Adriana nely dornas moura
Análise da influência da cultura, arte e artesanato brasileiros nas criações
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4.2 Análise da influência da cultura, arte e artesanato brasileiros nas criações dos Irmãos Campana Foi na década de 1980 que o cenário nacional conheceu os designers Fernando e Humberto Campana, coincidindo com um novo conceito registrado na 59 linguagem das artes e do design mundial, o chamado Novo Design. Ressalta-se que o movimento Memphis, surgido na mesma década produzia correntes por vezes opostas “expressivas e puristas, ironizantes e historizantes, high-tech e artesanais”, tratando esse Novo Design como “anti-design” (SCHNEIDER, 2010). Esse cenário marcou a valorização de novas formas de projetar produtos, por meio de experimentações com materiais e novas tecnologias. Chiarelli (2000, p. 21) comenta: Na década de 80, quando os Campana estavam envolvidos com o cenário artístico brasileiro, o ‘espírito da época’ alimentava a possibilidade de todos os artistas usarem referências importantes de sua própria biografia e não apenas os ‘grandes exemplos da arte’. Poynor (2010, p. 65) assinala como “designer autor” os profissionais que, desde essa época, fazem rupturas nos processos criativos, desconstruindo soluções antes impostas e apropriando-se de parte disso em novas soluções de projetos. Moraes (2006, p. 192) acredita que esse foi um período em que o design passou a ser entendido “[...] como metáfora de um conjunto de significados (conceitos) e de significância (valor)”. Tais bases são fundamentais para o desenvolvimento dessa nova realidade de projetar. Relembrando Manzini e Meroni (2009, p. 15), este denomina como Novo Design essa realidade, que, para ele, trata-se da geração de modelos de produtos orientados por valores que vão além da própria funcionalidade, impostos no início do século XX. Schneider (2010, p. 166), por sua vez, reforça o conceito de Novo Design pelas seguintes características: - rejeição ao funcionalismo; - influências de subculturas (punk, etc.) e do cotidiano; - tratamento eclético de estilos históricos; - ironia, humor e provocação; - trabalho experimental; - utilização de materiais não usuais; - formação de grupos; - desligamento da produção industrial em série; - produção de peças únicas e pequenas séries; - uso dos meios de comunicação como pódio; - transposição dos limites com a arte. 60 Cabe ressaltar que o conceito de Novo Design tem a ver com o processo criativo do artista ao projetar e executar sua obra. A arte, de acordo com Kant, citado por Camargo (2009), se apoia, além da cultura, em novas descobertas de materiais e técnicas (FRANCASTEL, 2000; CIDREIRA, 2005). Em 1990, segundo Branzi (2006), fechou-se o ciclo para o design nacional que, até então, era suportado por modelos do design internacional, especialmente iniciado em 1962 pela Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI). Na década de 1990, houve um resgate do design brasileiro com base na cultura do país e numa estratégia política e generalista, induzindo os designers à construção de uma identidade local, já reforçada por Gui Bonsiepe. Desde então, dá-se início a uma nova geração de designers representantes do “Novo Design Brasileiro”; Humberto e Fernando Campana são exemplos dessa geração (BRANZI, 2006; ROIZENBRUSH, 2009). Pode-se dizer que o projetista dessa época se intitulava “designer-artista”, reforçando a aproximação da arte com o Novo Design. Campana (2009) reconhece que a criação dos objetos produzidos pela dupla nesse período circundava o universo das artes, aos poucos, evoluiu para um design reproduzido em série. Contudo, o autor ressalta que a originalidade dos trabalhos da dupla não os deixou distanciar-se das artes: “em nossa visão, os limites entre design e arte são cada vez mais tênues, imprecisos. [...] nos consideramos produtores de idéias e não de mercadorias” (CAMPANA, 2009, p. 91). Os objetos de Humberto e Fernando Campana foram expostos pela primeira vez em 29 de junho de 1989, na Galeria Nucleon 8, na cidade de São Paulo, com cerca de 20 peças em ferro, sob o título de “As Desconfortáveis” (DARRIN, 2010, p. 69), apresentadas na Figura 14. 61 Figura 14 – Coleção “As Desconfortáveis”: Cadeira Positivo e Cadeira Negativo, 1989 Fonte: DARRIN, 2010, p. 68. Muito próximo da arte, o design produzido na coleção “As Desconfortáveis” permeia o conceito de Novo Design e pode ser denominado como design-arte (CHIARELLI, 2000; SCHNEIDER, 2010). Entretanto, Barroso Neto (2011) prefere denominá-lo como “design autoral” e contextualiza: O que eles fazem enquadra-se com perfeição naquilo que podemos denominar de ‘design autoral’, cujo compromisso assemelha-se mais ao do artista que do designer tradicional. Para o artista seu compromisso é consigo mesmo e com seu tempo. Para o designer seu compromisso é com o mercado, através da compatibilização dos anseios e necessidades de quem produz com aqueles que consomem. Neves (2009) referencia a exposição “As Desconfortáveis” de 1989 como um “Novo Design” oposto ao “boom do design internacional”. A autora aproxima essa nova forma criativa à realidade e cultura brasileiras. Para ela, a obra dos Irmãos Campana “[...] é um processo, uma atitude que vem sendo decodificada, deslocada, fruída e consumida no Brasil de forma significativamente positiva” (NEVES, 2009, p. 2.403). Para Campana (2009, p. 34), foi a partir dessa exposição que os dois designers descobriram a própria capacidade de criação 62 ‘[...] descobrimos um vocabulário novo, encontramos nosso caminho’. Os designers entenderam então que não compartilhavam da linguagem limpa e perfeita do design internacional como o italiano. ‘Nossa ideia era tirar partido do erro – o erro de acabamento, de execução, tão comuns em nosso país, por causa da pressa da produção’. O relato anterior apresenta uma forma muito própria de criar, consolidando o conceito de design autoral já apontado por Barroso Neto (2011). Diante de tais características, a coleção “As Desconfortáveis” de 1989 distanciou-se da funcionalidade, que até então era uma exigência do mercado. Isso fez com que as peças apresentadas não atingissem o sucesso comercial. Segundo Campana (2009), as pessoas se queixavam do material, tanto do ponto de vista da temperatura ao se sentar quanto do conforto das cadeiras. Para a designer Adriana Adam 3 , uma das incentivadoras dos trabalhos dos dois designers, as peças eram “obras de arte” e, por isso, não era preciso se preocupar com a questão comercial. Ela os incentivou a continuar no caminho “da gestão do novo” (CAMPANA, 2009, p. 35). O contexto vivido nos anos 1980, serviu certamente como diretriz para o resultado estético apresentado nessa exposição. Campana afirma que houve uma influência do designer inglês Danny Lane nas criações dos dois designers. Para ele, Lane “expressa um pensamento muito radical e revolucionário” (CAMPANA, 2009, p. 32), criando móveis em vidro pouco funcionais, onde o objeto representa seu conceito em si, não em seu uso. Figura 15 – Cadeira Etruscan, 1986 Fonte: DARRIN, 2010, p. 78. 