Adriana nely dornas moura
Download 5.01 Kb. Pdf ko'rish
|
- Bu sahifa navigatsiya:
- 1.3 Estrutura do documento
- 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Cultura e identidade
- 2.1.1 Cultura e identidade brasileiras e o design nacional
- 2.2 Arte, artesanato e suas influências no design nacional contemporâneo 2.2.1 Algumas considerações sobre arte
1.1 Objetivo geral Esta pesquisa tem como objetivo geral investigar as influências criativas do design nacional contemporâneo, surgidas no contexto multicultural 1 A expressão “Novo Design” será utilizada como conceituação para compreensão do design contemporâneo. Não se trata de uma visão dicotômica, pela qual se rejeita o passado em função do presente, mas de uma perspectiva de visualizar as mudanças que estão sendo propostas por transformações sociais, culturais, econômicas e políticas sob as quais o design se constitui. Este conceito foi elaborado pelos seguintes autores: BRANZI, 2006, p. 16; MANZINI; MERONI, 2009, p. 13-16 e SCHNEIDER, 2010, p. 163-171. 16 brasileiro, a partir das interlocuções existentes entre a arte e o artesanato, contextualizadas na obra dos Irmãos Campana. 1.2 Objetivos específicos a) Descrever, por meio da revisão de literatura, os principais elementos influenciadores do design nacional contemporâneo; b) Entender as interações da arte e do artesanato brasileiros na formação do repertório criativo do design nacional contemporâneo; c) Verificar, pela análise da obra dos Irmãos Campana, a influência da cultura, da arte e do artesanato brasileiros no design nacional contemporâneo. 1.3 Estrutura do documento O texto desta dissertação está exposto em cinco capítulos divididos entre a introdução, contextualização teórica do tema, metodologia, estudo de caso, e por último, são demonstradas as conclusões. Ainda constam as referências bibliográficas, apêndice e anexos, lista de figuras, quadros e siglas. A seguir, é apresentada uma breve descrição das divisões desse documento. A primeira parte do trabalho traz a introdução do tema a partir de sua relevância, expondo, de forma abrangente, o comportamento da sociedade moderna frente às novas demandas de produtos industriais; ressalta-se o posicionamento influente da cultura e história local na criação de produtos industriais com design original e de vanguarda. Ainda aborda a atualização do tema no tocante ao status em que se encontra o processo de criação dos projetistas brasileiros, chamando atenção para a permissibilidade que o design adquire quando são entregues a esses profissionais, requisitos sociais e culturais múltiplos como os presentes no Brasil. Esse status criativo é tratado como algo que vai além das funções técnicas ou de funcionalidade, sendo capaz de imprimir características próprias e singulares nos produtos – pilar escolhido para análise através do estudo de caso. O segundo capítulo traz a fundamentação teórica da pesquisa, analisando autores de estudos e livros relacionados à cultura e identidade, especialmente no Brasil, descrevendo suas interfaces com o design local. Posteriormente são 17 apresentados os principais conceitos de arte, artesanato e design, objetivando conhecer suas principais influências no design nacional contemporâneo. Ainda nesse capítulo é demonstrado o uso dos materiais e sua importância na formação de produtos com características próprias de um contexto cultural plural. O capítulo três traz a metodologia empregada na definição da pesquisa de campo – estudo de caso – e da escolha dos dois designers brasileiros estudados, além de se referir às várias formas de manuseio das informações pesquisadas. O capítulo quatro detalha o estudo de caso. Primeiramente é apresentada a trajetória artístico-profissional dos Irmãos Campana, seus trabalhos e suas experiências criativas, bem como, um breve relato sobre a projeção de suas carreiras no mercado brasileiro e mundial. Posteriormente complementa-se com a descrição do estudo de caso propriamente dito. Por fim, é identificada a influência do contexto multicultural brasileiro nos projetos da dupla, cuja característica principal é a originalidade das formas, muitas vezes resultantes do uso despojado dos materiais e das formas de fabricação. Este capítulo é permeado pelos autores estudados e pela análise descritiva das entrevistas concedidas à autora. O capitulo cinco corresponde à conclusão, onde são feitas as considerações finais, trazendo as principais constatações e descobertas da pesquisa e recomendações e sugestões para trabalhos futuros. Por fim, aparecem os apêndices e o anexo. 