Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
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26 Veja-se o Anexo Genealógico nº III. Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
146 duração 27 . Por decisão também assacada ao Príncipe Perfeito 28 , D. Martinho de Távora obteve o comando de Alcácer Ceguer, do qual continuou a prestar menagem a D. Manuel I 29 . O falecimento de D. Martinho arrastou a nomeação para o mesmo posto do seu filho primogénito, D. Rodrigo de Sousa, com trabalho atestado até 1512 30 .
A situação mais reveladora da importância que o serviço marroquino representava para a linhagem era, no entanto, a de D. Pedro de Sousa. O status emanado do senhorio de Beringel e da alcaidaria-mor de Beja não o instou a declinar a oferta da capitania de Azamor, que lhe foi dirigida pelo Venturoso em 1514 31 . O pleno aproveitamento da oportunidade transformou-o, por aqueles anos, num sério perturbador dos ânimos islâmicos, a par do capitão de Safim, Nuno Fernandes de Ataíde 32 . Sucedeu que, ao contrário das expectativas inicialmente fixadas, D. Pedro não exerceu funções em termos vitalícios, abandonando o lugar em 1516 e ganhando direito à contrapartida de uma tença de 200.000 reais 33 . Em circunstâncias exactas que quedam por esclarecer, D. João III haveria de o recuperar para novos mandatos de chefia em Azamor 34 e em Alcácer Ceguer 35 .
Em páginas anteriores deste texto foi explicada a posição central de D. Pedro de Sousa no seio da estrutura familiar agnática que o acolhia. As
27 Uma grave enfermidade obrigou-o a abdicar da capitania e a regressar ao Reino – cf. Garcia de Resende, Crónica..., pp. 121-122 e Rui de Pina, «Chronica d’ElRei Dom João II», p. 958. 28 Cf. Linhagens, p. 30 e Nobiliário, vol. X, p. 542. 29 Cf. carta de doação a Álvaro Vaz de Brito, Montemor-o-Novo, 4.XII.1495, in IANTT, Ch. de D. Manuel I, l. 40, fls. 71-71v e carta de confirmação de ofício a Brás Dias, Évora, 17.III.1497, IANTT, Ch. de D. Manuel I, l. 30, fl. 76v. 30 Carta de doação da capitania da vila de Alcácer de África, com direitos iguais aos do pai, Lisboa, 5.II.1501, IANTT, Ch. de D. Manuel I, l. 37, fl. 1v; carta de doação do quinto do tributo pago pelos mouros de pazes dos lugares sujeitos à vila de Alcácer Lisboa, 5.II.1501, IANTT, Ch. de D. Manuel I, l. 37, fl. 1v; carta de D. Rodrigo de Sousa a D. Manuel I a respeito da factura do castelo de Alcácer, Alcácer, 22.V.1512, in IANTT, CC, I-11-89; carta de D. Rodrigo de Sousa a D. Manuel I, dando parte de um previsível ataque do rei de Fez, Alcácer, 24.V.1512, in IANTT, CC, I-11-45; carta de D. Rodrigo de Sousa a D. Manuel I, solicitando o envio de socorros para Ceuta e Alcácer para fazer frente ao provável acometimento do rei de Fez, Alcácer, 22.XI.1512, in IANTT, CC, II-35-108; e carta de confirmação de trespasse a D. Rodrigo de Sousa, Évora, 16.XII.1512, in IANTT, Ch. de D. Manuel I, l. 42, fls. 26-26v. 31 Cf. Crónica, III, li e carta de mercê, Lisboa, 2.VI.1514, in IANTT, Ch. de D. Manuel I, l. 15, fl. 115v. 32 Cf. Crónica, III, lxxiiii e André Pinto S. D. Teixeira, «Nuno Fernandes de Ataíde, o Nunca Está Quedo, Capitão de Safim», in ANobreza e a Expansão..., coord. João Paulo Oliveira e Costa, p. 191.