3 Adriana Adam é designer e proprietária da Nucleon 8. 63 A coleção “As Desconfortáveis” apresentou uma nova experiência criativa, cuja referência deixou de ter a funcionalidade como requisito único, apontando também os materiais como atuadores significativos para o resultado final de produtos. 4.2.1 A originalidade no uso dos materiais, da forma e da manufatura aplicados na obra dos Irmãos Campana O universo cultural do material, segundo Cipiniuk (2006), influencia a percepção e o comportamento dos artistas, artífices, artesãos e designers. No caso da obra dos Irmãos Campana, os materiais sempre tiveram um lugar de destaque, aparecendo num constante diálogo com os processos construtivos. Para Campana (2009), projetar é transformar a matéria, dando a ela uma nova roupagem. O autor se utiliza do termo “subversão do uso” para contextualizar as formas de utilização dos materiais em suas criações. Entretanto, essa reinvenção contradiz os processos de fabricação, durabilidade e funcionalidade, requisitos mercadológicos para os produtos industriais produzidos na época do surgimento deles. Mesmo assim, os designers prosseguiam nas suas experimentações, mas passaram a cogitar de tais requisitos em seus projetos. Os designers achavam que o motivo da pouca aceitação comercial das peças criadas a uma “linguagem muito revolucionária; as pessoas não estavam familiarizadas com as formas e os materiais utilizados” (CAMPANA, 2009, p. 37). Lang Ho (2010, p. 28) destaca uma afirmação dos designers, ressaltando a relação existente entre os materiais e processos de fabricação em seus produtos: “Nós descobrimos que não era o design ou a função que nos daria a chave para um produto, mas, sim, o material e sua produção”. Para a autora, esse exercício de uso e aplicabilidade dos materiais é o marco fundamental do pensamento revolucionário característico do design contemporâneo. Esse fato pouco valorizado até então no Brasil foi essencial para o reconhecimento da obra dos Irmãos Campana no cenário internacional. Para Campana (2009), o mercado internacional parecia mais receptivo para uma nova forma de se fazer design. Isso se confirma a partir de 1990, quando o jornalista italiano Marco Romanelli publicou uma matéria na revista Domus sobre a 64 Nucleon 8 e os Irmãos Campana. A ênfase dada em sua publicação consistia em ressaltar a originalidade brasileira com linguagem internacional inerente ao trabalho dos dois designers. Os irmãos Campana trabalham materiais comuns, tais como: papelão, tecidos, restos de madeira, tubos de plástico e alumínio, entre outros, com originalidade, especialmente nas formas de fabricação. O resultado disso é a transformação de projetos comuns em objetos diferenciados, mas o uso despretensioso dos materiais, especialmente no início de sua carreira, ocorria em função do pouco conhecimento das tecnologias de produção e dos bons preços das matérias primas então utilizadas (LANG HO, 2010, p. 29). Darrin (2010) ratifica Lang Ho (2010), ao ressaltar que, primeiramente, eles experimentaram materiais naturais, como vime, madeira e bambu, seguidos do uso de materiais diversos, como cordas, cerdas de vassouras, mangueiras de jardim, entre outros. A intenção, na época, era dar vida a materiais banalizados quase imperceptíveis ao contexto social. Morozzi (2004, p. 31) acredita que essa forma de utilização dos materiais é típica da arte no Brasil. Segundo ele, os irmãos Campana usam linguagens locais para expressar algo globalizado: “os Campana representam o Brasil, não o design brasileiro”. Já, para Romanelli, trata-se de um “amor ao material”, definindo a principal referência do trabalho dos dois designers. Em 1995, os designers foram convidados a participar de um debate sobre o design brasileiro promovido pela Associazione per Il Desegno Industriale (ADI), ocorrido no Palazzo Reale, em Milão. Esse evento serviu para certificar que a forma de fazer design que eles escolheram estava na contramão do conceito minimalista de design da época, confirmando o interesse do mercado internacional por seus objetos (CAMPANA, 2009). Poynor (2010) afirma que isso se deu em função de que, na metade dos anos de 1990, a complexidade desconstrutiva das criações dos designers deixou de ser uma questão crucial, visto que já estavam incorporadas em seus processos criativos. Isto quer dizer que havia uma necessidade de evoluir da desconstrução para a oposição, ou seja, uma grande necessidade de mudar algo, confirmando a ascensão do Novo Design. 65 A originalidade do design concebido pelos Irmãos Campana foi destacada numa exposição individual de 1996 na Galeria Nucleon, onde foram apresentados três modelos de cadeiras. Ressalta-se que, segundo Lang Ho (2010), os dois designers somente entraram no cenário internacional no ano de 1998, com a introdução da Cadeira Vermelha (uma das criações expostas), criada em 1993 e reconhecida pelo diretor de arte da empresa Edra, o arquiteto e designer italiano Massimo Morozzi. Figura 16 – Cadeira Vermelha, 1993 Fonte: DARRIN, 2010, p. 129. A Cadeira Vermelha marca o início da produção industrial das criações dos Irmãos Campana no cenário internacional pela empresa Edra. Sua estrutura foi desenvolvida em tubo de alumínio e seu assento e encosto são confeccionados por aproximadamente 450 metros de fios de algodão. Em seu projeto, os dois designers exigiram que fosse mantida a produção totalmente artesanal. Segundo Campana (2009), para que os técnicos responsáveis pela produção entendessem o processo produtivo, foi feita uma fita de vídeo com a execução das tarefas, exemplificado na Figura 17. 