Adriana nely dornas moura
Breves considerações da arte no Brasil
Download 5.01 Kb. Pdf ko'rish
|
- Bu sahifa navigatsiya:
- 2.2.2 Breves considerações do artesanato no Brasil
- 2.3 Design 2.3.1 Breve cronologia conceitual e histórica do design no Brasil e no mundo
2.2.1.1 Breves considerações da arte no Brasil A arte contemporânea brasileira representa muito a cultura multifacetada do país, bem como, o ritual de transformação sugerida por Cidreira (2005). Ressalta-se que, somado às questões identitárias e culturais, aparece também o fator econômico como requisito que permeia a arte brasileira. Costa (2010, p. 419) afirma que relacionar a arte à economia não trata de simplificá-la, mas de apresentar a teia complexa em que está inserida “[...] a arte existe basicamente em função da capacidade de produzi-la, que advém de recursos materiais, portanto, financeiros”. Para Costa (2010), o fator econômico contribui para que a genialidade de alguns artistas seja representada em perfeitas soluções de estética e de material. No entanto, o autor chama a atenção para a circunstância do fator econômico se sobrepor à espontaneidade criativa do artista. Nesse caso, os critérios de perfeição são negligenciados, comprometendo seriamente o resultado estético da obra de arte. Por sua vez, Agostinetti (2008) afirma que, desde o século XIX, os artistas enxergam a arte como algo repressor e inibidor de forças inconscientes, 30 transformando-os em subversivos e transgressores da ordem. Desde essa época, as obras passaram a refletir ideias próprias e não mais universais. Esse novo conceito posteriormente eleva a arte moderna ao estágio de arte pós-moderna onde o neoconcretismo se instituiu no campo cultural brasileiro no final dos anos 1950. Artistas como Lygia Clark (1920-1988), Amílcar de Castro (1920- 2002), entre outros, participaram da primeira exposição de Arte Neoconcreta no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro no ano de 1959. Obras neoconcretas dão aos espectadores a possibilidade de interação com elas. Nesse caso, o público assume uma posição crítica e atuante em relação à obra. Segundo Agostinetti (2008), houve uma época no Brasil em que os artistas se preocupavam em criticar o país, especialmente na época da ditadura militar. O fruto do trabalho dos artistas nessa época era designado de arte conceitual onde o objeto reproduzido desmaterializava, confundindo a vida cotidiana com processos, ideias e conceitos representados em filmes, vídeos, fotografias, entre outros. As Figuras 1 e 2 a seguir são exemplos de obras conceituais, conforme Agostinetti (2008). 31 Figura 1 – Série Bicho (Lígia Clark) Fonte: CLARK, s.d. Figura 2 – Parangolé (Hélio Oiticica) Fonte: OITICICA, s.d. 2.2.2 Breves considerações do artesanato no Brasil O vocábulo artesanato surgiu de um neologismo francês “artisanat – artisan = 32 artífice” (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, 2004, p. 5). Conceitualmente, artesanato é definido pelo Conselho Mundial do Artesanato (CMA) como “toda atividade produtiva que resulte em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade”. O pesquisador Melo et al. (2002, p. 11) afirma: o artesanato é um exemplo de produção cultural popular que resistiu e resistirá a todas e quaisquer alterações impostas pelo tempo. O artesanato acompanha o tempo sem querer vencê-lo e não aceitando sua dominação. Assim, na atualidade os valores do passado estão mais vivos e são ressaltados no imaginário que povoa a criação de uma cultura material adaptada ao universo contemporâneo. Já, sob o ponto de vista de Paz (1991, p. 51), no artesanato “[...] há um contínuo vaivém entre utilidade e beleza; esse vaivém tem um nome: prazer. As coisas dão prazer porque são úteis e belas. [...] o artesanato é uma espécie de festa do objeto: transforma o utensílio em signo de participação”. Diante das afirmações anteriores, pode-se entender que o artesanato exemplifica a riqueza cultural de uma determinada região; afinal trata-se