33 Cf. carta de tença, Lisboa, 6.III.1516, in IANTT, Ch. de D. Manuel I, l. 25, fl. 55. 34 Cf. Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila. Crónica Inédita do Século XVI, vol. I, Lisboa, Academia das Ciências, 1915, pp. 401-402. Reportava-se a actividade ao ano de 1523. 35 Cf. HGCRP, vol. XII-parte II, p. 125 e Brasões, vol. III, p. 390, nenhuma das obras facultando referências cronológicas a este respeito. Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
147 aptidões guerreiras e de liderança demonstradas além-mar reforçaram-lhe a saliência pessoal, em relação à qual se mostrou sensível o próprio Piedoso. Partidário de um desenvolvimento moderado e controlado da nobreza titulada
36 , o soberano não prescindiu, em 1525, de criar de raiz o condado do Prado e de o atribuir a D. Pedro 37 . Como sugeriu Jean Aubin, pode ter estado subjacente uma questão de gestão de equilíbrios entre linhagens 38 . É muito significativo, todavia, que a graça régia tenha sido justificada por duas ordens de razão: uma geral, atine nte aos serviços rendidos à Coroa pelo fidalgo, e outra particular, emanada do esforço por ele aplicado na luta contra a mourama norte africana e na ocupação de capitanias naquele território. Se, na sua essência, tal titulação foi concebida para premiar a carreira individual de D. Pedro, aparecendo desarticulada em relação a um objectivo formal de engrandecimento do conjunto dos Sousas Chichorro 39 , é bom notar que o passado e a força destes terão estado subentendidos, uma vez que as concepções aristocráticas de D. João III jamais foram compatíveis com a promoção tão vultuosa de figuras desprovidas de apurada procedência linhagística 40 . Paradoxalmente, tendo sido este monarca responsável pela modernização e adequação do Império a novas conjunturas, implicando isso, entre outros aspectos, o esbatimento do ideal de cruzada 41 , a mercê que conferiu a D. Pedro de Sousa não pôde deixar de expressar um duplo sinal. Por um lado, de consonância com a escolha, feita pela estirpe deste e pela restante alta nobreza nacional, de orientar prioritariamente para Marrocos o serviço ultramarino prestado à Coroa 42 . Por outro lado, de continuidade face às 36 Cf. Jean Aubim, «La Noblesse…», in Le Latin…, vol. I, pp. 371-383. 37 Cf. carta de título, Almeirim, 22. XI.1525, in IANTT, Ch. de D. João III, l. 36, fl. 188v e carta de assentamento com 102.864 reais, Alcochete, 17.XII.1526, in IANTT, Ch. de D. João III, l. 36, fl. 179.
38 Naquele ano, também D. António de Noronha fora feito 1º conde de Linhares. «Peut -être l’élévation d’un Noronha est-elle compensé par celle d’un Sousa, c’est-à-dire d’une lignée intimement liée à la maison de Bragance.» – cf. Jean Aubim, «La Noblesse…», in Le Latin…, vol. I, p. 377. 39 Ao alçar, posteriormente, D. António de Ataíde à condição de 1º conde da Castanheira, o monarca frisou que a isso fora levado pela grande serventia, não discriminada, de que aquele dera provas, bem como pelo «sangue e linhagem» de que descendia e pela Casa que herdara – cf. carta de título, Setúbal, 1.V.1532, in IANTT, Ch. de D. João III, l. 16, fl. 53. De forma inerente, foi-lhe concedido um assentamento de 102.864 reais – cf. carta de assentamento, Setúbal, 10.V.1532, in IANTT, Ch. de D. João III, l. 16, fl. 61. 40 Cf. Jean Aubim, «La Noblesse…», in Le Latin…, vol. I, pp. 375 e 383 41 Cf. supra Introdução, nota nº 31. 42 Cf. Ivana Elbl, «The Overseas Expansion, Nobility and Social Mobility in the Age of Vasco da Gama», in Portuguese Studies Review, vol. VI, nº 2, Durham-New Hampshire, International Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
148 estratégias convencionais de ampliação do quadro de titulares, as quais consideravam, ocasionalmente, o impacto de carreiras construídas fora do Reino, mas limitando as reais hipóteses de elevação a fidalgos familiarizados com o contexto magrebino, com excepção absoluta do descobridor e almirante da Índia, D. Vasco da Gama, que alcançara o condado da Vidigueira com grande dose de persistência pessoal e não pouca relutância da parte de D. Manuel I 43 . Por sinal, o conde do Prado poderia ter sido, na esteira do Gama, o segundo titular a ser empossado como dirigente supremo do Estado da Índia, caso D. João III tivesse acolhido positivamente um parecer emitido por D. Francisco de Portugal, nos finais da década de 1520 44 . Em linha de conformidade com a doutrina e a praxis estatuídas pela primeira nobreza, os principais ramos de Sousas Chichorro tinham-se mantido arredados da fase de reconhecimento geográfico do Atlântico e da costa ocidental africana 45 , bem como do preenchimento das capitanias implantadas naqueles domínios, abandonados à exploração directa da pequena e da média nobreza, menos no que tocava a lucrativas empresas mercantis 46 .