66 Figura 17 – Etapa produtiva da Cadeira Vermelha, 1993 Fonte: DARRIN, 2010, p. 129. Além da Cadeira Vermelha, de 1993, foram criadas, dentro da mesma linguagem, a Cadeira Verde e a Cadeira Azul, apresentadas nas Figuras 18 e 19. Figura 18 – Cadeira Verde, 1993 Fonte: DARRIN, 2010, p. 130. 67 Figura 19 – Cadeira Azul, 1993 Fonte: DARRIN, 2010, p. 130 . Para Lang Ho (2010), na década de 1990, imperava um conceito neomodernista no campo do mobiliário contemporâneo, o que o tornava propício para a apresentação de produtos com design inovador. Em 1998, Paola Antonelli, curadora do Museu de Arte Moderna de Nova York (MOMA), promoveu uma exposição conjunta com o designer Ingo Maurer. Esses dois momentos foram fundamentais para a afirmação da carreira internacional dos Irmãos Campana. Os críticos referenciavam a forma de suas criações como artesanais e carregadas de criatividade. Nesse sentido, Lang Ho (2010) acredita que é justamente o uso despretensioso dos materiais cotidianos que comprova a abordagem anterior. Retomando Tavares (2007), ressalta-se que a falta de distinção dos objetos desenvolvidos a partir do conceito neomodernista, afirmado por Lang Ho (2010), e o fácil manuseio dos materiais foram o caminho para a definição de conceitos próprios aos projetos dos Irmãos Campana. Essa imaterialidade ou preservação do material original resulta até os dias de hoje em objetos muito próximos de uma obra de arte. Segundo Borges (2011), esta foi uma fórmula criativa bem sucedida dos Irmãos Campana. A autora posiciona o Brasil como um país altamente inventivo, no entanto, não designa as obras dos Irmãos campana como sendo de um “design nacionalista”. Ela reforça a multiculturalidade brasileira e acredita que o design nascido desse cenário não foi inventado pelos Irmãos Campana, tendo havido uma reapropriação desse conceito por eles, ressaltando-se a informalidade inerente à sua obra. 68 Barroso Neto (2011) compartilha da opinião de Borges (2011) ao afirmar que a multiculturalidade não é objeto único do processo criativo dos dois designers. Ele ressalta que o diferencial está na ausência de “regras, de normas, de repertórios comuns [...] é a primazia da estética em detrimento da função, da economicidade, da eficiência produtiva”. Para ele, o intuito das criações dos dois designers é “provocar os sentidos, e não satisfazê-los”. Ainda segundo Barroso Neto (2011), o sucesso dos Irmãos Campana está associado à aceitação “[...] das ideias de contestação do funcionalismo, de abertura ao novo e ao inusitado”. Essa afirmação coincide com o posicionamento dado por Campana (2009) ao mencionar a corrente estética minimalista imperante nos trabalhos apresentados na Associazione per Il Desegno Industriale (ADI) de Milão. Barroso Neto (2011) denomina como “tentativa e erro” o processo criativo dos dois designers, ressaltando que curiosamente esse é um processo típico dos artistas, não dos designers e arquitetos. Pode-se dizer, segundo Tavares (2007) e Barroso Neto (2011), que os objetos desenvolvidos pelos Irmãos Campana podem ser denominados “obra”, dentro do conceito de arte-design. No que diz respeito ao uso da diversidade da cultura brasileira no processo criativo dos dois designers, Barroso Neto (2011) não a vê em suas obras. O autor prefere conceituar seus projetos como “design autoral sem qualquer vínculo com a cultura brasileira”. No entanto, por serem brasileiros, o repertório deles possui a cultura de origem, da qual se valem “consciente ou inconscientemente”. Confirmando essa observação, Humberto Campana (2009) ressalta o uso da tela de borracha em PVC no projeto da luminária Estela apresentada na Figura 20. Esse material foi adquirido na Rua 25 de Março, conhecido espaço de comércio popular em São Paulo. O autor acredita ser esse um bom exemplo de subversão de uso do material, posto que essa tela, em geral, é utilizada como forro antiderrapante de tapetes, no projeto dos designers, ajustando-se muito bem como difusor de luz. 69 Figura 20 – Luminária Estela Fonte: ANTONELLI; BYARS; ESTRADA, 1998, p. 29. 4.3 O No Tech como resultado da originalidade criativa dos Irmãos Campana O No Tech (sem tecnologia) é uma forma despretensiosa e diversificada de criar e usar materiais e processos de fabricação, definindo por Estrada (2000, p. 419) como: fazer com pouco, mas com criatividade. É o design sem tecnologia, é o design possível, é uma tomada de posição, uma nova estética, muito brasileira, um modo de fazer design que nasce da dificuldade de meios, a margem do processo industrial e se desenvolve com uma grande força expressiva. Ainda segundo a autora, o No Tech é uma nova base da estética brasileira na criação de produtos e pode ser tratada como subversão do objeto. Trata-se de um “[...] refinamento de projeto aliado ao frescor de pensamento” (ESTRADA, 2003, p. 419). Já Poynor (2010, p. 23) denomina o No Tech como “desconstrução de algo numa tentativa de erros e acertos”. Essa foi a forma utilizada pelos dois designers para chegarem a um produto universal com particularidades brasileiras. Esse movimento surgiu como um curso livre nas dependências do Museu Brasileiro da Escultura (MUBE), em São Paulo, ministrado pelos dois designers a grupos de jovens dispostos a fazer design somente com as mãos. Ainda, segundo a autora, o que acontecia era um fato novo: “há muitas décadas não víamos o que se poderia chamar de ‘escola’ ou ‘movimento’ 70 (mesmo nas artes), ou seja, um grupo de pessoas, quase sempre jovens, reunidas em torno de ideias comuns” (ESTRADA, 2003, p. 419). Estrada (2000, p. 430) confirma a importância dessa nova linguagem de fazer design quando cita que, no design brasileiro, algo assim havia acontecido somente na década de 1960 com o Movimento “Branco e Preto”, e constituiu-se por um grupo de arquitetos, também projetistas de móveis, que se uniam em torno dos mesmos conceitos estéticos ou formais. Com o No Tech, os irmãos Campana deram ao design uma memória brasileira [...] uma atitude própria do ir fazendo, experimentando, entrando