de uma produção cultural, territorial mutante, que resiste a todas e quaisquer alterações impostas pelo tempo. Segundo Dorfles (1991), o artesanato é um autêntico diferenciador de produtos. Em outras palavras, o resultado de um produto do artesanato será diferenciado mesmo quando submetido a uma repetição, ou seja, se produzido sequencialmente não haverá absolutismo ou igualdade nas formas. No que diz respeito ao profissional do artesanato, os chamados “artesãos”, Martins (1973) descreve que essa denominação surgiu entre os séculos X, XI, XII em torno dos castelos europeus nos chamados burgos. Na época, a matéria prima utilizada por eles era própria da região e a produção seguia mediante as técnicas tradicionais oriundas das formas de vida e história dos artesãos. Roizenbruch (2009, p. 58) explica que desde essa época o artesão é responsável por passar suas técnicas e sua experiência de geração em geração, tornando o artesanato uma prática que associa “o passado ao presente”. É por isso que, de uma forma ou de outra, os profissionais do artesanato retratam em suas peças um estilo cultural, pelo uso dos materiais, forma, e/ou linguagem. 33 Esse contexto vivenciado e materializado pelos artesãos exige desses profissionais uma destreza e habilidade ímpares, distanciando o resultado do trabalho da categoria simplista que possa parecer. Pelo contrário, conforme afirma Barroso Neto (2000), essa atividade exige muitas vezes engenhosidade nas formas, usos e funções para revelar a criatividade de quem a produz. É por esse motivo que, segundo Dorfles (1991, p. 22), nos dias de hoje o objeto artesanal está destinado a ser uma obra de exceção, precisamente pela necessidade da constante presença do artesão, tornando impossível a sua produção em série. [...] por isso o artesanato será em breve um gênero de produção em tudo análogo ao da pintura e escultura, que terá como finalidade a criação de objetos únicos e irrepetíveis, os quais, exatamente por esse motivo, serão avaliados cada um por si e de custo elevado. Para definir e caracterizar o trabalho artesanal, Martins (1973, p. 57) aponta quatro pontos a se destacar: 1- como sistema de trabalho que engloba diversos processos artesanais, o artesanato assinala um avanço cultural e só apareceu como consequência da divisão do campo ocupacional no período histórico em que a precisão de meios de subsistência e os hábitos de vida em sociedade passaram a exigir maior produção de bens; 2- sendo o artesanato uma manifestação da vida comunitária, o trabalho se orienta no sentido de produzir objetos de uso mais comum no lugar, seja em função utilitária, como lúdica, decorativa ou religiosa; 3- o artesanato é um sistema de trabalho do povo, se bem que pode ser encontrado em todas as camadas sociais e níveis culturais; 4- o artesanato é prático, sendo informal sua aprendizagem. O que o artesão faz, cria-o ele próprio, ou aprendeu na tenda artesanal da família ou do vizinho, observando como este fazia, pela vivência e pela imitação, vendo-o trabalhar. Do ponto de vista classificatório, Bolognini (1988) divide o artesanato em: a) erudito aquele que ocorre quando se tem o artesanato dirigido e ensinado; b) folclórico quando a atividade artesanal é exercida de forma espontânea e o conhecimento de materiais e técnicas é transmitido por herança e pela história oral. Considera-se que este último tem particularidades constitutivas da formação social de uma comunidade, de seu tempo e espaço. Analisando o artesanato sob a perspectiva de funções e finalidades, Barroso Neto (2000, p. 5) o separa em: 1) utilitário: são em geral ferramentas e utensílios 34 desenvolvidos para suprir carências e necessidades das populações de menor poder aquisitivo; 2) conceitual: são objetos cuja finalidade principal é o de externar uma reflexão, discurso ou conceito próprio de quem o produz, seja este um individuo ou comunidade; 3) decorativo: são artefatos cuja principal motivação é a busca da beleza, com a finalidade de