18 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Cultura e identidade O termo cultura foi sintetizado pela primeira vez pelo antropólogo britânico Edward Tylor (1832-1917), em 1871, como Kultur e Civilization (de origem francesa) “um todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (LARAIA, 2001, p. 25). Segundo Kessing (1974), cultura se divide em duas correntes: 1) aquela que considera cultura como um sistema adaptativo, ou seja, padrões de comportamento sociais transmitidos e adaptados em comunidades humanas de acordo com os estilos de vida; 2) uma teoria idealista divididas em: - cultura como sistema cognitivo, ou seja, um sistema de conhecimento; - cultura como sistemas estruturais onde se define cultura como um sistema simbólico que é a criação acumulada da mente humana e – cultura como sistema simbólico onde cultura é um sistema de símbolos e significados compartilhados pelos membros de uma sociedade. Já, do ponto de vista da simbologia, Arantes (1981) afirma que os elementos culturais não significam nada se tratados individualmente, ou seja, só se tornam legítimos quando se conceituam participantes de um grupo. As variadas compreensões destes elementos inseridos nestes grupos são chamadas de eventos culturais. A partir daí, a cultura torna-se atividade concreta, passando por um jogo político divergente de segmentos sociais, adequando-se ao contexto de cultura como produto. Neste sentido, cabe destacar que a cultura está diretamente relacionada aos eventos dos grupos sociais, o que lhe dá características transformadoras e capazes de gerar identidades diversas. Tais identidades, chamadas de culturais não são naturais e nem inerentes aos indivíduos. De acordo com Pacheco (2007), a identidade cultural não é estática e permanente, mas fluída e móvel, capaz de ser construída e manipulada. Assim, Hall (2000, p. 11) entende que uma identidade é formada na interação entre o ‘eu’ e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o ‘eu real’, mas este é formado e 19 modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que os mundos oferecem. Deste modo, o conceito de identidade transita entre o interior do indivíduo e o exterior que o influencia. O indivíduo, com sua identidade própria, é composto não de uma única, mas de várias identidades. À medida que os sistemas formadores de identidade cultural se multiplicam, os indivíduos se esforçam para se identificar de forma única dentro de uma “identidade possível” (HALL, 2000, p. 12-13). Por outro lado, Berger (1998, p. 112) afirma que “[...] as identidades são atribuídas pela sociedade”. Neste caso, é preciso que a sociedade as sustente com regularidade. Um indivíduo não pode ser humano sozinho e, aparentemente, não pode apegar-se a qualquer identidade sem o amparo da sociedade. Pinto (2004) confirma Berger (1998) ao afirmar que a identidade equivale a uma nação, mostrando que esta se constrói a partir da interação entre o 'eu' e a sociedade. Ambas as concepções estabilizam os sujeitos e os mundos culturais. Santos (2005) ressalta que a identidade de um povo não é rígida ou imutável; ela se constrói e se modifica na sequência de um constante processo de transformação. No Brasil, essa modificação é em parte ocasionada pela pluralidade de origens sociais e étnicas que são características de sua formação histórica. Esse contexto dá ao país um conceito de multicultural. A diversidade cultural aparece em cenários onde a pluralidade de origens sociais e étnicas caracterizam a formação de um ambiente e da dinâmica sociocultural de uma sociedade (ROIZENBRUCH, 2009). Num ambiente como esse, as interferências entre culturas são entendidas como parte de um processo natural do seu amadurecimento. No entanto, a coexistência de culturas não deve ser vista como busca do predomínio ou da sobreposição de umas em relação às outras. A inter-relação da diversidade é a fusão entre diferentes tradições culturais e pode ser vista como uma forma natural de evolução das sociedades, promovendo a criatividade, produzindo novas formas de cultura e até mesmo contestando as identidades do passado (HALL, 2000). Burity (1999) aponta alguns problemas relacionados à multicultura: um deles é a associação entre identidade e território, cuja definição o autor atribui de 20 localismo. O outro problema é a contradição entre a afirmação de uma identidade e o avanço da globalização. Para o autor, tais problemas são divergentes, afinal, enquanto o ponto central de um é a ênfase na localização da cultura (como referência), o outro é a desterritorialização imposta