças, das quais poderiam 

ser retirados dividendos políticos, comerciais e até religiosos. Em suma, estava 

aberto caminho a uma posição de hegemonia portuguesa na zona, a aguardar 

consolidação nos anos seguintes

247


. Os benefícios adquiridos foram, no 

entanto, de âmbito supra-regional, na medida em que a firmeza e a 

tranquilidade então conferidas à presença portuguesa no Sul da Índia 

permitiram enfrentar com razoável segurança a ameaça otomana sobre Diu, na 

altura em que esta se materializou finalmente, em princípios de Setembro de 

1538. Ou seja, em última análise, Martim Afonso de Sousa voltou a ser peça 

essencial no tabuleiro em que se jogava a sorte do estabelecimento português 

no Guzerate. 

Quatro anos de consecutivas e bem sucedidas intervenções militares 

fizeram do capitão-mor do mar o oficial de maior prestígio do Estado da Índia, 

uma espécie d’el Gran Capitán nacional ou até de Marte humano

248


, aclamado 

pela sua invencibilidade. No futuro, haveria de dispor de poucas mais 

oportunidades de sair à liça e de abocar vitórias emblemáticas, de maneira que 

o essencial da sua fama estava fixado na recta terminal da década de 1530. Ao 

longo daquele período, Martim Afonso de Sousa esforçou-se para que as suas 

                                                 

246

 Cf. Martim Afonso de Sousa, «Brevíssima e Sumária Relação...», p. 75. 



247

 Cf. Jorge Manuel Flores, Os Portugueses e o Mar de Ceilão..., pp. 187-191. 

248

 Cf. Garcia da Orta, Colóquios..., vol. I, p. 6 e Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto X, 67.  



Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

195 



aspirações não repousassem, em exclusivo, sobre merecimentos pessoais. 

Nesse sentido, tratou de as impulsionar com recurso ao aproveitamento de 

relações sociais e familiares, de importância variável, mas globalmente úteis, 

as quais foram organizadas numa rede de influências de que ele se assumiu 

como  pivot em diferentes categorias. Ao enveredar por tal procedimento, o 

fidalgo estava apenas a dar expressão ao conhecimento geral de que as 

expectativas reais de promoção dos agentes ultramarinos eram condicionadas 

por um conjunto de factores de ponderação tendencialmente rigorosa, como o 

vínculo à Casa Real, o estatuto social e a qualidade dos serviços prestados, o 

qual podia ser burilado pela estreita ligação a altos dirigentes do Estado da 

Índia ou pela faculdade de avivar e pressionar a graça régia através de 

valimentos cortesãos

249



                                                 



249

 Elucidam os seguintes exemplos tratar-se de uma situação de contornos estruturais, tanto 

durante a época manuelina como no reinado de D. João III:  

- «A todos eses senhores mês amigos memcom?dares em suas merçees, nom he tempo 

descrever a cada huu por muitas ocupaçõees que homem tem qua que comprem a mais.» - cf. 

carta de Tomé Pires ao irmão João Fernandes, Malaca, 7.XI.1512, pub. in CAA, vol. VII, p. 59. 

-  «Vosa Alteza  he mall lembrado dos vosos cryados, que ha muito tempo  que nestas partes 

tem serujdo e ser uem, que, ajmda que os  vosa  alteza os emcomende aos vosos capitaes 

mores, nam sam elles satysfeito de seus servyços, porque, senhor, quallquer capitam mor que 

vosa alteza qua mamda, como he neste empereo, nam he lembrado mais que de cada hum 

fazer bem aos seus parentes e amjgos, e, depojs, aos que traz de purtugall comsygo. Estes 

sam,  senhor, os qua logram  ho que  qua ganhamos com alguas ferydas, porque,  senhor, as 

cousas que se qua  dam, afora os que de  vosa alteza vêm dadas, nam se dam por serujços 

nem per mereçymentos» - cf. carta de Manuel Sodré a D. Manuel I, Cananor, 27.XII.1515, pub. 

in CAA, vol. IV, p. 23. 

- «A pouca lembrança que os gouernadores qua tem de quem bem serue como não são 

parentes e amiguos e apaniguados e meus seruiços me fazem dar esta lembramça a Vosa 

Alteza pois lá não tenho quem mos alembre»  - cf. carta de D. Manuel de Carvalhal a D. João 

III, Cochim, 15.XII.1542, pub. in  «Cartas de “Serviços”...», ed. Luís de Albuquerque & José 

Pereira da Costa, p. 341. 