harmonizar os espaços de convívio; 4) litúrgico: são produtos de finalidade ritualística destinados a práticas religiosas ou místicas; 5) lúdicos: são produtos destinados ao entretenimento de adultos e crianças intimamente relacionados a práticas folclóricas e tradicionais. Mas o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2004, p. 8) classifica o artesanato em: • Artesanato indígena: objetos produzidos no seio de uma comunidade indígena, por seus próprios membros; em sua maioria, resultantes de uma produção coletiva, incorporada ao cotidiano da vida tribal. • Artesanato tradicional: conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um determinado grupo representativo de suas tradições. Sua produção é, em geral, de origem familiar ou de pequenos grupos vizinhos e sua importância e seu valor cultural decorrem do fato de ser depositário de um passado, acompanhando histórias transmitidas de geração em geração. • Artesanato de referência cultural: produtos cuja característica é a incorporação de elementos culturais tradicionais da região onde são produzidos. São, em geral, resultantes de uma intervenção planejada de artistas e designers, em parceria com os artesãos, sempre preservando seus traços culturais mais representativos. • Artesanato conceitual: objetos produzidos por pessoas com alguma formação artística, de nível educacional e cultural mais elevado, geralmente de origem urbana. Tem na inovação o seu elemento principal. Por detrás desses produtos existe sempre uma proposta, uma afirmação sobre estilos de vida e de valores. A partir da identificação dos diferentes tipos classificatórios de artesanato, percebe-se sua importância social adquirida, principalmente por possibilitar melhores condições de vida para diversas comunidades, apresentando-se como estímulo econômico gerador de capacitação de mão de obra e agente de resgate dos traços identitários das culturas dessas comunidades. Krucken (2009, p. 26) conceitua esta experiência como “qualidade percebida”. Para a autora, o valor de um produto associa-se à confiança construída em relação à sua origem e o local de produção. A autora já afirmou anteriormente que a percepção de um produto é parte de um território. É importante ressaltar que o artesanato brasileiro tem expressiva contribuição do povo indígena, tendo permitido que vários materiais e novas técnicas fossem 35 incorporadas nesse ofício. A arte de trançar fibras vegetais, o reaproveitamento de couro e pele de animais, o manuseio do barro, entre outros, são um legado deixado pelos índios, presente em várias regiões do país. O artesanato indígena, em sua maioria, é resultante de uma produção coletiva que prescinde da figura do artista, pois obedece a uma lógica e divisão de trabalho, na qual as peças são feitas por duas pessoas ou mais. O artesanato tradicional é baseado na produção familiar ou de grupos favorecendo a continuação de técnicas e processos originais advindos de uma cultura e tradição locais. Barroso Neto (2000, p. 29) afirma que nessa modalidade de artesanato pouco se inova em termos formais ou em processo de produção, no entanto, pode sugerir uma “intervenção planejada de artistas e designers em parceria com os artesãos, com o objetivo de diversificar os produtos, porém, preservando seus traços culturais mais representativos”. Algumas entidades incentivam essa parceria mencionada por Barroso Neto (2000). Podem ser citados os programas governamentais surgidos a partir de 1977 com o objetivo de estimular o desenvolvimento e a promoção do artesanato, bem como, a criação de cooperativas para o oferecimento de renda às famílias. O Programa Nacional de Desenvolvimento do Artesanato (PNDA) é um exemplo. O Programa do SEBRAE voltado para o artesanato surgiu a partir de 1988, dando uma visão sistêmica à atividade artesanal, atuando em todos os pontos de sua cadeia produtiva. Barroso Neto (2000) afirma que somente essa ação sistêmica e articulada oferece ao artesanato relevância do ponto de vista social, atingindo uma dimensão econômica. Em 1991, surgiu o Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) com o propósito de promover o aprimoramento do artesão, em relação ao seu nível cultural, social e econômico, promovendo o produto artesanal junto ao mercado. Tais programas buscam agregar valor aos produtos, fortalecendo e estimulando a identidade local. A Figura 3, a seguir, apresenta um produto artesanal tipicamente local. 