na alma de cada material para entender o que este quer dizer. Foi esse saber intuitivo que contaminou seus alunos e permitiu que, dessas aulas, surgisse uma coleção de objetos com linguagem própria, coerentes entre si, expressando uma idêntica intenção. Uma estética brasileira? Talvez. Não se inventou nada. A transposição de uso dos materiais é usada por diversos designers, em outros países. O novo é o olhar brasileiro – livre, leve, solto, colorido, delicado e bem humorado. (ESTRADA, 2003, p. 432). Já Campana (2009, p. 43) designou o No Tech como “[...] uma linguagem baseada no gesto da mão”. A introdução dessa nova forma de fazer projeto de produtos marcou a evolução “reto” e “bruto” como retratado em “As Desconfortáveis”, para algo mais suave como apresentado na cadeira Vermelha. Esse momento foi retratado pelos críticos como o emprego da “manualidade” 4 , que é muito característico dos trabalhos artesanais brasileiros. Figura 21 – Imagens da exposição No Tech, MUBE, São Paulo, jul. 2011 Fonte: CAMPANA; CAMPANA, 2003, p. 442-443. 4 Manualidade, termo utilizado por Borges (2011). 71 4.4 Breve retrospectiva do reconhecimento da obra dos Irmãos Campana no Brasil e no mundo 4.4.1 Exposição no Museu de Arte Moderna (SP), 2000 O reconhecimento das criações dos Irmãos Campana no Brasil se deu a partir da exposição intitulada “Entre o design e a arte: Irmãos Campana. Entre a arte e o design: acervo do MAM” (CHIARELLI, 2000, p. 17), realizada no ano de 2000. Percebe-se, pois, uma clara identificação da arte, do artesanato e da própria história do design em seus produtos, o que se pode designar como criações híbridas, subversivas e desconstruídas, totalmente desprendidas de um rigor de projeto até então praticados (ESTRADA, 2003; ROIZENBRUCH, 2009; POYNOR, 2010). Tais particularidades inerentes à obra dos Irmãos Campana dificultaram a categorização das peças para esta exposição. Para Chiarelli (2000), essa dificuldade se deu devido ao formato da produção de suas criações. Estas não se designavam como industrial nem artesanal, mas, sim, como algo indefinido, mesclando as duas formas de produção. Por outro lado, Melo et al. (2002, p. 77) entende que essa mescla é característica de obras de origem artesanal, contrariando o ponto de vista de Barroso Neto (2010), cuja opinião é de que as criações dos Irmãos Campana possuem um repertório próprio sem bases artesanais. Todavia Moraes (2006) chama atenção para o novo momento do design brasileiro consolidado em meados da década de 1990, momento esse, oriundo da década anterior. Segundo o autor, foi nesse período que o design se posicionou com estéticas múltiplas, decodificando o próprio pluralismo étnico e estético local e evidenciando um design de estética múltipla “em que se nota uma forte presença dos signos híbridos e de uma energia particularmente brasileira” (MORAES, 2006, p. 179). Conforme observado, alguns projetos dos Irmãos Campana possuem elementos expressivos sustentados em pesquisas realizadas em “[...] andanças nas lojas e mercados do caótico centro de São Paulo” (MORAES, 2006, p. 182), base rica em símbolos compartilhados de um cenário social e cultural múltiplo de uma grande metrópole, o que, segundo Moraes, revela-se como importante fonte de criação na consolidação do Novo Design. 72 Nesse sentido, é importante relembrar Tavares (2007), ao afirmar que a estética é uma prática cultural, sendo o alicerce da produção da arte e do design no novo contexto contemporâneo. Essa prática gera os chamados objetos sociais, exemplificados pela autora nas cestarias, tapeçarias, objetos de luxo, entre outros. Então, pode-se afirmar que parte das obras da exposição dos Irmãos Campana no Museu de Arte Moderna (MAM) ano de 2000 referenciou a cultura brasileira representada especialmente no artesanato. O trançado das fibras presentes no artesanato especialmente do norte e nordeste do país foram substituídas por fibras de metal no projeto da Cadeira Discos, como pode ser observado na Figura 22 abaixo. Figura 22 – Cadeira Discos, 2000 Fonte: DARRIN, 2010, p. 251. Outros objetos desenvolvidos pelos Irmãos Campana e presentes nesta mesma exposição representam a rotina das grandes metrópoles com referências nas experiências do dia-a-dia dos brasileiros, da precariedade de recursos físicos e da forma cumulativa de materiais característicos dos ambientes sociais já mencionados por Moraes (2006). A cadeira Favela representa uma sobreposição contínua de materiais, característica da forma construtiva dos barracos das favelas das grandes cidades. 73 Figura 23 – Cadeira Favela, 1991 Fonte: DARRIN, 2010, p. 251. E a Cadeira Plástico Bolha vista na Figura 24 representa a forma acumulativa dos materiais, por meio da sobreposição de peças de plástico bolha. Figura 24 – Cadeira Plástico Bolha, 1995 Fonte: CHIARELLI, 2000, p. 21. Por fim, outros objetos da dupla também expostos na exposição do MAM em 2000 foram produzidos por uma base de ferro mesclado com materiais plásticos, como mangueiras de jardim e ralos de banheiro. Essa junção reforça a utilização de recursos artesanais, confirmando o uso dessa linguagem em suas obras (MELO et al., 2002). A Mesa Tatoo (Fig. 25) e a Cadeira Anêmona (Fig. 26) ilustram esta integração de materiais e formas de manufatura. 74 Figura 25 – Mesa Tatoo em alumínio e PVC, 2000 Fonte: DARRIN, 2010, p. 135. Figura 26 – Cadeira Anêmona, 2000 Fonte: CAMPANA; CAMPANA, 2003, p. 334. É importante destacar que, a despeito do contexto cultural e social, as questões produtivas aparecem mais evoluídas nos produtos da dupla expostos no MAM em 2000. A tecnologia de manufatura da época era considerada precária se comparada com os recursos internacionais. Todavia, é visível a tentativa dos dois designers em aprimorar suas técnicas de manufatura; enfim, o próprio mercado já havia sugerido isso diante da produção das “As Desconfortáveis”, em 1989. Moraes (2006) considera que essa evolução produtiva pode ter origem no fenômeno da globalização iniciado em meados dos anos de 1980 que proporcionou o envolvimento do design no debate da mídia, da informação, do conhecimento e do saber, trazendo para essas discussões elementos expressivos internacionais, 75 incluindo as formas de fabricação, além dos nacionais já conhecidos. Para Chiarelli (2000, p.49), o que houve com os objetos da exposição do MAM, do ponto de vista da manufatura, foi uma tentativa de adaptação a um “gosto refinado de sabor internacionalista”. Para o autor, Fernando e Humberto Campana estão sabendo adicionar à crescente necessidade de conceber e produzir objetos de fácil e imediata reprodutibilidade, com caráter subjetivo e repleto de afetividade que sempre caracterizou a produção da dupla. (CHIARELLI, 2000, p. 49). A Figura 27 apresenta a Cadeira Cone, presente na exposição do MAM no ano 2000. Ela representa claramente o refinamento das formas produtivas. Figura 27 – Cadeira Cone, 1999 Fonte: DARRIN, 2010, p. 148. A Figura 28 apresenta a Cadeira Favela em duas fases distintas de produção, confirmando a afirmação de Chiarelli (2000) e Moraes (2006). 