Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas


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barrete cardinalício; o 5º duque de Bragança, D. Teodósio; o 3º marquês de 

Vila Real, D. Pedro de Meneses, e cinco desembargadores do Paço. Votada 

por unanimidade, a deliberação foi produzida com base nos princípios 

reguladores da sucessão do Estado da Índia e noutras alegações jurídicas 

                                                 

381

  Cf. Assento do Conselho Real, Almeirim, 22-I-1544 [sic], pub. in  Relações de Pêro de 



Alcáçova Carneiro..., p. 406. 

382


 Cf. Ásia, VI, ix, 1.  

383


 Cf. Ibidem, VI, viii, 13 e VI, ix, 2.  

384


 Cf. Ibidem, VII, ii, 1 e VII, vi, 1. 

Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

227 



expostas durante a sessão, mas não especificadas no acórdão final, o qual 

ditou que cabia ao soberano autoridade para nomear  um novo governador e 

que a eleição devia recair, especificamente, sobre Martim Afonso de Sousa

385


O elenco seleccionado de conselheiros, composto por uma maioria 

qualificada de homens versados em jurisprudência e por quatro figuras de proa 

da sociedade portuguesa, tornava inquestionável a validade da resolução 

emitida. Independentemente de esta ter sido formulada em aparente 

observância do Direito vigente, é possível reconhecer em cada um dos 

aristocratas participantes razoável sensibilidade à causa conjunta do ex-

capitão-mor do mar da Índia e do conde da Castanheira. 

Nascidos, respectivamente, em 1506 e 1512, os infantes D. Luís e D. 

Henrique cedo se habituaram a ver o irmão e herdeiro do trono na companhia 

quotidiana de D. António de Ataíde e depois também  de Martim Afonso de 

Sousa. É provável que daí tenha surgido alguma proximidade, a suficiente para 

que D. Luís fosse tentado a intrometer-se na concertação do casamento do 

primogénito de Martim Afonso

386

 e para que D. Henrique se apoiasse no 



parecer dele a fim de satisfazer os serviços dos veteranos da Índia, quando 

assumiu a regência do Reino, durante a menoridade de D. Sebastião

387



Aclamado rei após o funesto desfecho da batalha de Alcácer Quibir, D. 



Henrique acabou por escolher a antiga residência lisboeta de Martim Afonso 

para se instalar

388

, num derradeiro e hipotético sinal do contacto mantido em 



vida de ambos. 

De D. Teodósio de Bragança seria de esperar que jamais deixasse de 

atinar na antiga ligação dos Sousas Chichorro, em especial do ramo do Prado, 

à Casa Ducal de que era cabeça. Assim se compreende o ponto de arrimo que 

Martim Afonso de Sousa detectou nele após ter encerrado o ciclo ultramarino 

da sua carreira

389

. O duque não se abstrairia ainda da protecção dispensada, 



em tempos idos, pela sua avó paterna a D. António de Ataíde e muito menos 

do interesse particular que tinha na manutenção de um diálogo livre de 

escolhos com o ministro favorito de D. João III.   

                                                 

385

 Cf. Cf. Assento do Conselho Real, Almeirim, 22-I-1544 [sic], pub. in Relações de Pêro de 



Alcáçova Carneiro..., pp. 406-407.  

386


 Veja-se infra capítulo 3.2. 

387


 Cf. Ditos..., nº 829, pp. 304-305. 

388


 Cf. Amélia Polónia, D. Henrique, o Cardeal-Rei, s.l., Círculo de Leitores, 2005, p. 35.   

389


 Veja-se infra p. 273. 

Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

228 



O caso de D. Pedro de Meneses correspondeu à mais franca 

demonstração de partidarismo militante em relação às estratégias perseguidas 

pelo conde da Castanheira e por Martim Afonso de Sousa. Socorrendo-se de 

termos que não admitiam a mínima dúvida quanto às suas intenções, o 

marquês disponibilizara-se, em 1536, para terçar armas por D. António de 

Ataíde contra a facção fiel ao conde do Vimioso, numa ocasião em que o 

desaguizado entre os dois vedores deve ter subido bastante de nível, por 

motivos concretos que se ignoram

390

. Num plano similar estavam a estima e a 



confiança que depositava em Martim Afonso, a ponto de ter passado a «dormir 

hum pouco mais descansado» desde que o soube desembarcado em Goa e 

empossado na direcção do Estado da Índia

391


A morte de D. Pedro de Meneses, sobrevinda em meados de 1543

392



impediu-o de trocar correspondência regular com o 12º governador português. 