36 Figura 3 – Noivinhas de cerâmica do Vale do Jequitinhonha, MG/Brasil Fonte: ENGLER, 2010, p. 26 e 84. 2.3 Design 2.3.1 Breve cronologia conceitual e histórica do design no Brasil e no mundo Nesta etapa busca-se fazer uma breve cronologia da história do design de modo a abordar seus conceitos atrelados ao exercício do ofício. Isso porque existe uma concordância entre os principais autores pesquisados da impossibilidade em conceituá-lo sem atentar para a origem da profissão e de sua inserção no contexto social e cultural no mundo do trabalho. Niemeyer (1998) compartilha desse pressuposto ao afirmar que essa particularidade é típica do design, dado que tal não aparece em outras áreas. Para ela, o conceito de design é de tamanha singularidade que exige uma descrição minuciosa dos compromissos implícitos ao profissional da área. Couto e Oliveira (1999) acreditam que esse profissional confronta problemas inerentes à sua profissão; destarte, ele encontra indefinições próprias dos limites da atividade, dada a amplitude do conceito de design e de suas diversas aplicações. Mas para Melo et al. (2002) a relação design-designer tornou-se mais esclarecedora 37 a partir de 1996, época da regulamentação da profissão no Brasil, quando o design foi conceituado como: uma atividade especializada de caráter técnico-científico, criativo e artístico, com vista à concepção e desenvolvimento de projetos de objetos e mensagens visuais que equacionem sistematicamente dados ergonômicos, tecnológicos, econômicos, sociais, culturais e estéticos, que atendam concretamente às necessidades humanas (BRASIL. Câmara dos Deputados, 1996, p. 132a). Diante da regulamentação da profissão, Bonsiepe (1997, p. 14) relacionou as atribuições do designer na descrição a seguir: a) observar e analisar as tendências de mercado em design; b) formular as especificações de uso de um produto(funcionalidade de uso); c) elaborar cenários de uso para novos produtos e sistemas de produtos; d) interpretar as contribuições do marketing e traduzi-las numa realidade tangível; e) elaborar conceitos básicos(anteprojetos); f) elaborar detalhes técnicos e formais; g) elaborar propostas para o acabamento, cores, texturas e gráfico do produto; h) participar na seleção dos materiais, dos processos de fabricação e de montagem; i) interpretar testes de usuários; j) contribuir para criar a identidade pública da empresa k) avaliar a compatibilidade ambiental da proposta. Nesse contexto, pressupõe-se que o designer possua sensibilidade estético- formal e conhecimento aprofundado de materiais e processos (BONSIEPE, 1997). Então, a partir da regulamentação da atividade do designer, alguns autores passam a definir o design como uma atividade de projetar, responsável pela determinação das características funcionais, estruturais e estético-formais de um produto, ou sistemas de produtos, para fabricação em série (BONSIEPE,1997). Observa-se que a conceituação anterior apresenta o design como parte integrante de uma atividade mais ampla denominada desenvolvimento de produtos. Sua maior contribuição está na melhoria da qualidade de uso e da qualidade estética de um produto, compatibilizando exigências técnico-funcionais com técnico- econômicas. 