76 Figura 28 – Cadeira Favela, a. 1991 e b. 2000 a. b. Fonte: CHIARELLI, 2000, p. 33 . Fonte: DARRIN, 2010, p. 251. A evolução nas técnicas produtivas apresentada nos produtos anteriores emergiu no cenário contemporâneo do design, com a da junção do “conceitual” com as técnicas de industrialização ditas, como já afirmado, pelo mercado de consumo. Esse somatório fez com que empresas de renome no cenário brasileiro e internacional buscassem um design exclusivo para seus produtos, apostando na fórmula criativa dos Irmãos Campana (CHIARELLI, 2000; MELO et al., 2002). Alguns projetos de design exclusivos foram produzidos para as seguintes empresas: H. Stern, Grendene, Lacoste, Camper, Fontana Arte, Swarovski, Capellini/Progetto Oggetto, Alessi, Magis, MoMA Store, Artecnica, Companhia dos Tapetes Ocidentais, entre outras. 4.4.2 Coleção Campana para H. Stern A H. Stern, empresa brasileira que fabrica e comercializa jóias, sempre buscou lançar coleções inspiradas nas artes plásticas, arquitetura, música e moda. Foi fundada no início da década de 1950 por Hans Stern que possuía experiência na comercialização de pedras preciosas. O maior empenho de seu fundador foi para que as gemas brasileiras fossem reconhecidas como pedras preciosas, em razão de serem consideradas semipreciosas. O resultado desse esforço foi o interesse do mercado internacional pela brasilidade das pedras coloridas típicas do país (H. STERN, s. d.). 77 Desde então, essa empresa procura se destacar na originalidade e personalidade dos conceitos de suas jóias. Na década de 2000 a H. Stern reforçou sua brasilidade ao prospectar referências criativas, tais como: Carlinhos Brown e os Irmãos Campana (CARRIERI et al., 2009). Numa coleção desenvolvida para essa empresa, os Irmãos Campana contextualizaram em jóias um conjunto de elementos expressivos muito característicos do Brasil, tais como: texturas, formas, movimento, cores; além do formato semiartesanal, já comuns em suas criações (BORGES, 2011). Para Carrieri et al. (2009), a referida coleção representou a sensualidade brasileira, além da inovação do design, própria dos dois designers. Borges (2011) também acredita nisso. Para a autora, as inspirações das jóias se estruturaram nas raízes culturais do Brasil, mesmo “[...] sem cair no estereótipo, e com uma sintonia com o contemporâneo”, relembrando o que o autor Semprini (1999, p. 16) afirmou: “[...] um território cultural terá sempre um vasto repertório de inspiração”. A manualidade e o formato semiartesanal das jóias dessa coleção as fazem próximas de obras de arte, se considerado o conceito de arte dado por Barroso Neto (2000, p. 3): “[...] toda atividade produtiva de objetos e artefatos realizados manualmente ou com a utilização de outros meios [...] com habilidade, destreza, apuro técnico, engenho e arte”. A referida coleção dos dois designers, para H. Stern, consolidou o conceito de arte-design, “[...] contrariando a linha de pensamento que procura produzir jóias unificadas que atendam ao gosto da maioria das mulheres do mundo” (CARRIERI et al., 2009, p. 11). Além disso, Borges (2011) reitera uma demanda da sociedade em busca de criações que transmitam “frescor e liberdade criativa”. A Figura 29, a seguir, apresenta três dos modelos que foram desenvolvidos para a H. Stern. Figura 29 – Três modelos de jóias da coleção Campanas para H. Stern, 2001 Fonte: DARRIN, 2010, p. 264. 78 Ressalta-se que algumas peças conceituais foram extraídas da referida coleção. Tais peças fazem parte de uma edição limitada. Alguns exemplos podem ser visualizados, a seguir, na Figura 30. Figura 30 – Peças exclusivas da Coleção Campanas para H. Stern, 2001 Fonte: H. STERN, 2001, p. 32. 4.4.3 Coleção Campanas para Melissa Fernando e Humberto Campana foram pioneiros em criar calçados para a empresa Grendene, que até então trabalhava com estilistas voltados para o mercado da moda, tais como: Thierry Mugler, Jean-Paul Gaultier, Patrick Cox, Alexandre Herchcovitch e Marcelo Sommer (ESTRADA, 2001). A Grendene é uma empresa brasileira sediada no Rio Grande do Sul que tem como segmento o mercado de calçados de plástico. A Melissa é um dos principais produtos dessa empresa para o público jovem, que, no ano de 2004, viu a necessidade de se reposicionar no mercado brasileiro. O maior desafio dos dois designers em projetar um produto com um apelo tão comercial foi conciliar o jeito despretensioso do uso dos materiais e das formas de fabricação com o formato industrial exigido pelo segmento. Nesse sentido, os dois designers se dedicaram à produção de protótipos até que a técnica industrial pudesse ser aplicada. A intenção, segundo Campana (2009, p. 60), era transpor técnicas utilizadas em móveis para o vestuário, “[...] tudo sem perder a alma do trabalho, sem deixar a poesia escapar”. Portanto, conciliar técnicas artesanais a uma produção industrial é o grande 79 desafio para o arte-design, pois, neste conceito, segundo Bürdek (2006), as criações tendem a se distanciar da indústria e da produção em série. Costa (2010), por sua vez, nota que as novas soluções tecnológicas próprias de empresas de produção em série podem ser limitantes da espontaneidade das criações, mas, por outro lado, se bem utilizadas, atendem perfeitamente às soluções de estética e de materiais definidas no projeto. A coleção apresentada na Figura 31 demonstra uma sobreposição de linhas e uma acumulação de materiais que são características das formas artesanais e da manualidade dos trabalhos dos dois designers, destacada por Borges (2011), comprovando a possível união do técnico-industrial às soluções artísticas afirmada por Costa (2010). Tais características podem ser observadas em outras obras apresentadas anteriormente, como a Cadeira Multidão (Fig. 13), Cadeira Vermelha (Fig. 16), a Cadeira Anêmona (Fig. 26) entre outras. Figura 31 – Coleção Campanas para Melissa, 2005, 2006, 2008 e 2010 Fonte: DARRIN, 2010, p. 141, 143-144. 