Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas


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Não obstante,  o filho de D. Brites de Sousa capitalizava em proveito próprio 

um significativo laço de união aos Braganças, ainda que de foro informal, logo 

inspirando particulares cuidados a D. João II, no seguimento da profunda 

crise que o rei fez abater sobre a dita Casa em  1483. Daí que não haja 

motivo de surpresa no constrangimento a que D. Afonso foi sujeito, naquele 

preciso ano, para enveredar pela carreira eclesiástica, vindo a sentar-se no 

trono episcopal de Évora a partir de 1485

210

, nem  na relação estremecida que 



Príncipe Perfeito sempre alimentou com ele

211


.  

Além de Fernão, de Pêro e de D. Brites, existem fundadas razões para 

supor que também  Rui de Sousa se conservou na esfera de influência dos 

senhores de Vila Viçosa, ainda que de modo mais fugaz. Pelo menos, é essa 

a interpretação sugerida pela falta de evidências que o impliquem 

directamente, em complementaridade com a circunstância de,  ainda durante 

o reinado de D. João II e, sobretudo, nos posteriores, se acharem vários dos 

seus descendentes entre os apaniguados dos Braganças

212



Pela mesma altura em que se começou  a adensar  a ligação entre os 



Sousas Chichorro e a Casa brigantina , desenhou-se o vínculo de João de 

Sousa a outra das personalidades de referência da sociedade portuguesa de 

                                                 

209


 Cf. HGCRP, vol. X, p. 317. 

210


 Cf. Garcia de Resende, Crónica de Dom João II e Miscelânea, Lisboa, IN-CM, 1973, p. 87 

Brasões, vol. III, p. 378. 

211

 Cf. Garcia de Resende, Crónica..., p. 259. 



212

 Estiveram nesta situação: 

- D. Martinho de Távora, segundo filho de Rui de Sousa e alcaide-mor de Sousel – cf. Ibidem

p. 250. 


- D. António de Sousa, segundo filho de D. Martinho e neto de Rui de Sousa, alcaide-mor de 

Sousel – cf. HGCRP, vol. XII-parte II, p. 116 e  Nobiliário, vol. X, p. 542. 

- D. Manuel de Távora, terceiro filho de D. Martinho e neto de Rui de Sousa, alcaide-mor de 

Alter do Chão e vedor de D. Jaime, 4º duque de Bragança  – cf. HGCRP, vol. XII-parte II, p. 

119 e  Nobiliário, vol. X, p. 542. 

- D. Martinho de Sousa e Távora, primeiro filho de D. António e bisneto de Rui de Sousa

alcaide-mor de Sousel – cf. HGCRP, vol. XII-parte II, p. 117 e  Nobiliário, vol. X, p. 543. 

- D. Martinho de Távora e Sousa, primeiro filho de D. Manuel de Távora e bisneto de Rui de 

Sousa, alcaide-mor de Alter do Chão – cf. HGCRP, vol. XII-parte II, p. 119 e  Nobiliário, vol. X, 

p. 542. 


- D. Dinis de Sousa, quinto filho de D. António de Sousa e bisneto de Rui de Sousa, com 

acção conhecida nos finais do reinado de D. Sebastião e nos inícios da dinastia Filipina, 

vinculado ao serviço da Casa de Bragança – cf. HGCRP, vol. XII-parte II, p. 116. 

Veja-se o Anexo Genealógico nº III. 



Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

 

72 



 

meados de Quatrocentos. A referência respeita ao infante D. Fernando, irmão 

de D. Afonso V e herdeiro do ducado de Viseu, na condição de filho adoptivo 

do infante D. Henrique

213

. João de Sousa já estava integrado na Casa de D. 



Fernando, com o estatuto de fidalgo, em 1455

214


 e haveria de ganhar 

destaque, junto dele , na posição de capitão dos ginetes

215



Os indícios reunidos parecem, assim, convergir no sentido de que, 



obedecendo a uma orientação provavelmente gizada pelo pai Martim Afonso 

de Sousa, cuja morte, recorde-se, sobreveio exactamente em 1455

216

, os 


elementos da linhagem estavam  a ser  colocados ao serviço das principais 

instâncias de poder e de distribuição de mercês, em  desenvolvimento no 

interior do Reino, assegurando o cabal provimento de cada um e a difusão da 

influência do grupo, tanto em profundidade como em extensão. Dir-se-ia que 

uma rede de valimento por parte da linhagem estava a ganhar contornos, 

aproveitando todas as potencialidades derivadas do processo de curialização, 

que alastrou da órbita régia às grandes casas senhoriais portuguesas de 

Quatrocentos, assim como do empenho  destas em se auto -promoverem 

politicamente por via do recrutamento de clientelas

217


.   