38 Em relação ao conceito de design, sabe-se que a palavra design etimologicamente provém do italiano: disegno. Já, no Renascimento, o termo disegno significava o esboço de uma obra de arte a ser realizada, o que era diferente do termo disegno esterno, que significava obra acabada. Esse relato é afirmado por Schneider (2010, p. 9) quando o mesmo referencia design como sendo “um fenômeno de cultura de massas, que marca as percepções e que, por isso, participa de modo decisivo na constituição de juízos de gosto generalizados”. Mas, de acordo com ICSID (s.d.), design é uma atividade que tem como objetivo fundamentar as múltiplas faces dos objetos, processos, serviços e seus ciclos de vida. Trata-se de um dos fatores determinantes para inovação das tecnologias, bem como, para propagação das trocas culturais e econômicas, promovendo a humanização dos bens. Numa visão macroeconômica do conceito, Kotler (1989) afirma que design é a tentativa de conjugar a satisfação do cliente com o lucro da empresa, combinando de maneira inovadora o desempenho, a qualidade, a durabilidade, a aparência e o custo. Para Maldonado (1991, p. 14) design é: uma atividade projetual que consiste em determinar as propriedades formais dos objetos produzidos industrialmente. Por propriedades formais não se entende apenas as características exteriores, senão, sobretudo, as relações funcionais e estruturais que fazem com que um produto tenha uma unidade coerente do ponto de vista, tanto do produtor, como do consumidor. Por outro lado Löbach acredita que o design é o processo de adaptação do entorno às necessidades físicas e psíquicas dos indivíduos da sociedade. Para ele, design é “uma ideia, um projeto ou um plano para a solução de um problema determinado” (LÖBACH, 2006, p. 16). A Figura 4 destaca de forma resumida os conceitos de design, dentro de uma cronologia quanto à sua evolução, no tocante à aproximação das questões culturais da sociedade. 39 Figura 4 – Linha cronológica dos conceitos de design Fonte: Adaptado pela autora, anotações da disciplina História do Design, 2010. Em meados do século XVIII, o desenvolvimento da tecnologia possibilitou gradativamente a substituição das manufaturas e formas de produzir, caracterizando o fenômeno que pode ser conhecido como revolução industrial. Segundo Azevedo (1988), nessa ocasião os produtos migraram para um cunho utilitário e eram produzidos com ênfase no baixo custo e na própria eficiência, caracterizando o 40 design como puramente funcional. Melo et al. (2002) destaca que, nessa época, todo produto artístico e/ou artesanal foi subjugado; enfim, como já afirmado, na arte e no artesanato não existe produto que contemple uma produção em série. No entanto, no século XIX, desponta o movimento Arts and Crafts, que teve como ponto fundamental o dualismo da arte pura e arte aplicada. Seu principal objetivo foi marcar uma revisão nos processos de criação. William Morris (1834- 1896), um de seus principais representantes, não via essa nova forma de produção como sendo a melhor de se gerar produtos. Ele era contrário à ideia do processo industrial perante o processo artesanal. Para ele, essa nova compreensão de projetar inferia uma qualidade abaixo à dos produtos fabricados industrialmente. O resultado disso foi a associação entre o design e a personalização estética dos produtos, mesmo que esses fossem fabricados industrialmente. Foi daí que surgiu um novo conceito para o design: o de “design industrial” (MELO et al., 2002, p. 31). Mas, no início do século XX, a revolução industrial ainda causava grande impacto no sistema de produção, principalmente com a introdução da luz elétrica. Nesse cenário, surge, em 1907, na Alemanha, uma organização cultural denominada Werkbund formada por Peter Behrens (1868-1940), Herman Muthesius (1861-1927), Henry Van de Velde (1863-1957), Joseph Olbrich (1867-1908), entre outros empresários, arquitetos, artistas e profissionais das artes e ofícios. Segundo Schneider (2010, p. 49), Behrens já prenunciava a era da industrialização para os produtos ao mencionar que “é necessário renunciar ‘a cópia do trabalho artesanal’, as formas históricas de estilo e a outros materiais”. Os estatutos da Werkbund estabeleciam metas ambiciosas para o profissional das artes, arquitetura e design. Previa o enobrecimento do trabalho profissional, pela colaboração entre as artes, a indústria e o artesanato, por meio da educação, da propaganda e de posicionamentos coesos diante de questões relevantes. Dessa forma, a Werkbund se posicionava na vanguarda da interpretação do design e da sua profissionalização. Essa escola aceitava a produção industrial e defendia uma significativa melhora na qualidade dos produtos e uma ampliação do mercado. Ela pretendia dar continuidade à proposta do Arts and Crafts, o que tornaria um instrumento de melhoria dos artefatos alemães (SCHNEIDER, 2010). 