4.4.4 Coleção Campanas para Lacoste Dando continuidade à interpretação da obra dos Irmãos Campana, no ano de 2009 foi desenvolvida uma coleção intitulada Campanas + Lacoste para a marca 80 Lacoste, de origem francesa. A ideia criativa permanece inalterada: acumulação de materiais, manufaturados de forma quase artesanal, ressalvando mais uma vez o uso das mãos em seus projetos. Darrin (2010) afirma que as peças da coleção da marca Lacoste + Campanas trazem características marcantes do Brasil, que pode ser vista na acumulação do réptil da logomarca nas peças desenhadas. A disposição do réptil de forma acumulada representa os leitos dos rios da Amazônia, além dos galhos das árvores tropicais da região, apresentadas nas Figuras 32, 33 e 34. Já, as rendas tradicionais do norte do Brasil foram representadas numa edição “super limitada”, em doze peças feitas a mão, para a versão masculina e feminina, conforme figura 35. Relembrando Martins (1973), os objetos artesanais são expressões culturais da sociedade que os produzem, confirmando a brasilidade presente nas peças dessa coleção. Figura 32 – Coleção Campanas + Lacoste, 2009 Fonte: DARRIN, 2010, p. 297. 81 Figura 33 – Coleção Campanas + Lacoste, 2009 Fonte: DARRIN, 2010, p. 297. Figura 34 – Coleção Campanas + Lacoste, 2009 Fonte: DARRIN, 2010, p. 297. 82 Figura 35 – Coleção Campanas + Lacoste, 2009 Fonte: DARRIN, 2010, p. 105. 4.4.5 Projeto de ambientes para Lojas Camper Na visão de Roizenbruch (2009), os projetos que relacionam design e artesanato são hoje reconhecidos por classes consumidoras que antes não o faziam. Essa união está explícita nos trabalhos dos Irmãos Campana para a rede de lojas de calçados espanhola Camper. Com início na cidade de Berlin (2006), em Barcelona (2007), Zaragoza, Florença e Londres (2008) e Nova York (2010), essa parceria representa a junção design/arte. No caso dessa empresa, os designers não projetaram calçados, mas, o interior das lojas, expandindo sua atuação para o design de ambientes, arquitetura e paisagismo. É importante destacar que, no ano de 2007, os designers criaram uma coleção denominada “Transplásticos”, em que as peças representaram a união da arte, artesanato e compromisso ambiental, chamando a atenção para os cuidados com o meio ambiente. Campana (2009) reconhece que deve haver uma responsabilidade ambiental no ato de criar, mesmo que, há vinte anos, seus projetos não atentassem para essa questão. Na coleção “Transplásticos” foram utilizados materiais como fibras naturais 83 e plásticos, o que é, segundo Darrin (2010), um manifesto para a responsabilidade ambiental. Os produtos da coleção “Transplásticos” foram utilizados no projeto de ambientes das lojas Camper, a seguir apresentado. Figura 36 – Fotos do Interior da Loja Camper de Nova York, 2010 Fonte: LOJA CAMPER, s.d. O processo produtivo das peças do projeto da Camper foi executado por um artesão brasileiro (Fig. 37). 84 Figura 37 – Processo produtivo da Cadeira Café que faz parte da coleção “Transplásticos”, 2007 Fonte: LANG HO, 2010, p. 35. Em seguida, mostra-se a linha cronológica da obra realizada pelos Irmãos Campana, perfazendo o percurso desde os finais da década de 1980 até os dias atuais. 1988 Cadeira Positivo e Negativo Peça única Estúdio Campana 1989 Armário Casulo Peça única Estúdio Campana Cadeira Flintstones Peça única Estúdio Campana 1990 Fruteira Jabuticaba Peça única Estúdio Campana Fruteira Costela Peça única Estúdio Campana Biombo Natureza Morta Peça Única Estúdio Campana 1991 Cadeira Favela 2 peças Protótipo Linha Ninho Vaso Produção 500 peças Estúdio Campana 1992 Mesa Geográfica Peça Única Estúdio Campana Cadeira Discos Peça Única Estúdio Campana 1993 Cadeira Vermelha 5 peças Estúdio Campana Produção industrial em 1998 Cadeira Verde Peça Única Estúdio Campana Produção industrial em 1998 Cadeira Azul 5 Peças Estúdio Campana Produção industrial em 1998 Luminária Papelão 2 Peças Estúdio Campana Sofá Papelão 5 Peças Estúdio Campana 1994 Biombo Pilha Peça Única Estúdio Campana Pequena Torre de Memórias Projeto Especial 1995 Poltrona Plástico Bolha 3 peças Estúdio Campana Mesa Inflável 100 Peças Estúdio Campana Produção Industrial em 1998 Luminária Bambu 40 Peças Estúdio Campana Produção industrial em 2000 1996 Luminária Estela Produção Larga Escala Estúdio Campana Revisteiro Estela Produção Pequena Escala Estúdio Campana 1997 Estante Labirinto 3 Peças Estúdio Campana Cadeira Cone 20 peças Estúdio Campana Produção industrial em 1999 Tapete Animado Estúdio Campana Banco Gangorra Peça Única Estúdio Campana 1998 Porta-lápis MoMA Produção Industrial 1999 Tapete Números 18 peças Produção Cia dos Tapetes Ocidentais Cadeira Jenette 15 peças Estúdio Campana Linha cronológica da obra resumida dos Irmãos Campana Produção industrial das Cadeiras Vermelha, Verde, Azul e Mesa Inflável 2000 2001 2002 Cadeira Multidão 35 peças Estudio Campana Poltrona Banquete 150 peças Estúdio Campana 2003 Prived Oca Peça única Projeto Especial Poltrona sushi IV 35 peças Estúdio Campana 2004 Cadeira Corallo Edra Produção Industrial Cadeira Célia Edição ilimitada Produzida por Habitart Brasil 2005 Cadeira Panda 25 peças Estúdio Campana Mesa Blow Up Alessi Edição ilimitada Produção Industrial Cadeira Jenette Edra Edição ilimitada Produção Industrial Mesa Brasília Edra Produção ilimitada Produção Industrial Loja Camper Berlim Projeto Especial 2006 Áster Papposus, Coleção História Natural Edição ilimitada Produção Industrial 2007 Cadeira Trans Peca Única Projeto Especial Estúdio Campana Jardim JWT Estúdio Campana 2008 Cadeira Aguapé Edra Edição ilimitada Produção industrial 2009 Sofá Cipria Edra Produção industrial Saca rolhas Laçador Projeto especial para Ibravin/ Tramontina