No caso específico de João de Sousa,  a concomitante  subordinação 

ao monarca e a um grande do Reino não é apurada através dos livros de 

matrícula da Casa Real, mas é de ressalvar que se encontra bem vincada no 

epitáfio tumular do próprio fidalgo. Aí fez-se ele apresentar como «criado del-

rei Dom Afonso, o quinto, e do senhor infante seu irmão, seus senhores, e 

por serviço de Deus e deles, e por honra do Reino, foi em dezoito pelejas de 

mouros, nas partes de além-mar, e nas pelejas foi ferido de sete feridas e foi 

cercado três vezes...»

218


A definição de tal ideário de serviço seria, genericamente,  partilhada 

pelos  irmãos de João de Sousa.  Significava isto que acrescentavam ao 

                                                 

213

 Sobre a centralidade política e social que assistiu ao infante D. Fernando, especialmente, 



durante o terceiro quartel do século XV, veja-se João Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel I...

pp. 29-41.  

214

 Cf. carta de doação  da renda do serviço real e novo dos judeus da cidade da Guarda, 



Lisboa, 27.IV.1455, in IANTT, Ch. de D. Afonso V, l. 15, fl. 148.  

215


 Cf. Linhagens, p. 35; HGCRP, vol. XII-parte II, p. 270; Nobiliário, vol. X, p. 570; e Brasões

vol. I, p. 228.  

216

 Cf. supra p. 46. 



217

 Cf. Mafalda Soares da Cunha, «Nobreza, Rivalidade...», pp. 34-37.  

218

  Citação modernizada e com abreviaturas desenvolvidas em relação à transcrição 



epigráfica pub. in Brasões, vol. I, p. 229.  

Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

  73 


 

consilium  devido aos respectivos patronos, e em especial  ao soberano, em 

cujo órgão de consulta tinham voz activa , outra obrigação não menos 

tradicional e fundamental, a de auxilium , exteriorizada em vários domínios, de 

que o mais emblemático era, sem dúvida, a guerra. A actividade bélica dava-

lhes ensejo de justificar a pertença à ordem nobiliárquica e de retribuir ou 

estimular os favores dispensados pelas entidades tutelares, mas também de 

elevar a honra da linhagem pela prática de feitos valorosos. 

 No decurso do 3º quartel do século XV,  foram muitas as 

oportunidades que se apresentaram aos  Sousas Chichorro para  cumprirem 

esses objectivos

219

. As campanhas marroquinas estiveram na origem directa 



da maioria

220


. Rui de Sousa, Vasco Martins de Sousa Chichorro e João de 

Sousa estiveram presentes na defesa do cerco montado pelo rei de Fez 

contra Alcácer Ceguer, em 1459,  presumindo-se  que permaneceram na 

região desde a tomada da praça, no ano anterior

221

.  Os três irmãos voltaram 



a cruzar o estreito de Gibraltar a fim de participarem no assalto frustrado a 

Tânger, em 1464, assinalando-se como substancial diferença que Vasco 

Martins ostentava, desde há dois anos, a patente de capitão dos ginetes do 

rei


222

. João de Sousa seguiu de Alcácer para Tânger, integrando a hoste do 

infante

223


. No auge da refrega, que coincidiu com a escalada da muralha da 

praça, combateu corpo a corpo com um dos defensores muçulmanos e, 

avaliando o grau de resistência local, deu aviso a D. Fernando para que não 

subissem mais homens

224

. Da intervenção de Rui e Vasco Martins nesta fase 



                                                 

219


  Foi sugerido que Fernão de Sousa terá sido o primeiro a pegar em armas, no ano de 

1437, aquando da fracassada expedição a Tânger, dirigida pelo infante D. Henrique  – cf. 

HGRCR, tomo XII-parte II, p. 4 e  Nobiliário, vol. X, p. 536. O fidalgo seria então um 

adolescente, pelo que o facto não se reveste de impossibilidade. Parece, no entanto, mais 

verosímil que se tenha tratado do homónimo, filho do comendador-mor da Ordem de Cristo, 

Fr. Gonçalo de Sousa, como é sugerido por Geneviève Bouchon & Luís Filipe Thomaz – cf. 

«Tableau I: Les Branches des Sousa Apparentées à António de Brito o Velho», in Voyage...   