De maneira algo surpreendente, a própria aventura asiática demorou a atrai-los em número significativo. A nobreza de linhagem começou a revelar disposição para embarcar para a Índia logo nos primeiros anos de Quinhentos. A fundação do Estado da Índia, em 1505, e o subsequente incremento da actividade bélica contribuíram para acentuar o movimento, passando a
Conference Group on Portugal, Outono-Inverno 1997-1998, p. 60 e Mafalda Soares da Cunha, «A Casa de Bragança e a Expansão, Séculos XV-XVII», in A Alta Nobreza..., coord. João Paulo Oliveira e Costa & Vítor Luís Gaspar Rodrigues, pp. 303-306. A natureza firme e consciente da preferência foi, ostensivamente, manifestada junto de D. João III em 1538, quando a elite nobiliárquica se mostrou indisponível para demandar o Oriente e suster a ameaça otomana que pendia sobre a Índia. A alegação produzida foi a de que as suas responsabilidades de solidariedade político-militar em relação à Coroa se esgotavam no Norte de África – cf. Ásia, V, iii, 8. 43 Cf. Sanjay Subrahmanyam, A Carreira..., pp. 327-330. 44 A argumentação do vedor da Fazenda e conde do Vimioso baseava-se em que «de todas as coisas que mais agora cumprem, esforço e fieldade [sic] na fazenda são as principais e nestas, a meu ver, não tem ninguém a vantagem e assim tem autoridade para crédito de toda a gente» - cf. carta de D. Francisco de Portugal a D. João III, s.l., 26.VIII.[1526-1528], in IANTT, Cartas
45 Além de reduzidos em número, os indivíduos que não alinharam na opção estavam relegados a uma posição de evidente subalternidade social e política no quadro da linhagem – cf. supra Introdução, nota nº 44 e parte I, nota nº 249. 46 Cf. João Paulo Oliveira e Costa, «A Nobreza e a Expansão...», in A Nobreza e a Expansão..., coord. João Paulo Oliveira e Costa, pp. 16-17; Luís Filipe Oliveira, «A Expansão Quatrocentista...», pp. 199-208B e Andreia Martins de Carvalho & Alexandra Pelúcia, «Os Primeiros Fidalgos...», pp. 127-128.
Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
149 verificar-se a partida de numerosos fidalgos oriundos do topo do grupo nobiliárquico, entre eles filhos, irmãos e outros parentes próximos de senhores de título, alguns obedecendo inclusive a estratégias de grupo 47 . Os Sousas Chichorro reservaram-se, não obstante, a uma atitude relativamente alheada e dilatória, de motivações desconhecidas. Durante a época manuelina, somente cinco elementos tiveram uma presença atestada a Leste do cabo da Boa Esperança. O primeiro foi Aires de Sousa Chichorro, filho bastardo de Garcia de Sousa Chichorro 48 , identificado em algumas operações militares que se desenrolaram entre 1507 e 1508 49 . Coube a João de Sousa de Lima uma segunda e destacada intervenção como capitão-mor da armada do Reino de 1513 50 e com direito a manter o estatuto na torna -viagem da Índia em 1514 51 . Por último, outros três filhos de Garcia de Sousa Chichorro decidiram- se a engrossar o rol de oficiais do Estado da Índia. Foram eles André, Aleixo e Henrique de Sousa Chichorro 52 , de cujo serviço activo existem informações circunscritas ao ano de 1521. Aleixo começou por dispensar os seus préstimos à armada despachada para o Golfo Pérsico a fim de debelar uma revolta do rei do Bahrein contra o soberano de Ormuz 53 , após o que se juntou aos irmãos e ao grosso das forças portuguesas, que procuravam dar expressão prática à
