Revista de estudos orientais
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- Revista de Estudos Orientais N. 6
- Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
- Santos e Caprini Materiais Gráficos e Editora Ltda
- Palavras-chave
- Shemuel haNaguid
- Iehudá haLevi
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REVISTA DE ESTUDOS ORIENTAIS USP - Universidade de São Paulo Reitor: Suely Vilela Vice-Reitor: Franco Lajolo FFLCH - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Diretor: Prof. Dr. Gabriel Kohn Vice-Diretor: Profa. Dra. Sandra M. Nitrini Departamento de Letras Orientais Chefe: Mamede Mustafa Jarouche Vice-Chefe: Arlete O. Cavaliere Revista de Estudos Orientais N. 6 Editor Responsável Berta Waldman Conselho Editorial Alexandre Jebit (Acad. de Diplomacia - M.R. Ext. Moscou) Boris Schnaiderman (USP) Franz Shumann (Univ. Califórnia) Haquira Osakabe (Unicamp) Lídia Massumi Fukasawa (USP) Milton Hatoum (Univ. Amazonas) Richard Hovannisian (Univ. Califórnia) Roshdi Rashed (CNRS - Paris) Sakae Murakami Giroux (Univ. Strasbourg) Saul Sosnowski (Univ. Maryland) Departamento de Letras Orientais - FFLCH-USP Av. Prof. Luciano Gualberto, 403 - Cid. Universitária 05508-900 - São Paulo (SP) - Brasil Tel.: (11) 3091-4299 / Fax: 3091-4892 e-mail: flo@usp.br REVISTA DE ESTUDOS ORIENTAIS N. 6 Revista do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Revista de Estudos Orientais • n. 6 • pp. 1-280 • São Paulo • janeiro 2008 ISSN 1415-9171. Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Revista de Estudos Orientais / Departamento de Letras Orientais. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. -- n. 6 (2008)-. -- Campinas : Santos e Caprini, 1997- Anual. Publicado: Humanitas, N. 1 (1987)-n. 3 (1999); Ateliê, N. 4 (2003)-n. 5 (2006). ISSN 1415-9171. 1. Estudos orientais. 2. Cultura oriental. I. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Letras Orientais. 21ª. CDD 306.950 950.07 DIREITOS RESERVADOS PARA A LÍNGUA PORTUGUESA: Santos e Caprini Materiais Gráficos e Editora Ltda C.N.P.J.: 79.643.417/0001-22 - I.E.: 90.390.319-89 Rua Padre Anchieta, 1691 - Bigorrilho - Curitiba/PR CEP 80730-000 - PABX: +55 41 3079.3135 atendimento@opusprinteditora.com.br - www.opusprinteditora.com.br Copyright©2008 by autores Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.98 É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora. ISSN 1415-9171. ÍNDICE Apresentação ................................................................................................... 07 Três Poemas sobre o Gazel ............................................................................. 09 AMÂNCIO, Moacir Línguas Semíticas na Universidade de São Paulo .......................................... 14 ARAÚJO, Reginaldo Gomes de Indicações a Respeito da Divisão das Ciências em IBN SINA (AVICENA)............................................................................. 29 ATTIE Filho, Miguel Do Estudo Acadêmico da Bíblia Hebraica ...................................................... 36 CHWARTS, Suzana Nas Tramas das Noites .................................................................................... 41 CODENHOTO, Christiane Damien Elementos Formadores do Imaginário sobre o Japonês no Brasil. ................. 46 DEZEM, Rogério As Cidades, a Fauna e a Flora do Brasil no Testemunho Ocular de um Viajante Árabe ..................................................... 60 FARAH, Paulo Daniel A “Fórmula do Horror à Russa” na Belle Époque Brasileira .......................... 66 GOMIDE, Bruno Barretto A Tradição Cristã e a Valorização da Origem Judaica de Figuras da Poesia Romântica Brasileira ....................................................................................... 82 JESUS, Daniel Santana de Rasgar el Presente: Memoria y Fabulación en Relato de um Certo Oriente ........................................................................ 90 KANZEPOLSKY, Adriana Diáspora Armênia no Brasil .......................................................................... 103 MARCARIAN, Mônica Nalbandian A Multiculturalidade Otomana. Imigrantes Judeus do Império Otomano no Brasil .................................................................... 110 MIZRAHI, Rachel Os Concursos de Beleza na Comunidade Nipo-brasileira e a Imagem da Mulher Nikkei ...................................................................... 123 MORI, Koichi e INAGAKI, Bárbara The Structure and Significance of The Spiritual Universe of The Okinawan Cult Center ........................................................ 167 MORI, Koichi A Origem Indiana de um Mito do Brasil Colonial ........................................ 196 NAVARRO, Eduardo de Almeida Integração Cultural dos Imigrantes Chineses no Brasil ................................ 