Não obstante, teve oportunidade de lhe despachar uma carta. O marquês 

exprimiu nela largas palavras de conforto, justificadas pelo falecimento de Lopo 

Rodrigues de Sousa, o secundogénito de Martim Afonso, que expirara no 

decurso  da singradura entre o Atlântico e o Índico

393

. Mas, do respectivo 



conteúdo importará, antes, que se retenham a proximidade e o carácter 

utilitário da relação cultivada pelas duas personalidades

394



Em finais de 1541, fora a alienação da vila de Alcoentre, praticada por D. 



Pedro de Meneses, que abrira caminho à compra da mesma por Martim Afonso 

                                                 

390

 «Eu senhor soube aguora asy destas estradas como diguo que antre Vossa Senhoria e o 



comde de vimioso avia ronprimento e me diserom mais que alguuns da sua parcialidade 

cymgião espadas. E porque a minha estaa muy certa pera voso serviço na cimta e na mão 

camdo vos a vos comprir e asy minha casa com tudo o que nela haa vo lo faço senhor saber 

per esta minha carta pera que de tudo desponhays como conprir a voso serviço [...] porque 

pera o que devo fazer nunca estou lomje e se minha pesoa vos comprir te la eys la tão prestes 

e correrei tam bem a posta que nom avera nenhum impitrynado que me faça avamtajem.» - cf. 

carta de D. Pedro de Meneses a D. António de Ataíde, Caminha, 28.II.1536, pub. in CSL, vol. I, 

pp. 454-455.  

391

 Cf. carta de D. Pedro de Meneses a Martim Afonso de Sousa, Lisboa, s.d., transcrita por 



Graciete Maria Mendonça de Sousa Dias Pires, Martim Afonso de Sousa..., p. 128. 

392


 Cf. Brasões, vol. III, p. 387.  

393


 Cf. carta de D. Pedro de Meneses a Martim Afonso de Sousa, Lisboa, s.d., transcrita por 

Graciete Maria Mendonça de Sousa Dias Pires, Martim Afonso de Sousa..., p. 127.   

394

 As primeiras evidências disso remontam ao Verão de 1540 quando Martim Afonso de Sousa 



adquiriu aos marqueses de Vila Real dois padrões anuais de tença. Ambos estavam assentes 

nas sisas dos panos de Lisboa, valendo um 92.000 e outro 103.280 reais  – cf. cartas de 

padrão, Lisboa, 19.IX.1540 e 23.IX.1540, in IANTT,  Ch. de D. João III, l. 40, fls. 241-245v e 

246v-248.   



Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

229 



de Sousa

395


 e ao inerente benefício do senhorio jurisdicional

396


. O marquês 

afadigou-se, de modo complementar, a deligenciar no sentido de que a doação 

régia viesse acompanhada de importantes privilégios simbólicos, como eram a 

transmissão aos herdeiros e a isenção de correição

397

. Por seu turno, D. Pedro 



descobria as vantagens particulares a que poderia aceder por via do novo 

cargo ocupado por Martim Afonso. Aliás, são logo as linhas iniciais da sua carta 

que reflectem essa intenção, nelas declarando o empenho que tinha em 

granjear prestígio como agente intercessor das benesses que o governador 

pudesse vir a dispensar, no Oriente, aos indivíduos a quem ele dava apoio a 

partir de Portugal

398

.  


 A falta de um maço epistolar compromete a avaliação precisa do 

contacto desenvolvido entre os dois fidalgos. Se a assimetria social existente, a 

grandeza dos favores prestados por D. Pedro de Meneses e a expectativa de 

reciprocidade cultivada pelo mesmo indiciam um vínculo de dependência 

clientelar da parte de Martim Afonso de Sousa, também é notória a disposição 

do marquês para continuar a servir de instrumento de ajuda do primo coirmão 

do conde da Castanheira, antes sequer de lhe poder verificar a 

correspondência de gestos, usando para o efeito um tom lisongeiro e 

insistente, que seria dispensável, senão desapropriado, no tratamento de um 

vulgar apaniguado

399

. Talvez estivessem unidos por laços de amizade bastante 



                                                 

395


 Cf. carta de D. Pedro de Meneses a Martim Afonso de Sousa, Lisboa, s.d., transcrita por 

Graciete Maria Mendonça de Sousa Dias Pires, Martim Afonso de Sousa...,  p. 128 e Brasões

vol. I, p. 225, n. 3. 

396


 Cf. carta de doação, Lisboa, 28.III.1542, in IANTT, Ch. de D. João III, l. 38, fls. 57-58v.   