47 Cf. Joaquim Candeias da Silva, O Fundador..., pp. 101-114; João Paulo Oliveira e Costa, «A Nobreza e a Fundação...», in Vasco da Gama..., coord. Joaquim Romero de Magalhães & Jorge Manuel Flores, pp. 49-57 e, em geral, a obra A Alta Nobreza..., coord. João Paulo Oliveira e Costa & Vítor Luís Gaspar Rodrigues. Em todo o caso, tardaria até 1524 que um titular, o 1º conde da Vidigueira, aceitasse desempenhar uma comissão de serviço naquelas paragens, e o segundo só lá chegaria em 1561: o 3º conde do Redondo, D. Francisco Coutinho. 48 Veja-se o Anexo Genealógico nº IV. 49 Citado como um dos jovens fidalgos que foi armado cavaleiro em Brava, nos princípios de 1507, após o sucesso da investida lançada contra aquela povoação suaíli pela dupla esquadra de Tristão da Cunha e Afonso de Albuquerque – cf. Ásia, II, i, 2. Após os actos de guerra decorridos na ilha de Socotorá, tendentes ao estabelecimento de uma fortaleza portuguesa no local, procedeu-se a uma programada divisão da força naval, ficando Aires de Sousa Chichorro sob a autoridade do Leão dos Mares e com ele navegando para o Golfo Pérsico – cf. Lendas, vol. I, p. 810. Como seria de esperar, tomou depois parte nas ofensivas que tiveram lugar em Ormuz – cf. Ibidem, vol. I, pp. 871, 874 e carta de Afonso de Albuquerque a D. Francisco de Almeida, no mar, 15.XII.1508, pub. in CAA, vol. I, p. 18. Por fim, A Emmenta refere-o entre aqueles que seguiram da Índia para Portugal, em 1509 – cf. p. 13. 50 Cf. Emmenta, p. 17; Relação, p. 19; Ásia, II, viii, 6; Lendas, vol. II, p. 361; História, III, cxvi e mandado de Pêro de Mascarenhas a Francisco Corvinel, Goa, 13.IX.1513, pub. in CAA, vol. VII, p. 93. 51 Cf. Ásia, II, x, 1 e carta de Afonso de Albuquerque a D. Manuel I, Goa, 25.X.1514, pub. in CAA, vol. I, p. 318. 52 Veja-se o Anexo Genealógico nº IV. 53 Cf. Ásia, III, vi, 5 e História, V, lix. Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
150 antiga ambição de instalar uma fortaleza no perímetro do Golfo de Cambaia 54 . O projecto vinha esbarrando, reiteradamente, na oposição das autoridades do sultanato do Guzerate, o que condicionou a fixação do interesse do governador Diogo Lopes de Sequeira em Chaul, um centro portuário sob jurisdição do sultão de Ahmadnagar. Foi para ali que acabaram por confluir os três Sousas Chichorro, todos na qualidade de capitães de galés e com encargo de concorrer para a defesa naval da emergente fortaleza face aos ataques desferidos por uma esquadra de fustas guzerates 55 . No auge da refrega, Aleixo sofreu ferimentos que lhe causaram lesões permanentes num dos braços e André, igualmente maltratado e sob fogo pesado, viu-se forçado a abandonar o teatro de operações 56 , sem dele se saberem outras notícias além daquelas, propaladas por alguns nobiliários, que o dão como morto nessa ocasião 57 . Ao longo do primeiro decénio de mando de D. João III continuou a ser reduzido o número de filiados na linhagem que buscaram as paisagens asiáticas, registando-se, em simultâneo, haver quem insistisse em procurar Marrocos como palco inaugural de uma carreira extra-europeia. Foi o caso de Tomé de Sousa, bastardo do abade de Rates 58 e futuro governador-geral do Brasil, cuja actividade como fronteiro em Arzila está atestada para os anos de 1527 a 1528 59 . Os Sousas Chichorro que buscaram horizontes mais longínquos perfizeram um total de cinco a seis indivíduos 60 , grosso modo, divididos em duas levas.
54 As origens do projecto foram abordadas por Jean Aubin, «Albuquerque et les Négotiations de Cambaye», in Le Latin…, vol. II, pp. 197-250.