220


 Uma perspectiva de enquadramento mais aturada pode ser colhida em David Lopes,  

Expansão em Marrocos, Lisboa, Teorema & O Jornal, s.d., pp. 22-27 e Bernard 

Rosenberger, «Le Portugal et l’Islam Maghrebin (XVe-XVIe Siècles)», in  Histoire du Portugal 



– Histoire Européenne. Actes du Colloque..., Paris, FCG-CCP, 1987, pp. 63-68. 

221


  Cf.  Gomes Eanes de Zurara,  Crónica do Conde D. Duarte de Meneses, Lisboa, UNL-

FCSH, 1978, pp. 129, 138, 159, 170, 172, 206 e 234.  

222

 Cf. carta de nomeação, Porto, 27.VII.1462, in IANTT, Ch. de D. Afonso V, l. 9, fl. 75.   



223

 Cf. Gomes Eanes de Zurara, Crónica do Conde..., pp. 337 e 343-345. 

224

  Cf.  Rui de Pina, «Chronica do Senhor Rey D. Affonso V», in  Crónicas, Porto, Lello & 



Irmão, 1977, pp. 806-807.  

Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

 

74 



 

dos acontecimentos recebeu-se um eco reduzido ou nulo

225

. De fracasso em 



fracasso, ao menos ficou bem patente a participação dos últimos na tentativa 

de esforço redentor que constituiu a cavalgada feita pela serra de Benacofu 

dentro, sob liderança pessoal de D. Afonso V. O capitão dos ginetes do rei foi 

um dos fidalgos que se salientou na reacção à emboscada sofrida,  que 

ameaçou a vida do próprio  monarca, mas talvez  Rui de Sousa seja 

merecedor de destaque superior,  uma vez ter sido ele a zelar para que os 

inimigos não se apoderassem do estandarte real, sob pena de agravamento 

da humilhação sofrida

226

. Quando Tânger foi finalmente submetida, em 1471, 



apenas Vasco Martins

227


 e João de Sousa

228


 terão presenciado a vitória. 

 

O episódio  que  contribuiu para congregar mais irmãos  Sousas 



Chichorro  num cenário  de conflito foi o da invasão de Castela

229


, perpetrada 

entre 1475 e 1476,  num sinal eloquente da magnitude da empresa e da 

centralidade do soberano no quadro de fidelidades que lhes regulava  as 

acções. Isabel,  a Católica, subira ao trono do país vizinho em 1474, 

explorando as  dúvidas relativas à paternidade da rival D. Joana, dita a 

Beltraneja. Acto contíguo, D. Afonso V passou a representar e a defender  a 

razão desta sobrinha , na expectativa  nada gratuita de vir a reinar, junto dela, 

sobre os domínios castelhanos

230


 

Cumpre registar que os membros da linhagem não se limitaram, neste 



contexto, ao papel convencional de luta armada.  Vasco Martins de Sousa 

Chichorro teve um desempenho vital, protagonizando uma travessia nocturna 

do Douro, a nado, para precaver o príncipe D. João contra a chamada 

«traição da ponte de Zamora»

231

. Rui de Sousa foi aproveitado como agente 



                                                 

225


 Apenas Gomes Eanes de Zurara referencia a acção de Vasco Martins – cf.  Crónica do 

Conde..., p. 339.  

226


 Cf. Ibidem, pp. 355-356 e Rui de Pina, «Chronica...», p. 813. 

227


 Cf. HGCRP, vol. XII-parte II, p. 252. 

228


 Cf. Brasões, vol. I, p. 229, com base na reprodução do teor do epitáfio de João de Sousa, 

que também atesta a sua presença no feito de Anafé, em 1468.  

229

 Cf. Rui de Pina, «Chronica...», pp. 832, 835, 843, 845; Garcia de Resende, Crónica..., pp. 



11-12; e  Brasões, vol. I, p. 229, com base na reprodução do teor do epitáfio de João de 

Sousa. Fernão de Sousa corporizou a única excepção, porventura explicada por uma morte 

recente  – veja-se supra nota nº 195.  

230


 Sobre esta conjuntura  vejam-se os estudos de Joseph Pérez, Isabel y Fernado, los Reyes 

Católicos, Hondarribia, Editorial Nerea, 2001, pp. 60-73; Luis Suárez Fernández, Nobleza y 

Monarquía: Entendimiento y Rivalidad.  El Proceso de la Construcción de la Corona 

Española, Madrid, La Esfera de los Libros, 2003, pp. 331-396; Saúl António Gomes,  D. 

Afonso V..., pp. 198-216 e Luís Adão da Fonseca, D. João II, pp. 35-50.   

231


 Cf. Garcia de Resende, Crónica..., p. 9. 

Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

  75 


 

diplomático, numa derradeira e frustrada diligência de negociação de paz, às 

vésperas da batalha de Toro, que foi travada nos inícios de Março de 1476

232


Após o resultado pouco animador deste confronto  para o partido português, 

Pêro de Sousa foi incumbido por D. Afonso V da missão de  concertar  uma 

aliança com Luís XI

233

, antecipando a deslocação do rei de Portugal, em 



pessoa, até à corte francesa. O primeiro varão de Rui de Sousa, que então 

respondia simplesmente como João Rodrigues de Sousa

234

, foi ferido em 



combate  em solo castelhano

235


, adivinhando-se ter escapado sem grandes 

mazelas,  porquanto, em 1477,  foi um dos enviados ao acampamento de D. 

Alonso de Monroy, mestre da ordem castelhana de Alcântara, que se 

preparava para acometer Évora

236



 



O diferendo luso-castelhano apenas cessou em 1479, com a 

assinatura do Tratado de Alcáçovas, saldando-se pela abdicação das 

pretensões de D. Afonso V relativamente à Coroa castelhana e pela integral 

salvaguarda dos interesses ultramarinos nacionais

237

. Em termos  puramente 



individuais, a  Beltraneja resultou ser a personagem  mais penalizada, 

constrangida que foi a abraçar a vida monástica, a bem da tranquilidade de 

espírito de Isabel de Castela e de  Fernando de Aragão. Os  Reis Católicos 

não se comprazeriam com uma mera aquiescência do poder político 

português no que toca a matéria tão sensível. Desta sorte, exigiram um 

instrumento de prova do noviciado de D. Joana, consumado em Coimbra, nos 

finais de 1480, que fosse sustentado por testemunhos de qualidade 

insuspeita. A delicadeza da questão voltou a realçar o peso adquirido por Rui 

de Sousa, que foi um dos eleitos para executar a tarefa

238


.  

                                                 

232

 Cf. Ibidem, p. 11 e Rui de Pina, «Chronica...», p. 843. 



233

 Cf. Rui de Pina, «Chronica...», p. 845. 

234

 A partir de 1490, pôde usar a designação mais distinta de D. João de Sousa – cf. Brasões



vol. I, p. 214 e infra p. 78. 

235


  Cf. Garcia de Resende,  Crónica..., p. 9. D. António Caetano de Sousa dá ainda como 

certa a presença de D. Martinho de Távora, filho de Rui de Sousa e irmão de João 

Rodrigues, na hoste que se demorou em Castela  – cf. HGCRP, vol. XII-parte II, p. 114. Veja-

se o Anexo Genealógico nº III. 

236

 Cf. Garcia de Resende, Crónica..., p. 17. 



237

 Cf. Luís Adão da Fonseca,  D. João II, pp. 50-59; João Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel 



I..., pp. 46-47 e  Carmem M. Radulet, «Os Descobrimentos Portugueses e o Tratado de 

Alcáçovas», in Portugal no Mundo, dir. Luís de Albuquerque, vol. I, Lisboa, Publicações Alfa, 

1993, pp. 333-346.  

238


 Cf. «Juramento do bispo de Coimbra, conde de Abrantes, Rui de Sousa..., a petição dos 

embaixadores dos Reis Católicos..., de que a monja que havia feito profissão nesse dia era 

realmente D. Joana, sobrinha de Afonso V»,  Coimbra, 15.XI.1480, pub. in  Documentos 


Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

 

76 



 

 

Os Sousas Chichorro perfila vam-se, sem margem para dúvidas, como 



homens de mão da Coroa, com base numa relação de solidariedade político-

social e, inclusive, de proximidade física, aferida pelo desempenho de 

funções que exigiam  presença regular na corte ou forte ligação ao aparelho 

do Estado

239

. Vasco Martins de Sousa Chichorro, na posição de capitão dos 



ginetes do  Africano, era somente um dos exemplos disponíveis. Será 

necessário atentar ainda nos casos de Rui e de Pêro de Sousa para se 

esboçar uma ideia mais consistente a este respeito. 

 

Em Dezembro de 1454, Rui de Sousa aparecia nos registos da 



Chancelaria Real na condição simultânea de alcaide-mor do castelo de 

Pinhel


240

 e de vedor da Casa da rainha D. Isabel

241

. Não se sabe durante 



quanto tempo este ve investido nessas funções, nem como conciliava o 

exercício do ponto de vista geográfico, mas a experiência de trabalho junto da 

consorte de D. Afonso V deverá ter sido positiva, a ponto de, cerca de vinte 

anos volvidos, se achar na dependência de outro membro da família real, 

desta feita,  o herdeiro do trono, futuro D. João II,  de quem era meirinho-

mor


242

. O  Príncipe Perfeito  teve sobejas oportunidades para lhe apreciar o 

carácter e as capacidades, decidindo-se, quando assumiu os poderes régios, 

a integrá-lo na estrutura governativa com tutela sobre a almotaceria-mor

243

. O 


fidalgo, tido publicamente como personalidade muito chegada e favorecida do 

monarca


244

, acabou por renunciar ao lugar, no ano de 1490, em benefício do 

filho primogénito

245


, cujo estabelecimento lhe inspiraria alguns cuidados

246


                                                                                                                                            



Referentes a las Relaciones com Portugal Durante el Reinado de los Reyes Catolicos, ed. 