pelos fluxos globais. Essa ambiguidade ressaltada por Burity (1999) pode ser representada pela emergência de demandas identitárias, num cenário contemporâneo bastante globalizado. Ao questionar se esse contexto representa oportunidades ou ameaças às experiências locais, o autor relata que a globalização se reinscreve num cenário cujas referências não se definem pelo isolamento nem pela territorialidade, mas estas são fundamentais para o registro das culturas. Já Krucken (2009) afirma que a identidade e diferença cultural são fatores determinantes de um território. Este entendimento se dá quando se promove a visibilidade de recursos locais convertendo-os em benefícios reais e duráveis para as comunidades, valorizando a cultura de um determinado espaço. Na realidade, a identidade não é consequência direta da diferença cultural, mas das interações dos grupos sociais e dos procedimentos que estes utilizam para apresentar tais diferenciações. O território local passa então a representar os limites físicos de uma determinada identidade cultural, cujas fronteiras são construídas socialmente (FLORES, 2002). O próprio conceito de território se refere a uma identidade cultural coletiva. Segundo Teófilo (2002, p. 47), território: [...] tende a ser uma microrregião com claros sinais de identidade coletiva compreendendo um número de municípios que mantenha uma ampla convergência em termos de expectativas de desenvolvimento, articulado com novos mercados, e que promova uma forte integração econômica, e social, ao nível local. Semprini (1999) destaca que o território multicultural é, antes de tudo, um espaço de sentido onde circundam símbolos de uma sociedade. Um país pode ser considerado território multicultural quando formado por diversos povos e culturas que convivem e trocam informações. Barbosa (1998) caracteriza esse cenário de multicultura ativa. Mas Burke (2003, p. 17) traduz multicultura ativa como “[...] uma necessidade de trocas culturais intra e interterritoriais”. Para ele, “são os encontros culturais que encorajam a criatividade”, enfatizando as oportunidades que a globalização oferece 21 para a formação de conceitos estéticos. O resultado disso são produções com forte apelo cultural oriundos das comunidades que os produzem em seus respectivos territórios. Todavia, é importante ressaltar que tais favorecimentos criativos precisam ser trabalhados com cautela; afinal, é necessário se ater à originalidade e riqueza de significados dessas culturas. Para Krucken (2009), esse é um caminho muitas vezes seguido por diversas áreas. O design, por exemplo, tende a unir técnica e conhecimento em projetos repletos de elementos culturais e simbólicos. 2.1.1 Cultura e identidade brasileiras e o design nacional O aspecto cultural de uma dada sociedade é rico em símbolos oriundos das gerações passadas e que podem ser retrabalhados para as gerações atuais e futuras. Essa mutação é vantajosa, uma vez que a manipulação adequada e criativa desse conjunto cultural permite novas invenções e inovações (LARAIA, 2001). Segundo Canclini (1999), os objetos são símbolos de uma cultura e que, ao serem projetados, produzidos e utilizados, passam a fazer parte da cultura material de um grupo social, trazendo o conceito do design para uma discussão antropológica. Desta forma, ao criar um produto, o projetista entrega a ele, por meio da funcionalidade e da estética, uma carga de valores e símbolos já vivenciados. Lahire (2006) entende que essa transferência gera características muito próprias e sutis nos produtos projetados. Poynor (2010, p. 23) acredita que um cenário multicultural é muito propício para o rompimento estético das criações típicas da pós-modernidade. O autor identifica como “apropriação” a característica de criar em uma época em que “[...] a inovação estilística já não é possível, tudo que resta é imitar estilos”. Isso significa, segundo ele, que as criações contemporâneas ou pós-modernas irão sempre ter um resultado diferente, sem características direcionadas a uma única fonte de criação, ou seja, basicamente híbridas. Diante disso, e se considerando Michaelis (s.d.), a palavra híbrido é “[...] 2. derivado de fontes dessemelhantes; 3. que está composto de elementos diferentes ou incôngruos. [...]”, pode-se afirmar que um produto que representa essa diversidade cultural denomina-se híbrido. 