55 Cf. Lendas, vol. II, pp. 662, 671; História, V, xlviii, lxix e «Relação dos navios que servem na Índia», de 11.V.1522, reportando-se à capitania da galé S. Pedro e Paulo, que estava na posse de André de Sousa Chichorro em 24.IX.1521, pub. in DPMAC, vol. VI, p. 98. 56 Cf. Ásia, III, vi, 9; História, V, lxxiii, lxxv; e Lendas, vol. II, p. 668 57 Cf. HGCRP, vol. XII-parte II, p. 256 e Nobiliário, vol. X, p. 559. 58 Veja-se o Anexo Genealógico nº VII. 59 Nesse âmbito, liderou algumas entradas sobre aldeias muçulmanas das redondezas – cf. Frei Luís de Sousa, Anais..., vol. II, pp. 12-13, 48-40 e Bernardo Rodrigues, Anais..., vol. II, pp. 66, 85. 60 A dúvida resulta da ignorância das datas que balizaram a experiência de Cristóvão de Sousa, filho de Gonçalo de Sousa, o Lavrador, acerca de quem há a simples notícia de que faleceu na Índia – Veja-se o Anexo Genealógico nº VII e cf. Linhagens, p. 34. Não foi possível rastrear com segurança mínima a acção do fidalgo no Oriente, por onde circularam alguns homónimos. Sabendo-se que o irmão mais novo, Manuel de Sousa, iniciou carreira no Subcontinente em finais da década de 1520, pode conceber-s e que Cristóvão tenha sido o primeiro a abandonar o Reino, mas sem um hiato de tempo exagerado – veja-se infra pp. 151 e 153.
Martim Afonso de Sousa e a Susa Linhagem – Parte II
151 Estiveram ligados à primeira Fernão Martins de Sousa e Martim Afonso de Sousa, irmãos de João de Sousa de Lima 61 , cujas diligências se podem rastrear nos anos de 1524 e 1525. Fernão foi testemunha da transmissão de poderes entre o governador D. Duarte de Meneses e o vice-rei D. Vasco da Gama, a 4 de Dezembro de 1524 62 . Por ordem emanada do conde da Vidigueira, que morreria dali a vinte dias, ou do sucessor Lopo Vaz de Sampaio, capitaneou um navio, que deveria aportar a Melinde para carregar breu, o qual veio a soçobrar num naufrágio, arrastando o oficial para a morte 63 . Por seu turno, Martim Afonso desempenhava as funções de capitão-mor da armada de patrulha entre a costa indiana do Malabar e a ilha de Ceilão quando foi nomeado capitão-mor do mar de Malaca, com a incumbência imediata de aliviar o entreposto malaio da pressão militar exercida pelo sultão de Bintão. Durante o tempo em que esteve de posse do segundo cargo, entre os meados de 1524 e de 1525, o fidalgo organizou um eficaz bloqueio ao rio de Bintão e vários actos de saque contra os portos de Pão e de Patane. Não sobreviveu, porém, a ulteriores combates travados, ao largo de Malaca, contra unidades navais do rival bintanês 64 . A armada aparelhada para conduzir o governador Nuno da Cunha até ao subcontinente indiano , em 1528, serviu de transporte aos restantes três elementos activos nesta fase: Aleixo e Henrique de Sousa Chichorro, em repetição da experiência asiática, e o primo Manuel de Sousa 65 , numa prova de iniciação. Nenhum deles ia provido da capitania de velas da Carreira, se bem que D. João III tivesse reconhecido valor suficiente a Manuel de Sousa para lhe conceder, logo na estreia no serviço ultramarino, a capitania-mor da armada de Ormuz, na vagante dos providos 66 , e a Aleixo de Sousa para lhe confiar uma das principais fortalezas portuguesas na Ásia, a de Goa, na vagante de Pêro
61 Veja-se o Anexo Genealógico nº V. 62 Cf. Ásia, III, ix, 2 e História, V, lxxxvii. 63 Cf. Ásia, III, ix, 2 e História, V, lxxxviii. 64 Cf. Ásia, III, x, 2; Ásia, V, lxi; História, VI, lvi, xcvii; Lendas, vol. III, p. 800; Frei Luís de Sousa, Anais..., vol. I, p. 257; e «Lembranças das cousas da India em 1525», pub. in Subsídios para a História da Índia Portugueza, dir. Rodrigo José de Lima Felner, Lisboa, Academia Real das Ciências, 1868, pp. 6-7. 65 Veja-se o Anexo Genealógico nº VII. 66 Cf. carta de mercê, Coimbra, 19.X.1527, in IANTT, Ch. de D. João III, l. 30, fl. 169v e registo da mercê, Almeirim, 8.II.1528, pub. in RCI, vol. I, p. 48, nº 211. A posição fugiu-lhe no ano de 1529, em prol de Belchior de Sousa Tavares, a pedido do governador Nuno da Cunha e com consentimento próprio. Estimulou-o a isso a perspectiva de vir a obter a capitania da praça de Diu, que estava então sob mira de conquista das armas portuguesas – cf. Àsia – I, IV, iii, 16. |
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