Antonio de la Torre & Luis Suárez Fernández, vol. II, Valhadolide, CSIC, 1960, pp. 135-136. 

239

 Veja-se o Anexo de Quadros Sinópticos nº I. 



240

 Cf. carta de nomeação da alcaidaria-mor do castelo de Pinhel,  Lisboa, 13.XII.1454, in 

IANTT, Ch. de D. Afonso V, l. 15, fl. 95v.  

241


 

Cf. carta de doação da renda do serviço real dos judeus de Pinhel e dos restantes direitos 

reais da vila e seu termo, Lisboa, 10.XII.1454, in IANTT, Ch. de D. Afonso V, l. 15, fl. 95v.

 

242



 Cf. carta de doação de 18.000 reais nas pescarias do cabo de S. Vicente e de Almadena, 

no termo de Lagos, Zamora, 16. X.1475, in IANTT, Ch. de D. Afonso V, l. 30, fl. 2. 

243

 Cf. carta de nomeação, Évora, 22.XI.1481, in IANTT, Ch. de D. Afonso V, l. 26, fl. 149.



 

244


 Cf. Garcia de Resende, Crónica…, pp. 248-250. 

245


 Cf.  carta de confirmação da almotaceria-mor a João Rodrigues de Sousa, Évora, 

5.II.1490, in IANTT, Ch. de D. João II, l. 17, fl. 40. 

246

 João Rodrigues de Sousa era fruto do primeiro casamento de Rui de Sousa com D. Isabel 



de Sequeira e enfrentava uma situação de fragilidade, em comparação com o meio-irmão D. 

Pedro de Sousa, primeiro varão nascido da união do pai com D. Branca de Vilhena, cujo 

futuro estava condignamente assegurado desde 1477  – veja-se supra pp. 49 e 56 e o Anexo 

Genealógico nº III.   



Martim Afonso de Sousa e a Sua Linhagem – Parte I 

  77 


 

 

De qualquer forma, Rui de Sousa não foi dispensado do serviço real. 



Se, no passado, firmara créditos como embaixador de D. Afonso V aos  Reis 

Católicos

247


, sob a égide de D. João II, pôde aguçar a especialização na área 

diplomática. A renovação de experiência principiou em 1482,  quando foi 

mandatado para  comparecer na corte de Eduardo IV de Inglaterra a fim de 

confirmar tratados anteriores, justificar e legitimar o senhorio luso sobre a 

Guiné  e dissuadir a realização de expedições inglesas àquelas paragens

248


Em 1489, coube-lhe a espinhosa missão de se deslocar ao reino muçulmano 

de Fez para concluir o acordo sobre a fortaleza da Graciosa, que viabilizou a 

retirada a salvo da guarnição portuguesa, após  o duro assédio que ali fora 

experimentado

249


.  A consagração definitiva  como plenipotenciário  foi 

alcançada em Tordesilhas, no ano de 1494. Com efeito, foi a Rui de Sousa 

que coube liderar a delegação incumbida  de acertar com os Castelhanos a 

demarcação das áreas ibéricas de influência nos domínios ultramarino e 

marroquino. Nessa ocasião,  contou com a  colaboração especial de Aires de 

Almada, corregedor dos feitos cíveis da corte e desembargador régio,  bem 

como do próprio filho e almotacé-mor de D. João II

250


 

Embora pautada pelos afazeres do Estado, a existência de Rui de 



Sousa  e dos seus consanguíneos comportaria uma significativa dimensão 

cortesã, aqui entendida na acepção mais mundana. Atender  aos principais 

eventos realizados na corte era determinante para o eficaz funcionamento do 

jogo social, que consistia em ver e ser visto , em apurar sensibilidades e 

estreitar laços com figuras chave. Deste ponto de vista, o  ponto cimeiro do 

reinado do  Príncipe Perfeito coincidiu com os festejos do casamento dos 

príncipes D.  Afonso, de Portugal, e D. Isabel, de Castela, que tiveram lugar 


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