Lacoste feminina Edição super limitada 12 peças Projeto especial 2010 Luminária Esperança edição superlimitada com 5 peças numeradas 2011 Exposição Anticorpos - Retrospectiva 20 anos. Brasil, ES, BSB, SP, RJ (2012). Café do Museu d’Orsay em Paris Cadeira Anêmona 4 peças Estúdio Campana Produção industrial em 2001 Vaso Batuque Peça única Estúdio Campana Edição ilimitada em 2001 Capelini Espelho Elétrico Edição ilimitada Estúdio Campana Produção Acriresinas Estola H. Stern Peça única Embalageem H. Stern com colar Edição limitada Produção industrial Coleção Mosaico Edição limitada Produção Industrial Festa Vogue Tactel Projeto Especial Sofá Boa Edra Edição limitada Produção industrial Sofá Sushi 6 peças Estúdio Campana Peteca Toy Edição ilimitada Magis Itália Desfile Forum Painel Zig Zag Projeto Especial Cadeira Favela Edra Produção Industrial Coleção de Vasos de Cerâmica Infinito Teracrea Itália Ideal House Projeto Especial Melissa Zig Zag Grendene, Brasil Produção Industrial Cadeira Transrock Coleção Transplasticos Peca Única Estúdio Campana Linha Nuvem Alessi Produção Industrial Metamorphoses Figurino para o Ballet Nacional de Marselha Produção Especial Lounge Banco HSBC Miami Projeto especial Diamantina III Projeto especial Estúdio Campana Melissa Corallo Edição ilimitada Produção industrial Mesa 2 em 1 Habitart Brasil, Pinus Produção Industrial Coleção Nazareth, centro de mesa. Edição limitada de 100 peças em 10 cores, Estúdio Campana, Produção Bernardaud, França Estante Cabana Edra Itália Produção industrial Tapete Circus, Nodus, França Bicicletas Aeon, Japão Mobiliário do Café do Theatro Municipal de São Paulo New Hotel, Atenas, Grécia Fonte: desenvolvido pela autora 86 4.4.6 Considerações finais sobre o estudo de caso Entende-se, portanto, que da inter-relação arte, design e artesanato surge uma corrente de objetos conceito que se apropriam da forma plástica da arte e do artesanato para personalizar soluções de projetos próprias do design – o chamado arte-design. Os trabalhos dos designers Fernando e Humberto Campana, especialmente os expostos nesse estudo de caso, podem confirmam essa tendência. Mesmo que alguns projetos apresentados tenham aproximado do contexto industrial, como no caso da Melissa para a empresa Grendene, as criações apresentadas abordaram ideias próprias da arte contemporânea, desmaterializando processos e conceitos pré-estabelecidos pelo design tradicional que se impunha antes da década de 1980 (POYNOR, 2010). Bürdek (2006 , p. 63) denomina esse momento do design como uma “[...] salada nada dogmática de abordagens e tendências”, acreditando ser exatamente isso o conceito de Novo Design. Ainda sobre os trabalhos apresentados, observou-se que o design produzido pelos Irmãos Campana sofre múltiplas influências, especialmente as culturais brasileiras. Pode-se afirmar que a essa dupla é de designers-artistas, conduzidos por uma inquietude criativa própria dos profissionais das artes, do artesanato e do design (SCHNEIDER, 2010). Campana (2009, p. 37) os considera “[...] designers empreendedores, fazendo coisas no limite da arte” e ressalta que eles continuarão buscando “[...] a descontração, a criação, a emoção, a transformação e a reinvenção, multiplicando as possibilidades das nossas escolhas e das escolhas de quem vai usar um objeto concebido por nós”. 87 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A realização desta dissertação foi motivada pela necessidade de se investigarem as principais influências criativas do design nacional na contemporaneidade. No entanto, logo no dar início as leituras pertinentes, surgiram oportunidades para o aprofundamento do estudo, no que diz respeito à análise das interlocuções existentes entre a cultura, a arte e o artesanato brasileiro na formação desse design. A revisão de literatura buscou entender a formação dos conceitos de cultura e identidade e suas apropriações na arte e artesanato brasileiro, além de relatar uma breve história cronológica do design, para identificar os principais elementos expressivos que permeiam o design nacional na atualidade. A partir desta revisão, foi feito um estudo de caso da obra dos Irmãos Campana. Sua escolha foi fundamental para consolidar o objeto principal desta pesquisa, bem como, os objetivos específicos (a) e (b). Algumas leituras revelaram vários aspectos culturais que podem ser incorporados ao conceito tradicional de design defendido por ICSID, pois a cultura de uma sociedade é rica em símbolos e pode ser cumulativa no processo estético e funcional de um produto. Percebeu-se que o Brasil possui uma pluralidade de origens sociais e étnicas que dão aos projetistas um repertório que, uma vez apropriado, resulta em produtos diferenciados com forte apelo cultural. Foram várias as menções feitas a partir dos conteúdos científicos de livros e artigos que, em sua maioria, permeiam a arte e o artesanato como componentes do design contemporâneo, em destaque para a Bauhaus que seguiu uma linha de trabalho europeia, com vista à integração do artesanato e da indústria, dando um sentido prático aos alunos e treinando-os como artesãos e/ou designers. O ensino do design no Brasil na década de 1960 se sustentava no modelo alemão, distanciando-se das tradições artesanais brasileiras, e isso repercutiu ainda no design de 1980. Por fim, o contexto político e cultural do Brasil, especialmente após a saída dos militares do poder, potencializou a entrada de tecnologias utilizadas a partir de 88 mão de obra barata local. Isso fez com que o próprio país tomasse esse cenário como desafio, partindo para uma contraposição, buscando um design mais autônomo e enfático no uso de tecnologias locais. O resultado pode ser visto no design produzido na década de 1980. Nessa época, surgem novas correntes do design denominado por vários autores como Novo Design. No entanto, a formação desse conceito sofre inúmeras influências, cujo destaque dessa pesquisa se dá para a arte e artesanato brasileiros. As pesquisas mostraram que, mesmo com a autonomia estética da arte sustentada por práticas culturais, os objetos associados a ela não se desvinculam do conceito de produto. Essa coerência foi tratada como o alicerce da produção da arte e do design no contexto