- «Eu tenho tam pouquas pesoas que posam lembrar a Vosa Alteza que ho qua siruo que se 

lho eu nom escreuer nom podera ter notiçia como qua ando» - cf. carta de Aleixo de Meneses a 

D. João III, cochim, 17.XII.1542, pub. in Ibidem, p. 342. 

- Manuel Godinho considerava que a falta de recompensa era «a paga que se qua daa aos que 

não tem aderemçia com os gouernadores e não pagão eles asym aos seus paniguados e 

aquelas pessoas de que se eles esperão dajudar no reino a estes fazem eles muyto gramdes 

pagamentos ajmda que o não tenham de s[e]us vemçimentos pessoa que Vosa Alteza la dee 

credito as suas cousas», queixando-se ainda, «eu não tenho njmgem que fale por mym»  - cf. 

carta a D. João III, Goa, 25.X.1545, pub. in Ibidem, p. 359. 

- «Jtem peso a V. A. que se allembre de meus serviços que heu não tenho la quem lho alembre 

que me fasa merçe»  - carta  de Manuel de Vasconcelos a D. João III, Cananor, 28.XI.1545, in 

IANTT, CC, I-77-34, fl. 1. 

- Gaspar Correia, cronista e antigo escrivão de Afonso de Albuquerque, reputava os 

governadores de «tiranos cobiçosos, tão isentos de fazer mercês senão pera sy e pera os seus 

de que se esperão seruir e aproueitar; e se alguns cargos dão já vão vendidos com peitas que 

leuão seus criados, e sacretaria, epriuados. E posto que ysto he muy noteficado a elRey, por 

nossos pecados nunqua este mal vy emmendado [...]. E digo eu d’esta cousa porque, agora 

que ysto escreuo, passa de cincoenta annos que ando n’este rodizio d’este seruiço, aleijado de 

feridas com que hirey á coua sem satisfação, porque nom tenho outro senhor senão Sua 


Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

196 



O patrocínio político, vulgo clientelismo

250


, consubstanciado no 

desenvolvimento de relações interpessoais, de carácter informal e 

hierarquizado, articuladas em forma de rede, visando a troca e a intermediação 

de favores, correspondia, pois, a um sistema com plena adesão por parte dos 

oficiais portugueses a fazerem carreira na Ásia, circunstância para a qual fora 

determinante a difusão contemporânea do mesmo nos meandros político-

sociais do Reino

251


 e do resto da Europa

252


Os laços de patrocínio reflectiam uma certa continuidade de espírito 

relativamente aos vínculos feudo-vassálicos medievais

253


 e constituíam uma 

sequela natural da organização  política corporativa dominante na Idade 

Moderna ocidental

254


. Se eram um instrumento tido como legítimo e de uso 

corrente, isso adviria tanto da utilidade particular que lhe achavam os sujeitos 

implicados como dos benefícios sentidos pelos governos centrais, ao nível da 

dilatação e da consolidação dos respectivos poderes. Com efeito, fosse pela 

acção directa de monarcas ou, mais rotineiramente, pela acção medianeira de 

ministros, que aproveitavam o ensejo para se promoverem individualmente, a 

                                                                                                                                               

Alteza, que começey a seruir de moço da camara  quando naceo em Abrantes o Infante dom 

Luiz, filho d’elRey dom Manuel e da Raynha dona Maria» - cf. Lendas, vol. III, pp. 437-438.  

250


 O patrocinato reveste-se de duas dimensões principais, semelhantes enquanto formas de 

apoio concedidas em troca da prestação de serviços, mas distintas quanto aos objectivos, a 

saber, uma de natureza cultural, conotada com a actividade mecenática, e outra de índole 

política, assimilada à prática clientelar  – cf. Sharon Kettering, «Patronage in Early Modern 

France», in  Patronage in Sixteenth-and Seventeenth-Century France, Aldershot-Burlington, 

Ashgate, 2002, p. 843. 

251

 Cf. Mafalda Soares da Cunha, «Nobreza, Rivalidade e Clientelismo...»,  pp. 33-48; João 



Cordeiro Pereira, «A Estrutura...», in  Nova História de Portugal, dir. Joel Serrão e A. H. de 

Oliveira Marques, vol. V, coord. João José Alves Dias, pp. 323-324;  e Ângela Barreto Xavier & 

António Manuel Hespanha, «As Redes Clientelares», in História de Portugal, dir. José Mattoso, 

vol. IV,  O Antigo Regime (1620-1807), coord. António Manuel Hespanha, s.l., Círculo de 

Leitores, 1993, pp. 381-393. 

252


 Cf., por todos, Antoni Maczak, «From Aristocratic Household to Princely Court. Restructuring 

Patronage in the Sixteenth and Seventeenth Centuries», in  Princes…, ed.  Ronald G. Asch & 

Adolf M. Birke, pp. 315-327. 