397


  Cf. carta de D. Pedro de Meneses a Martim Afonso de Sousa, Lisboa, s.d., transcrita por 

Graciete Maria Mendonça de Sousa Dias Pires, Martim Afonso de Sousa...,  p. 128. 

398

  «Senhor, Ate aguora me não pude desempecar de cartas de encomendas pera vos láa 



auera soma dellas e porem como me honrão em mas pedir pois me hão por tam vosso 

servidor, que cuidão  que lhe aproveitarão supo lo de buena gana [...] e por isso por amor de 

Deus quanto a esta parte não me tirem este credito e frutifiquem as minhas cartas»  - cf.  

Ibidem, p. 126. A comprovar que o posto de governador da Índia configurava um pólo 

autónomo de dispensa de mercês, ao qual havia personagens de vulto no Reino a quererem 

associar-se, está a seguinte participação recebida pelo sucessor de Martim Afonso de Sousa: 

«Muitas pessoas me pedem cá cartas para v.s., não as posso negar, ao menos por me mostrar 

valido com v.s., perdoe-me v.s. a importunação»  - cf. carta de D. Rodrigo Pinheiro, bispo de 

Angra, a D. João de Castro, Lisboa, 24.III.1546, in IANTT, Colecção de São Lourenço, vol. IV, 

fls. 415-415v.  

399


 «Ora agurora quero eu vir a encomendar me a min, e lhe pedir per merçe que se lembre de 

min e se sirua de min, e isto não se pode pedir, senão a sinco pessoas no mundo, que são el-

Rej meu senhor; El Rej de França, o Emperador, e Voz; e o Turco, e por aqui uereis, quem 

misericordioso e humilde sereis, se uos láa lembrardes de nos, e mostre logo esta humildade 

em me fazer tamanha merçe, que me mande muitas novas de si», inisistindo, várias linhas 

abaixo, para «que me mande qua em que o sirua, e inda que tenhais outros que vos possão 



Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

230 



sólidos para gerar uma assistência mútua isenta de constrangimentos e 

subverter a típica relação clientelar, de feição vertical. De resto, é de crer que o 

ascendente político-militar conquistado por Martim Afonso de Sousa tenha sido 

de molde a investi-lo numa posição proporcional de respeito e de atracção 

social, atenuando-lhe a inferioridade de estatuto de que padecia em 

comparação com os elementos do grupo aristocrático. 

As influências movidas por relações interpessoais fizeram, assim, o seu 

curso natural na promoção de Martim Afonso de Sousa. Além do apoio fulcral 

recebido, desde a primeira hora, da parte de D. João III e do conde da 

Castanheira, o aval posterior que lhe foi concedido pelos irmãos do monarca, 

pelo duque de Bragança e pelo marquês de Vila Real radicou numa disposição 

prévia de favorecimento, porventura bem mais determinante para o desenlace 

da controvérsia do que os pareceres júridicos atendidos. A 12 de Março de 

1541, a Chancelaria Real oficializou, por fim, a dupla nomeação, concernente 

ao governo do Estado da Índia e à capitania-mor da armada daquele ano

400


cujas velas foram desfraldadas no dia 7 de Abril

401



A bordo da nau capitânia, a  Santiago, foi acolhido um pequeno 



contingente de membros da recém-fundada Companhia de Jesus. Sob a 

cobertura do rei de Portugal e liderados pelo Pe. Francisco Xavier, propunham-

se eles dar início a um trabalho sistemático de difusão do Cristianismo na Ásia, 

do qual resultaram, em médio e longo prazo, impactos visíveis, tanto de âmbito 

religioso como ao nível do alastramento da influência  política e comercial 

portuguesa

402

. Haveria de ser, exactamente, o embarque de Xavier a motivar 



um pintor anónimo seiscentista a ilustrar o momento numa tela de grande 

formato, a Vista de Lisboa, em exposição no Museu Nacional de Arte Antiga. A 

análise da cena pode prestar-se, no entanto, a equívocos. Tendo como panos 

de fundo a cidade de Lisboa e a Ribeira das Naus, figura em plano de 

evidência o Tejo fervilhante de trânsito naval. Ora, das várias embarcações 

                                                                                                                                               

mais seruir, não confessarei que tem nenhum que o mais deseie fazer»  - cf.  Cf. carta de D. 

Pedro de Meneses a Martim Afonso de Sousa, Lisboa, s.d., transcrita por Graciete Maria 

Mendonça de Sousa Dias Pires, Martim Afonso de Sousa...,  pp. 126-127 e 128. 