206 SHYU, David Jye Yuan e JYE, Chen Tsung Sentidos do Corpo: Os Usos de Drogas na Sociedade Islâmica Medieval ... 234 SOARES, Marina Juliana de Oliveira Faces e Contrafaces: alguns aspectos da Obra de Amós Oz ......................... 253 WALDMAN, Berta 7 APRESENTAçãO Este número da Revista de Estudos Orientais foi planejado em articulação com o próximo, havendo uma inversão entre ambos: o tema que enfeixa os trabalhos deste número é “O Oriente no Brasil” e o do próximo número, “O Brasil no Oriente”, o que os torna complementares e, por isso mesmo, potencialmente abrangentes. Os estudos e ensaios que compõem este número abrem um painel em que o Oriente desponta tanto nas pesquisas ou estudos acadêmicos, relevando suas múltiplas culturas, como também na marca que os imigrantes orientais deixaram, a partir de sua chegada ao Brasil, em fins do século XIX e princípios do século XX, quando vêm para substituir a mão-de-obra escrava principalmente na agricultura. Um dos resultados desse processo é que o Oriente torna-se presente nas ruas brasileiras, no comércio, na indústria, na academia, na literatura traduzida ao português, na literatura dos descendentes de povos orientais, cunhando em nossa literatura um modo estranhado de ser. Os trabalhos distribuem-se, neste número, contemplando esses dois aspectos do Oriente. Assim, Paulo Daniel Farah apresenta, em seu relato, o percurso de um viajante árabe, na segunda metade do século XIX, que permaneceu durante três anos no país, percorrendo o Rio de Janeiro, a Bahia e Pernambuco. Rogério Dezem estuda a construção/desconstrução dos discursos relativos aos imigrantes do Oriente longínquo no Brasil, focalizando os estereótipos estigmatizadores dos chineses e japoneses. David Jye Yuan Shyu e Chen Tsung Jye refletem sobre o processo de adaptação de imigrantes chineses no Brasil. Rachel Mizrahi apresenta a imigração dos judeus sefarditas e orientais que se fixaram em São Paulo e no Rio de Janeiro, em fins do século XIX, e suas formas de organização comunitária. Koichi Mori (com Bárbara Inagaki) analisa a transformação da imagem da mulher descendente de japoneses no Brasil, no período da Segunda Guerra Mundial, através de concursos de beleza promovidos nas comunidades nikkeis; examina também, em outro trabalho, as características e os significados do universo espiritual dos deuses e dos espíritos no centro espírita criado por uma japonesa que imigrou para o Brasil, vinda de Okinawa. Já Eduardo de Almeida Navarro relata a história do mito de São Tomé desde seu surgimento na Índia e sua subsistência no Brasil do período colonial. Marina Juliana de Oliveira Soares apresenta o modo como os árabes muçulmanos encaravam o uso de drogas durante o período medieval. 8 Reginaldo Gomes de Araújo analisa a história das línguas semitas ensinadas na USP, enquanto Bruno Barretto Gomide detém-se na recepção mundial da literatura russa no século XIX, focalizando os textos produzidos no Brasil da belle époque. Mônica Nalbandian Marcarian apresenta a Diáspora Armênia no Brasil e Daniel Santana de Jesus lê a presença de figuras judaicas na poesia romântica brasileira. Adriana Kanzepolsky trata da recorrência à memória que mistura lembrança e invenção, em Relato de um certo Oriente, de Milton Hatoum, escritor brasileiro de origem libanesa, enquanto Berta Waldman examina o modo como o autor israelense Amós Oz transforma política em literatura. Moacir Amâncio traduz poemas de dois poetas medievais – Samuel Hanaguid e Judah Halevi – e Christiane Damien Codenhoto ressalta as fontes e traduções de As Mil e Uma Noites. Miguel Attie Filho discute a divisão das ciências de acordo com as informações contidas na Metafísica da Al Shifa’ e na Epístola sobre as partes das ciências intelectuais de Ibn Sina (Avicena: 980-1037 d.C.) e Suzana Chwarts faz uma retrospectiva da trajetória dos estudos acadêmicos da Bíblia Hebraica e suas diferentes formas de análise. Como se vê, este número reúne tradução, ensaios e estudos de abordagem múltipla — antropológica, histórica, filosófica, lingüística e literária — oferecendo um panorama amplo e variado dos estudos orientais no Brasil, tanto do Oriente longínquo, quanto do Oriente que vive em nós, entre nós. Berta Waldman maio de 2007 9 TRêS POEmAS SObRE O gAzEL Moacir Amâncio* Para Odile Cisneros Resumo: A figura do efebo (o gazel) é aqui apresentada na tradução de três poemas de dois autores judeus medievais da Espanha: Shemuel haNaguid e Iehudá haLevi. São vistos como textos que enriquecem a obra dos respectivos poetas, na perspectiva rigorosamente literária. Palavras-chave: Efebo, haNaguid, haLevi, poesia hebraica medieval, tradução. Abstract: The ephebe in poems from Samuel Hanaguid and Judah Halevi cannot be ignored in its historical and religious implications. Anyway, the poetic expression must be taken as leading