22 Canclini (1999, p. 28) considera como conceito de hibridismo: [...] é aquilo que útil em algumas pesquisas para abranger conjuntamente contatos interculturais que costumam receber nomes diferentes: as fusões raciais ou étnicas denominadas mestiçagem. O sincretismo de crenças e também outras misturas modernas entre o artesanal e o industrial. Ainda, segundo Canclini (1999), o hibridismo é um fenômeno comum, apontando como exemplo objetos ou bens simbólicos como utensílios, máscaras ou tecidos que se enquadram como bens artesanais. Esses exemplos são chamados de hibridização cultural, ou seja, aqueles que geram possibilidades tanto para o design quanto para outras manifestações culturais (CANCLINI, 1999; ROIZEMBRUCH, 2009). Kistmann (2001) pondera que o design contemporâneo pode ser denominado como híbrido; isto porque ele se reporta, da mesma forma, ao processo moderno de produção e as bases tradicionais típicas das culturas locais. A autora ressalta que a aproximação do tradicional e do moderno não é um consenso, permanecendo em constante discussão, principalmente por ainda existirem produtos com essa configuração que não tenham resolvido totalmente seus processos produtivos. Essa dificuldade em dialogar e perceber tais incongruências produtivas mostram-se evidentes na produção de objetos projetados – isso porque as influências multiculturais de uma sociedade geram uma cultura material capaz de criar produtos com significados particulares, ou seja, advindos de uma criação baseada na diversidade (ONO, 2004). Moraes (2006) compartilha dessa afirmação quando diz que uma cultura baseada em referências múltiplas propicia aos produtos projetados um afastamento do linear e do racional, aproximando-os de uma diversidade inerente à contemporaneidade. Neste contexto, Poynor (2010, p. 19) apropria-se da citação de Hughes- Stanton, crítico de design (1902-1981) para consolidar sua percepção de design na modernidade: o design pós-moderno está mais próximo do povo e do que o povo quer: está preparado para atender as suas necessidades legítimas sem moralizar sobre quais deveriam ser estas necessidades. Está, portanto, mais profundamente enraizado na sociedade do que a escola Moderna. Hughes-Stanton sugere um contínuo rompimento de fronteiras no design, 23 entendendo que ele se tornará mais “aventureiro em termos estéticos”, caracterizando-se por tendências “totalizadoras” (POYNOR, 2010, p. 19). Pode-se dizer que o conceito de design na modernidade tornou-se muito complexo, levando os produtos a se adaptarem às diversidades. Nessa perspectiva ele vem mediar produção e consumo, tradição e cultura, inovação e qualidade (BÜRDEK, 2006; CIPINIUK, 2006; KRUCKEN, 2009). Trata-se de um design típico dos territórios multiculturais que, segundo Moraes (1997), faz-se necessário acrescentar aspectos culturais como os que correspondem ao comportamento humano, tais como os semióticos, semânticos, cognitivos, psicológicos e subjetivos no conceito tradicional de design defendido pelo International Council of Societies of Industrial Design (ICSID) 2 . Isso se dá, segundo Dias (2007), devido ao fato de que um produto projetado ser o resultado das necessidades dos indivíduos e da materialização de uma cultura. 2.2 Arte, artesanato e suas influências no design nacional contemporâneo 2.2.1 Algumas considerações sobre arte Antes de conceituar o que é arte, cabe explicar sua constituição enquanto sistema social que possui códigos próprios e estão ligados “a diversas estruturas de poder que a produzem e a apóiam” (FRANCASTEL, 2000, p. 5), dando a ela múltiplos conceitos. Os manuais de filosofia apontam para o fato de que não se pode definir algo do que não se tem domínio, sem antes detalhá-lo com precisão, considerando-se que a distinção de arte dada por Aristóteles (384-322 a.C.) não foi adotada em todo o seu rigor pelo mundo antigo e medieval. Abbagnano (2007, p. 93) pontua que desde essa época houve uma nova noção de arte orientada a “um conjunto de compreensões”, entendendo-se como “uma representação compreensiva”, que deste modo não distinguia arte da ciência. 2 Segundo o ICSID, design é: uma atividade criativa cujo objetivo é determinar as propriedades formais dos objetos produzidos industrialmente. Por propriedades formais, não se deve entender apenas as características exteriores, mas, sobretudo, as relações estruturais e funcionais que fazem um objeto (ou sistema de objetos) uma unidade coerente, tanto do ponto de vista do produtor quanto do consumidor. 