41 Percebe-se então que o início de século XX vivenciou uma necessidade de integração das atividades de projeto por parte do artista, do designer e do artesão, e é nesse novo cenário que aparece a escola Bauhaus na Alemanha, na cidade de Weimar, em 1919, tornando-se uma referência histórica do design no século XX. A Bauhaus foi criada por Walter Gropius (1863-1969) e seguiu a linha da Werkbund, buscando a integração do artesanato e da indústria, dando um sentido prático aos trabalhos de seus alunos e treinando-os como artesãos e/ou designers. Essa escola criou um estilo de desenho simples e livre de ornamentos. Um de seus objetivos foi unir o artesanato e a indústria, partindo da junção das Escolas de Artes e Ofícios com a Academia de Belas Artes. Mas o que a Bauhaus propôs, na prática, foi uma comunhão de todas as formas de trabalho criativo (SCHNEIDER, 2010). Em 1937, a Escola de Chicago foi o centro da primeira fase do modernismo nos Estados Unidos da América. Os responsáveis pela sua fundação foram Louis H. Sullivan (1856-1924), Daniel Burnham (1846-1912), Le Baron Jenny (1832-1907), Frank Lloyd Wrigh (1867-1959) e outros. Essa escola não se limitou somente a influenciar a arquitetura, mas também o design. Louis H. Sullivan tornou-se um dos principais teóricos do funcionalismo ao afirmar que “Form follows function” (a forma segue a função). Essa designação acompanhou a arquitetura moderna e o design durante o século XX até a década de setenta (SCHNEIDER, 2010). Frank Lloyd Wright foi um dos principais representantes da arquitetura moderna no século XX. Ele adotou, desenvolveu e defendeu o conceito orgânico e funcionalista em todos os seus trabalhos quando percebeu que as linhas limpas e retas poderiam ser mais bem confeccionadas pelas máquinas e não pelas mãos humanas (HESKETT,1998). Outras escolas com o mesmo princípio da Bauhaus surgiram após a segunda guerra mundial. Em 1954, foi fundada a Schule Für Gestaltung, na cidade de Ulm, na Alemanha, por Max Bill (1908-1994). Denominada Ulm, essa escola tinha como propósito continuar o trabalho que havia sido interrompido pelo fechamento da Bauhaus. Segundo Schneider (2010), ela se sustentou na teoria e prática do ensino do design. Em 1956, o professor, pintor, designer e teórico Tomas Maldonado 42 redirecionou o curso da Ulm, colocando-o no campo da reflexão e produção em design com bases tecnológicas. Na visão de Niemeyer (1998), Maldonado não concordava com a formatação do ensino do design preconizada pela Bauhaus, ou seja, um forte caráter artístico em que os processos da época eram puramente artesanais. Entendia ele que os avanços tecnológicos conseguidos ao longo do tempo não podiam ser desprezados. Matérias como sociologia, psicologia social, antropologia e teoria da percepção, história da cultura, ergonomia, semiótica e outras disciplinas correlatas seriam incluídas na formação do designer. A abordagem de Maldonado era relativista; de acordo com Niemeyer (1998), ele desconfiava do romantismo idealista do pensamento pós-guerra, ao mesmo tempo em que afirmava que o design era parte do processo de produção determinado por suas próprias leis. Diante disso, as disciplinas de pintura, escultura e outras artes plásticas foram abolidas do currículo do design, destacando a partir daí o método que ficou conhecido como Método de Ulm de reflexão, análise, síntese, fundamentação e seleção de alternativas. Numa