400


 Cf. carta de mercê, Almeirim, 12.III.1541, in IANTT, Ch. de D. João III, l. 31, fls. 42v-43. 

401


 Cf.  Relação, p. 55;  Emmenta, p. 42 e carta do Pe. Francisco Xavier aos membros da 

Companhia de Jesus, Goa, 20.IX.1542, pub. in DHMPPO-I, vol. III, p. 26. 

402

 Veja-se a bibliografia citada supra na Introdução, nota nº 5. Sobre o labor apostólico do Pe. 



Francisco Xavier, a obra de referência continua a ser a de Georg Schurhammer S. J., Francis 

Xavier. His Life, His Time, 4 vols., Roma, The Jesuit Historical Institute, 1977. 

Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

231 



assinaladas apenas cinco naus estavam agregadas à esquadra de Martim 

Afonso de Sousa. Tratando-se do veículo de transporte de um futuro 

governador da Índia, era patente a falta de grandeza do conjunto naval, a qual 

não passou despercebida ao olhar contemporâneo

403

.   


A conjuntura geral que então se atravessava, marcada pelo assomo de 

várias dificuldades

404

, esteve na origem da opção de redução das velas. Nos 



princípios do mês de Fevereiro, o conde da Castanheira apresentara-a ao rei, 

sob a forma de recomendação, pretextando a existência de suficientes homens 

de armas na Índia e a necessidade de se evitarem gastos superfluos

405


Superado o perigo que os Turcos tinham levado até à frente marítima de Diu e 

estando prestes a iniciar-se nova ronda negocial em Istambul, tendente à 

estabilização das relações luso-otomanas

406

, era o assédio a Santa Cruz do 



Cabo de Gué que exigia atenção redobrada e disponibilidade de meios 

operacionais. Ademais, o dinamismo de que o Império vinha dando mostras ao 

longo do reinado do  Piedoso só era compreensível à luz da realização de 

elevados investimentos, de retorno financeiro lento ou inexistente, 

relacionados, por exemplo, com a compra do arquipélago de Maluco a Carlos 

V, com o fomento da colonização do Brasil e com o apresto de poderosas 

frotas, que ajudaram o Estado da Índia a manter-se em prevenção contra 

agressões otomanas

407

. Conjugadas com a sustentação de uma estrutura 



cortesã pesada e de um aparelho burocrático em crescimento, tais despesas 

inibiram a liquidez financeira nacional e determinaram o recurso a expedientes 

compensatórios, baseados na emissão de letras de câmbio, na venda de 

padrões de tença de juro e na formulação de pedidos de verbas às cortes

408



De Martim Afonso de Sousa esperava-se, portanto, que conduzisse até 



à Índia os meios materiais e humanos imprescindíveis e, se possível, que lá 

                                                 

403

 Cf. Lendas, vol. IV, p. 214.  



404

 Veja-se Sanjay Subrahmanyam, O Império Asiático..., pp. 119-122 e João Paulo Oliveira e 

Costa, «A Política Expansionista...», pp. 27-33.   

405


 Cf. carta de [D. António de Ataíde] a D. João III, s.l., 4.II.1541, pub. in Letters of the Court...

ed. J. D. M. Ford & L. G. Moffatt, p. 165.   

406

 Cf. «Instrucção que el-rei deu a Duarte Catanho para ir tratar a paz com o Turco», Almeirim, 



15.II.1541, in IANTT, CC, I-69-4 7   e Salih Özbaran, «An Imperial Letter from Süleyman the 

Magnificent to Dom João  III Concerning Proposals for an Ottoman-Portuguese Armistice», in 



Portuguese Studies, nº 6, 1990, pp. 28 e 30.  

407


 Cf. «Despesas extraordinárias que el-rei D. João 3.º fez des do tempo que começou a reinar 

até que fez terceiras cortes em Almeirim, no ano de 1544», pub. por Frei Luís de Sousa in 



Anais..., vol. II, pp. 272-275.  

408


 Cf. Ana Isabel Buescu, D. João III..., pp. 186-187.  

Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

232 



desenvolvesse acções susceptíveis de gerarem receitas aliviadoras do caderno 

de encargos da Coroa. Como tal, a guerra aberta e sistemática deveria estar 

ausente das iniciativas prioritárias do governador

409


, abrindo-lhe espaço de 

manobra à  execução de reformas administrativas e de algumas expedições, 

estranhas às tradições do Estado da Índia, cujo objectivo comum era o de 

propiciarem avultadas fontes de riqueza

410



A par das garantias de acalmia  bélica dadas pela paz recentemente 



firmada com o reino de Calecut e pelos contactos diplomáticos em curso com a 

Sublime Porta, haveria, talvez, a expectativa de que a mestria militar de Martim 

Afonso tivesse, por si só, um efeito disusasor. Foi ele próprio quem o admitiu 

posteriori

411


,  numa declaração que se aceita desprovida de hipérboles ao 

considerar-se a alegria que tomou conta dos Portugueses quando o viram de 

volta a solo indiano, em Maio de 1542

412


. As demonstrações públicas de 

regozijo explicavam-se pelo reconhecimento generalizado das competências 

guerreiras do governador e pelo inerente sentimento de segurança assimilado 

pelos súbditos do Estado da Índia. 

Com efeito, as ameaças externas pouco lhe pertubaram a evolução da 

comissão de serviço. O dispositivo militar português manteve a prevenção em 

relação a eventuais movimentações otomanas,  experimentando apenas 

inquietações ditadas por rebates falsos

413

.  O Samorim, além de continuar a 



                                                 

409


 «Aguora eu não vos queria ver victorias porque não vos queria guerra senão muita pax pera 

poderdes entender no guoverno desses Rejnos, assi como convem a estes donde partistes, e 

deixastes como sabeis porque poderdes remedear o de láa, e com o de la, o de caa esta seria 

a maior victoria que podia ser»  - cf.  Cf. carta de D. Pedro de Meneses a Martim Afonso de 

Sousa, Lisboa, s.d., transcrita por Graciete Maria Mendonça de Sousa Dias Pires,  Martim 

Afonso de Sousa...,  p. 127. 

410


 Assunto a ser desenvolvido neste capítulo.   

411


 «E pelo crédito que eu na terra tinha no tempo que nela andara, me mandaram logo todos 

os reis seus embaixadores a fazer pazes comigo, e eu as fiz; e todo o tempo que na Índia 

estive eles estiveram sossegados e obedientes, como se fossem vassalos de el-Rei Nosso 

Senhor.» - cf. Martim Afonso de Sousa, «Brevíssima e Sumária Relação...», p. 76. 

412

 Cf. carta do Pe. Miguel Vaz a D. João III, Cochim, 6.I.1543, pub. in DHMPPO-I, vol. II, p. 



324. De forma sintomática, as celebrações promovidas em honra de Martim Afonso de Sousa 

ficaram pouco aquém daquelas organizadas, em 1546, para comemorar o triunfo de D. João de 

Castro no segundo cerco de Diu: «e foi tam festeyada esta gramde vitoria de Vosa Senhoria 

nesta cidade como foy o recibimento que fizeram a Martym Afomso quamdo aqui chegou 

governador que foy a mayor que numca fizeram e teve esta de Vosa Senhoria de avemtagem 

muytos touros que corerão e o joguo de canas que jugaram» - cf. carta do ouvidor de Cochim, 

Manuel Barrada, a D. João de Castro, Cochim, 5.XII.1547, pub. in CSL, vol. III, p. 549.  

413


 Cf. carta do Pe. Miguel Vaz a D. João III, Cochim, 6.I.1543, pub. in DHMPPO-I, vol.  II, p. 

331; carta de D. Garcia de Castro a D. João III, Cochim, 3.XII.1543, pub. in  «Cartas de 

“Serviços”...», ed. Luís de Albuquerque & José Pereira da Costa, p. 344; Lendas, vol. IV, pp. 


Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II 

 

233 



emitir sinais fiáveis de  aquietação,  manifestou-se  disposto a promover uma 

activa colaboração comercial

414

. Foi reportada a circulação de navios franceses 



perto da costa do Achém, na ilha de Samatra, sem que daí redundassem 

incidentes

415

.  Agitação maior  foi causada, em 1544, pelo reacendimento do 



diferendo luso-castelhano  em torno das ilhas de Maluco,  consequência da 

acostagem a Ternate da expedição de Ruy López de Villalobos. Martim Afonso 

de Sousa foi lesto a despachar uma armada para a região, cujo comando 

atribuiu a um dos seus antigos fiéis, Fernão de Sousa de Távora,  o qual teve 

artes para ajudar a debelar a crise antes  que se tornasse inevitável a 

intervenção armada

416



Em pouco mais de três anos de mandato , a única operação militar 



consequente em que  o Estado da Índia se enredou teve como elemento de 

percursão o próprio governador. Tratou-se da ofensiva dirigida contra Baticalá, 


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