24 O autor relata que as artes podem ser diferenciadas entre artes liberais, isto é, dignas do homem livre, e artes mecânicas; esta, associada aos ofícios, ou seja, exatamente como ocorre ainda hoje: arte é um ofício e o artesão é quem pratica o ofício. Ainda sob a ótica da filosofia, Abbagnano (2007, p. 92-93) define arte segundo Platão como: Todo conjunto de regras capazes de dirigir uma atividade humana qualquer. [...] era nesse sentido que Platão (428/7- 348/7 a.C) falava de arte, e por isso, não estabeleceu distinção entre arte e ciência. Aristóteles restringiu notavelmente o conceito de arte. [...] retirou do âmbito da arte a esfera da ciência, que é a do necessário, isto é, do que não pode ser diferente do que é. Em segundo lugar, dividiu o que não pertence à ciência, isto é, o possível [...] no que pertence à ação e no que pertence à produção. Somente o possível que é o objeto de produção é objeto da arte. Nesse sentido, disse que a arquitetura é uma arte; e a arte se define como hábito, acompanhado pela razão de produzir alguma coisa. No Brasil, amparado pelo dicionário Novo Aurélio século XXI, arte é conceituada como: 1. capacidade que tem o ser humano de pôr em prática uma ideia, valendo- se da faculdade de dominar a matéria; 2. a utilização de tal capacidade, com vista a um resultado que pode ser obtido por meios diferentes; 3. atividade que supõe a criação de sensações ou de estado de espírito de caráter estético carregado de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação [...] 4. a capacidade criadora do artista de expressar ou transmitir tais sensações ou sentimentos. (FERREIRA, 1999, p. 204). E o conceito de obra de arte é: 1. obra produzida segundo o conceito de arte, especialmente a que é tida de boa qualidade. 2. objeto executado com perfeição, acabamento, gosto, senso estético. (FERREIRA, 1999, p. 1.427). O pesquisador Coli (2010, p. 7) afirma que as definições de arte “[...] são divergentes, contraditórias, além de frequentemente se pretenderem exclusivas”. Ele complementa que a sociedade é capaz de identificar determinadas produções da cultura em que se vive como “arte”. E complementa que para definir o que é ou não arte, a nossa cultura possui instrumentos como reconhecimento de um crítico de arte ou o fato de tal obra estar numa galeria de arte. Contudo, mais uma vez os instrumentos para definir arte ainda se mostram limitados. Mas elucida que “[...] o estatuto da arte não parte de uma definição abstrata, lógica ou teórica, do conceito, 25 mas de atribuições feitas por instrumentos de nossa cultura, dignificando os objetos sobre o qual ela recai” (COLI, 2010, p. 11). Pelos conceitos anteriores, constata-se que arte é um fenômeno cultural de identidade própria de cada sociedade, definido por determinadas épocas, exercendo funções estéticas, sociais e culturais. Agostinetti (2008) cita Marcel Duchamp (1887-1968) na tentativa de classificar um objeto produzido como obra de arte. Para ela, numa produção se integram o contexto histórico, o mercado e a aceitação entre artistas e a crítica. Sob o seu ponto de vista, Duchamp pode ser considerado o pai da arte contemporânea, pois acreditava que ela não deve ser feita pelo artista e, sim, pensada intelectualmente por ele. Essa reflexão pode ser observada em suas obras. Ainda segundo Agostinetti (2008), a “desconstrução da arte” surge a partir do desejo de ruptura das tradições do Cristianismo e o Capitalismo, sistemas estes, apoiados na ordem e na razão. Assim sendo, a obra a partir de Marcel Duchamp “busca uma autorreferencialidade no próprio fazer artístico, e, sendo um objeto autônomo, reflete-se em si mesma, uma vez que a arte pela arte não encontra referência no mundo” (AGOSTINETTI, 2008, p. 8). Pensar a relação da arte com outros segmentos, implica estudar o objeto de arte, como reflexo do seu tempo e de sua sociedade. Bell (2000) citado por Camargo (2009, p. 5), defende que “[...] as obras de arte (e somente elas) geram nos espectadores uma emoção singular (emoção estética) por meio de sua forma significante”. O autor descreve os caminhos que o filósofo Kant (1724-1804) percorreu para definir primeiramente a estética e estabelece que: [...] segundo este conceito, aquilo que se refere à estética deve ser uma emoção particular provocada pela experiência pessoal com um evento ou objeto (de arte). Portanto, a qualidade essencial de uma obra de arte é seu poder de fazer emergir nas pessoas uma emoção singular que não pode ser experimentada de outra maneira. (CAMARGO, 2009, p. 13). Esta emoção tende a explicar a questão da subjetividade da arte. Ainda segundo Camargo (2009) o filósofo Kant a julga em quatro momentos descritos a seguir: Kant obtém os quatro momentos do julgamento estético: ‘satisfação desinteressada’ (sentimento produzido por um objeto, sem considerar sua utilidade ou