análise da cronologia do design, Roizenbruch (2009) destaca que a originalidade das criações do princípio do século XIX perdeu espaço na trajetória posterior à Bauhaus. Para a autora, quando as necessidades do mercado passaram a ser evidenciadas, o ensino acompanhou essa evolução. Na escola Bauhaus, a forma e a função tornaram-se conceitos fundamentais do design, porém, a produção em série ainda era uma preocupação e contradição à expressividade e originalidade dos produtos criados por seus alunos. Ressalta-se que, na Bauhaus, a formação do estudante estava totalmente ligada aos fenômenos sociais e culturais, dando às criações um significado holístico que colaborava para a produção dos objetos mais “racionalistas”, sem nenhum rebuscamento. Para Roizenbruch (2009), essa escola contribuiu para a consolidação de uma atitude de antagonismos dos designers em relação à arte e ao artesanato, ao contrário do que se pretendia inicialmente. Ainda do ponto de vista histórico, é importante destacar que durante a segunda guerra mundial houve um grande número de pesquisas sobre materiais, principalmente os sintéticos. Naquela época, o mundo se voltava para a disputa entre duas potências: os Estados Unidos da América e a extinta União Soviética. Enfatizava-se a Era espacial, em que tais materiais se sobressaíam. Esse foi o 43 caminho para um design direcionado ao futuro, destacando-o do design italiano no cenário mundial. A década de 1960 caracterizou-se pelos movimentos modernistas de vanguarda, quando a inspiração baseada no futuro cedeu também espaço para outras inspirações. Movimentos como Pop Art surgiram a partir de símbolos culturais de massa. Tanto a Europa quanto o Brasil, segundo Branzi (2006, p. 7), fizeram referências a modelos “[...] recíprocos e aproximativos, usando a geografia cultural ao entrelaçar suas culturas de projeto de maneira imprevisível”. Projetou-se então o design italiano como referência no Brasil até os dias de hoje. No ano de 1962, foi fundada a Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), no Brasil, influenciada pelos ensinamentos da Bauhaus e da Ulm. Situada na cidade do Rio de Janeiro, teve seu currículo reproduzido do modelo alemão na íntegra, descartando a realidade brasileira. Essa postura, segundo Roizenbruch (2009), tornou o design brasileiro cada vez menos expressivo e distante de sua identidade local. Para a autora, nessa época o design brasileiro passou a seguir os modelos de design do exterior, levando as características racionalistas e funcionalistas a se tornarem base do ensino das escolas superiores no país. Nesse sentido, o Brasil distanciou-se de suas tradições artesanais e de seus movimentos culturais. Segundo Branzi (2006), nessa mesma época emerge um contexto político e econômico voltado para os países em desenvolvimento onde empresas multinacionais traziam suas tecnologias, utilizando-as a partir de uma mão de obra barata local, como foi o caso brasileiro. Na década de 1970, inicia-se uma tentativa de contraposição ao imperativo tecnológico multinacional, especialmente no que diz respeito ao design. Gui Bonsiepe, designer e professor alemão, foi um dos responsáveis em reduzir essa dependência tecnológica na América Latina. No Brasil, Bonsiepe se empenhou para que o design se tornasse um valioso instrumento de autonomia, valorizando a tecnologia e o desenvolvimento local. A pós-modernidade presente na década de 1980, no cenário internacional, produziu, segundo Schneider (2010, p. 165), um grande número de correntes do design, por vezes opostas – “expressivas e puristas, ironizantes e historizantes, 44 high-tech e artesanais”. E ele denominou esse momento como Novo Design. O autor cita Burdek (1991, p. 63) para afirmar que o momento tornou-se uma “salada nada dogmática de abordagens e tendências, sem pretensões crítico-emancipatórias”. O Novo Design se caracterizou por pensamentos independentes, ao separar indústria e funcionalismo, desfocando-o da produção em série. Poynor (2010. p. 57) acredita que nesse cenário surgiu a denominação “designer como autor”, conceito este que para ele é considerado chave do período pós-moderno. Já Barroso Neto (2000) o denominou como “design autoral”, mas Schneider (2010) considera que o trabalho imaginativo do designer sobressai de sua inspiração individual, denominando-o “designer-artista”. O movimento Memphis surge na década de 1980 fundado pelo designer Ettore Sottsass (1917-2007), chamando os objetos de “anti-design”. Para ele, o design deveria trabalhar numa perspectiva mais conceitual, colocando à prova a utilidade do objeto dentro da questão da não funcionalidade. Nessa época, Sottsass desenvolvia pesquisas que subvertiam totalmente o relacionamento tradicional dos móveis em seus espaços internos da casa. Para ele, o valor emocional em relação ao objeto não era dado por sua funcionalidade, mas também por sua expressividade. Os objetos inspirados no movimento Memphis exploravam características importantes tais como: olfativas e táteis, cores berrantes, forramentos em plástico estampado, lâmpadas coloridas e uma mistura de materiais inusitados, tais como, bronze com mármore, vidro e alumínio. Nesse momento, o avanço tecnológico permitia a mistura desses materiais, proporcionando infinitas possibilidades e variações. Segundo Azevedo (1988, p. 64), a ideia memphisiana: [...] surgiu para livrar-se de uma retórica institucional, e chama seus próprios trabalhos de gíria suburbana. A escola Memphis abre uma discussão bastante prática sobre a funcionalidade do design encarado sob o ponto de vista do pós-moderno. Ela assume a função utópica da utilidade, tornando seus móveis um verdadeiro play-ground opcional na sala de estar. Na estante Carlton, por exemplo, os livros ficam todos inclinados, já que se acredita que é sua vontade original. Para Schneider (2010, p. 167), o grupo Memphis possibilitou, “[...] no sentido estético e concepcional, a eclosão de um conceito novo e ampliado de design. O 45 grupo conduziu o design de volta ao lugar que ele já havia ocupado nos primórdios do Art Nouveau: o design de arte”. O movimento Memphis abre, então, uma discussão prática da funcionalidade do design, a partir do ponto de vista do pós- moderno, assumindo a função utópica da utilidade. Dá-se início a uma nova realidade de fazer projetos, que, segundo Moraes, trata-se de uma experiência multicultural dos anos 1980. Para o autor, Sottsass colocou lado a lado “os valores simbólicos presentes na periferia de Milão e os signos provenientes de lugares longínquos como a Califórnia e a Índia” (MORAES, 2006, p. 161). No Brasil, a década de 1980 deu início a um processo para um reconhecimento de uma estética brasileira multicultural, abrindo novo caminho para o design. Isso aconteceu por intermédio da decodificação de um pluralismo estético, cujo modelo mais amadurecido surge apenas na metade dos anos de 1990. Desde então, o design “passou a ser entendido como metáfora de um conjunto de significados (conceitos) e significância (valor), e tudo isso, hoje, passa a ser considerado ao se desenvolver um novo produto” (MORAES, 2006, p. 192). Branzi (2006, p. 16), denominou como “Novo Design Brasileiro” o momento vivido pelo design no Brasil nos anos 1990. Para ele, essa última década elevou o design brasileiro a um cenário de reconhecimento, constituído por Fernando e Humberto Campana, Edith Diesendruck, Fabio Falanghee, Giorgio Giorgi Jr., Jacqueline Terpins, Guto Índio da Costa, Flávia Alves de Souza, Fabíola Bergamo, Pedro Useche, Fernando Jaeger, Ângela Carvalho, Guinter Parschalk, pelo próprio Dijon de Moraes e muitos outros. A Figura 5 apresenta a linha cronológica do design no mundo. 46 Figura 5 – Linha cronológica do design Fonte: Adaptado pela autora, anotações da disciplina História do Design, 2010. Download 5.01 Kb. Do'stlaringiz bilan baham: |
Ma'lumotlar bazasi mualliflik huquqi bilan himoyalangan ©fayllar.org 2024
ma'muriyatiga murojaat qiling
ma'muriyatiga murojaat qiling