253


 Os dois modelos exigiam contactos verticalizados e troca de benefícios, embora houvesse 

notórias diferenças a apontar, nomeadamente, no tocante à maior abrangência de serviços 

passíveis de serem executados pelos clientes da Idade  Moderna e à ausência de uma 

cerimónia ritual de oficialização da ligação – cf. Sharon Kettering, «Gift-giving and Patronage in 

Early Modern France», in  Patronage…, pp. 135-136 e Idem, «The Historical Development of 

Political Clientelism», in Ibidem, pp. 420-421.  

254

 Explica José Martínez Millán que «se trata de una estructuración política descentralizada en 



la el poder del monarca no era absoluto o único sino preeminencial, por lo que debía gobernar 

a través de mediaciones y no de manera directa o centralista. Resulta evidente la importancia 

que tenía para el monarca poseer partidarios suyos en los diversos órganos: en las ciudades, 

en los señorios, etc., y al revés, que éstos tuvieran sus representantes cerca de la corona de 

donde partían todas las gracias.» - cf. «Introducción...», in Instituciones y Elites de Poder..., ed. 

J. M. Millán, p. 14. 



Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

197 



criação e a manutenção de teias de solidariedade propiciavam a sustentação 

de choques com facções antagónicas e centrífugas, bem como o controlo de 

periferias sociais e geopolíticas. Nessa medida, o clientelismo funcionou como 

um elemento positivo, de indução do crescimento e do fortalecimento dos 

Estados europeus na Idade Moderna

255


, verificando-se a aplicação de 

estratégias similares noutras áreas do mundo, livres de domínios coloniais, 

como os Impérios Otomano e Mogol, e a China Qing

256


Ora, sendo o Estado da Índia uma entidade sob alçada da Coroa 

portuguesa, mas implantada em territórios remotos e dispersos, cujas 

comunicações externas e até internas se processavam de forma lenta e 

difícil

257


, cedo ficou evidente que estava destinado a tornar-se um campo de 

emprego privilegiado daqueles que eram contemplados com a protecção 

régia

258


, contra a responsabilidade de zelarem pela respectiva expansão e 

administração e de se manterem consonantes com as directivas emanadas do 

centro político

259


. Os sacrifícios pessoais e os bons préstimos cometidos pela 

clientela da Coroa geravam, por arrastamento, uma dinâmica de 

reciprocidades, baseada em novos serviços e recompensas, cujos 

fundamentos teóricos eram evocados, com desembaraço, por alguns dos 

oficiais do Estado da Índia

260


                                                 

255

 Cf. Henry Kamen, «The Ruling Elite», in  Early Modern European Society, p. 74; Ronald G. 



Asch, «Introduction…», in  Princes…, ed.  Ronald G. Asch & Adolf M. Birke, pp.  15-18; José 

Martínez Millán, «Introducción...», in  Instituciones y Elites de Poder..., ed. J. M. Millán, pp. 17-

20; Antoni Maczak, «From Aristocratic Household…», in Princes…, ed. Ronald G. Asch & Adolf 

M. Birke, pp.  316-319;  Gunner Lind, «Great Friends and Small Friends: Clientelism  and the 

Power elite», in Power Elites..., dir. Wolfgang Reinhard, pp. 132-133; e Sharon Kettering, «The 

Historical Development of Political Clientelism», in Patronage…, pp. 425-433  

256

 Cf. Sharon Kettering, Ibidem, pp. 433-446.   



257

  Veja-se a maioria dos textos dados à estampa na parte I de  O Domínio da Distância. 



Comunicação e Cartografia, coord. Maria Emília Madeira Santos & Manuel Lobato, Lisboa, 

IICT, 2006.  

258

 A solução foi implementada em conformidade com o modelo originalmente concebido por D. 



Afonso V – cf. João Paulo Oliveira e Costa, «D. Afonso V e o Atlântico...», in  Mare Liberum, nº 

17, pp. 47-48, 51-53 e 57-61. 

259

 Cf. João Cordeiro Pereira, «A Estrutura...», in  Nova História de Portugal, dir. Joel Serrão & 



A. H. de Oliveira Marques, vol. V, coord. João José Alves Dias, pp. 295-298. 

260


 Afiguram-se paradigmáticas as exposições feitas por Pêro Fernandes Tinoco, designado 

como embaixador ao Império de Vijayanagar, e Nuno de Castro, escrivão em Cochim, recém-

nomeado para exercer funções iguais na alfândega de Ormuz: 

- «E pois, Senhor, vos deus deu criados e vassalos que tam lomje vos tem tal hobedyencia, e 

vos servem com tanto amor e lealdade, nom vos esquaçais da justyça que ssois hobrigado de 

fazerdes de quem lhes fazem justyça, e comprirres, Senhor, com deus e co mumdo, e os 

vossos criados e vassalos ssegumdo ho amor que vos tem, por de baixo do mar vos viram ca 

sservir» - cf. carta de Pêro Fernandes Tinoco a D. Manuel I, s.l., 15-I-15[06?], pub. in CAA, vol. 

III, p. 177. 



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