necessidade), ‘subjetividade universal’ (sem interesse particular, 26 o juízo do belo pode ser universal, ainda que seja subjetivo), ‘finalidade sem fim’ (sem um fim ou objetivo determinado, a obra de arte não tem conceito, mas agrada universalmente), e ‘necessidade livre’ (sendo universal o juízo estético, ele também é necessário, porém, não pode ser imposto e, portanto, é livre). (CAMARGO, 2009, p. 13). Pode-se observar um esforço de Kant para manter a estética no contexto filosófico, ainda que os quatro momentos, por vezes paradoxais, foram atendidos. Cidreira (2005, p. 83) aponta que foi a tradição ocidental que deu à arte sucessivas modificações, como construção, expressão e conhecimento, e afirma: “[...] podemos reconhecer a arte como um conjunto de atos pelos quais se muda a forma, transforma-se a matéria oferecida pela natureza e pela cultura”. Entende-se, portanto que o processo da arte não é só um objeto da cultura, mas é também um sujeito transformador no momento em que um artista pode descobrir novos materiais ou novas técnicas para sua construção, podendo assim criar novos símbolos e até dar novos sentidos a estes símbolos, utilizando estes julgamentos estéticos a que Kant se referiu. Do ponto de vista da arte moderna, não se pode concluir que a estética foi a motivadora de rupturas entre as diversas formas de expressar essa arte. Micheli (2004) confirma este pressuposto quando diz que tais rupturas resultam, além da estética, de razões históricas e ideológicas, de polêmicas, protestos, e revoltas inerentes à evolução do século XIX para o XX. Alguns autores afirmam que a estética na arte contemporânea é uma possibilidade dentre tantas outras já exploradas. Outros ainda esperam o surgimento de um marco artístico na atualidade. Uma das mais importantes análises do fenômeno estético na primeira metade do século XX deve-se à Escola de Frankfurt, especialmente aos trabalhos de Theodor Adorno (1903-1969). Do ponto de vista de Camargo (2009, p. 5), a estética adorniana, fruto da crítica frankfurtiana, opõe-se ao entendimento de estética dado pelo filósofo Kant. O autor as considera excessivamente abstratas e idealistas, incapacitando-as de lhe dar com o lado concreto do mundo da arte. Esta escola prefere pensar a estética na arte a partir das relações sociais e de produção, distanciando-a da “falsa neutralidade da arte (burguesa)”. Nesse contexto, impor dificuldades em conceituar a arte não é uma questão própria da contemporaneidade. Da mesma forma que o meio e a cultura permeiam a 27 construção da arte, a expressão estética também é um ato nela inserida. A leitura de uma obra se dá através dos símbolos e conceitos que fazem parte do universo tanto do artista quanto do universo do espectador ou observador da obra. A arte contemporânea é um exemplo disso. Ela carrega todo um passado histórico de dificuldade de conceituação. Conforme Francastel (2000), hoje quem se manifesta a respeito da arte já se encontra de antemão com sua tese invalidada por outras. Para ele, “não é mais possível assumir absolutamente nenhum ponto de vista que não tenha sido defendido de uma forma ou de outra por alguém” (FRANCASTEL, 2000, p. 17). A seguir o Quadro 1 esclarece as principais teorias da arte a partir de seus autores, conceitos, pontos positivos e negativos e vínculos. 28 Quadro 1 – Análise comparativa das teorias da arte Fonte: CAMARGO, 2009, p. 12. 29 A análise do Quadro 1 confirma a transformação conceitual da arte em seus diversos períodos. Observa-se que os aspectos lógicos e metafísicos se modificaram para as premissas subjetivas e cognitivas inerentes às análises sociológicas e culturais, confirmando as rupturas nas diversas décadas. O processo de fazer arte deixa então de ser um objeto da cultura para ser um sujeito transformador, na medida em que o artista privilegia a estética com novos materiais e novas técnicas de construção. É no diálogo entre a arte e seu universo que se pode compartilhar com Cidreira (2005) a afirmação de que fazer arte é dar ao artista materiais diversificados para que ele possa transformá-los esteticamente, atentando-se para suas propriedades, tais como: material, cor, brilho, textura, dentre outros. Obviamente, não se distancia este processo da cultura e dos costumes de quem os compartilha afinal, uma obra de arte não é só um objeto da cultura, mas também um elemento transformador dela. Download 5.01 Kb. Do'stlaringiz bilan baham: |
Ma'lumotlar bazasi mualliflik huquqi bilan himoyalangan ©fayllar.org 2024
ma'muriyatiga murojaat qiling
ma'muriyatiga murojaat qiling