contemporâneo, confirmando a relação de ambos na atualidade. A junção entre a arte e o design ocasiona a falta de distinção dos objetos, elevando-os à categoria de arte-design e confirmando essa designação para as produções do Novo Design, evidenciando-se que os novos materiais, tecnologias e processos produtivos são decisivos na sua aceitação pelo mercado consumidor. Pode-se dizer que o conceito de Novo Design seja considerado a chave do período pós-moderno e é nessa época que se dá o início do reconhecimento do trabalho dos designers Fernando e Humberto Campana. Os estudos bibliográficos a respeito da obra dos Irmãos Campana, bem como, as entrevistas cedidas para esta pesquisa foram essenciais para o atendimento do objetivo específico (c) desta dissertação. Eles certificaram o enquadramento dos projetos da dupla no conceito de Novo Design e ressaltaram as características particulares de sua criação, designando-os formadores de um design- autoral. Foi possível perceber em suas obras os diversos momentos de desconstrução e apropriação de elementos característicos da cultura, arte e artesanato brasileiro, validando o conceito de arte-design e design-autoral dentro do Novo Design. Um exemplo disto é a Cadeira Vermelha (1993) que emprega em seu processo produtivo materiais e técnicas próprias do artesanato. Entende-se, portanto, que conceitualmente a designação “objeto-arte” é permeada por influências culturais, sociais e artísticas. No caso das criações de Humberto e Fernando Campana, vê-se claramente em sua obra a presença das 89 influências pesquisadas. As entrevistas concedidas reforçaram a presença delas em suas produções, mesmo que um dos entrevistados tenha optado por defender que não é essa a principal fonte criativa dos dois designers, não invalidando a aplicação do conceito em sua obra. No que diz respeito aos materiais, os dois designers se relacionam com eles de forma despretensiosa, podendo ser considerada subversiva, concomitantemente aos processos de fabricação; todavia, observou-se que o ano de 2000, especialmente pelos produtos expostos na exposição MAM neste mesmo ano, os processos produtivos tornaram-se mais elaborados, distanciando-se das características rústicas dos produtos produzidos anteriormente sob a influência do No Tech, porém, os dois designers seguiram defendendo alguns requisitos do No Tech, especialmente a produção artesanal. Considere-se ainda que o design nacional contemporâneo se ateve à cultura, ao momento político, social e econômico do Brasil, além das influências do design de outros países, que estiveram muito presentes nos projetos de produtos brasileiros, mas esse próprio contexto fez com que se iniciasse uma busca para as referências locais. Vê-se a presença dessa inquietude na obra dos Irmãos Campana. Além disso, os materiais são fundamentais para a representação criativa dos produtos. Eles são precursores dessas soluções de projeto e capazes de imprimir um novo conceito de design. No contexto do design nacional contemporâneo, os materiais aparecem em destaque e são presença marcante nas obras de Humberto e Fernando Campana, a exemplo, a cadeira Favela, dentre outras. Já, os processos produtivos também são norteadores do conceito do design nacional contemporâneo. As tecnologias modernas de industrialização convivem lado a lado com as artesanais, conceituando os produtos produzidos como objetos-arte. As criações dos Irmãos Campana para a H. Stern, Lacoste e Grendene são exemplos dessa convivência harmoniosa de formatos diferenciados de manufatura. Para finalizar: a) As particularidades do design pós-moderno da década de 1980 nortearam o momento criativo dos irmãos Campana, visto que este encontrava-se descompartimentado dentro do conceito de design global; tais particularidades podem ser visualizadas na linha cronológica de seus principais trabalhos apresentada na Figura 37. 90 b) O que a diversidade cultural de um país proporciona é um repertório vasto para a criação de produtos com linguagens próprias, sugerindo um design rico em originalidade; c) A riqueza cultural, a arte e o artesanato brasileiros são fortes influenciadores do design nacional na contemporaneidade; no entanto, esse conceito de design segue ainda regido pela história do design no mundo. Portanto, o design no Brasil hoje é, assim como o próprio país, rico e diversificado. Por isso, ele se torna passível de mudanças. Agregado à pluralidade brasileira, vem a presença da globalização refletida em novas tecnologias, processos produtivos e materiais. Neste contexto, um conceito não pode ficar restrito apenas aos critérios iniciais pesquisados nesse estudo. O design nacional contemporâneo é abraçado pelo Novo Design e suas subclassificações: design-arte e design-autoral. Muito mais que um simples conceito, o Novo Design representa uma etapa própria do design nacional contemporâneo, em que as influências anteriores da década de 1980 foram somadas ao desejo de se ter a cultura brasileira e suas características impressas nos produtos aqui desenvolvidos. O estudo de caso comprovou isto na leitura feita da trajetória dos irmãos Campana, em que suas principais produções se enquadram no conceito amplo do Novo Design, com múltiplas estéticas, processos e materiais, representando um design moderno e atual. A complexidade dos estudos que englobam o contexto da pós-modernidade dificulta a leitura de obras que se encontram na linha tênue entre arte, artesanato e design. Neste contexto, recomenda-se para trabalhos futuros uma pesquisa que possa permear áreas da história, comunicação, antropologia, sociologia, mercadologia e áreas afins, no intuito de categorizar minuciosamente a obra dos Irmãos Campana. Pretende-se entender detalhadamente os processos de manufatura, material, influência criativa e mercado, catalogando-os dentro da pluralidade inerente à sua obra. 91 REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. AGOSTINETTI, Lúcia. Arte contemporânea: o novo que assusta. Curitiba: Programa de Desenvolvimento Educacional, 2008. (Apostila). ALVES, Lívia. Irmãos Campana com força total. iG, São Paulo, 22 jun. 2010. Disponível em: Download 5.01 Kb. Do'stlaringiz bilan baham: |
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