criterion every time we are talking about translation and literary conventions. Key words: Ephebe, Hanaguid, Halevi, Hebrew medieval poetry, Translation Gazel ou tsvi. As duas palavras, a primeira em árabe, a segunda em hebraico, têm o mesmo significado e podem ser traduzidas para corço ou simplesmente veado. É como os efebos que serviam à mesa eram chamados pelos poetas árabes e judeus da Andaluzia medieval, notável pela mescla de culturas. Foi sob a influência árabe que a poesia hebraica, à época, deixou a exclusividade da sinagoga, adotando o laicismo e até mesmo certa licenciosidade erótica. A figura do tsvi, e da tsviá, a gazela, aparecem em poemas escritos por autores que além de virtuosos da língua também podiam ser grandes exegetas bíblicos, filósofos e guerreiros. Eram, portanto, rabinos, poetas, soldados, políticos e poeticamente hedonistas cantando o vinho, a flora, a amizade e o amor. A produção cultural intensa entre os séculos 10 e 12 justifica a denominação de ciclo de ouro para esse período. __________ * Professor Doutor de Língua e Literatura Hebraica da Universidade de São Paulo Moacir Amâncio - Três Poemas sobre o Gazel 10 Os três poemas aqui apresentados, sobre o tema do efebo, foram escritos pelo guerreiro e político Shemuel haNaguid (993-1056) e por Iehudá haLevi (cerca de 1075-1141), que se ocupou da medicina, da filosofia e da poesia e empreendeu a longa viagem de volta a Sion, tendo sua morte duas versões. A lendária: teria sucumbido sob as patas de um cavalo diante das muralhas de Jerusalém. A outra: morreu no Egito. Nos poemas de Shemuel haNaguid temos dois instantes do tsvi (sinônimo, ôfer), em textos breves e muito ágeis, que surpreendem pela riqueza das imagens e pela força de sugestão obtida em espaço tão restrito. Já o texto de Iehudá haLevi é um shir ezor ou muashahá, um poema construído com um colar de rimas e encerrado por versos fixos, de uso comum, normalmente escritos em árabe e romance. Os dois autores enaltecem a figura do tsvi e, à parte discussões sobre seus objetivos, deve-se notar que esses poemas se impõem pelo que são, pela expressão poética, da qual procurei trazer algo para o português. Evidentemente, esses poemas encontram resistência e muitas vezes foram e são evitados, mas não há como negar a existência deles e hoje há vários estudos a respeito, seja no campo literário, seja no âmbito histórico e dos costumes 1 . Ignorá-los é ignorar parte da obra desses gigantes da literatura hebraica e medieval. Claro, quando tomamos conhecimento de tais versos, compreendemos que dificilmente questões históricas e religiosas serão evitadas de início, no entanto, as implicações literárias logo se sobrepõem, pois não se pode esquecer o âmbito da convenção poética em que também se inscrevem (lembremos as canções de amigo), como Shirman percebeu em seu brilhante ensaio intitulado The Ephebe in Medieval Hebrew Poetry 2 . Para o lado dos fatos, parece pender a evidência de que até hoje se utiliza em português o termo veado para designar, agora de modo chulo, destituído de qualquer nobreza, o efeminado ou alguém inclinado ao homoerotismo masculino. Como sugere Shirman no estudo citado, mesmo a arte pela arte deve ter no primórdio algo de base real. Usei o árabe, gazel, com sua sugestão de beleza inusitada (além da relação com gazela) e como uma maneira de evitar o desgaste da palavra portuguesa, tendo para isso consultado os professores de árabe Safa Jubran e Mamede Mustafa Jarouche. 1. Pesquisas trazem informações sobre hábitos de uma época em que era de bom-tom cultivar efebos. Havia haréns formados por eles. Tanto o judaísmo como o islamismo condenavam tal prática e a poesia resultante, mas houve também uma sacralização do gênero. Na poesia hebraica, o tsvi passaria a simbolizar Israel, ou rei Davi. Basta lembrarmos a interpretação alegórica do Cântico dos Cânticos para termos uma idéia de seqüência histórica. Ver a respeito: Juan Ruiz’s Heterosexual “Good Love”, em que Daniel Eisenberg sugere que a obra do título na verdade refere-se ao amor homossexual por um escritor cristão (disponível na Internet), e The Gazelle, de Raymond P. Scheindlin, sobre a simbologia religiosa. 2. Shirman, Jefim (ou Haim), The Ephebe in Medieval Hebrew Poetry, em Sefarad – revista de estudos hebraicos, sefardies y de Oriente Próximo, no. 15, 1955, p. 56-68 Revista de Estudos Orientais n. 6, pp. 09-13 - 2008 11 Na transposição, mantive o esquema de rimas e a forma dos hemistíquios, nos poemas de Shemuel haNaguid (Samuel o Príncipe, título outorgado a ele por ter sido ministro do governo árabe de Granada). No caso de Iehudá haLevi mantive a forma do shir ezor e adaptei o fecho para o português, utilizando-me de Shirman, guia fundamental nesta matéria. A busca foi de um tom próximo ao de uma canção. Tomei, claro, algumas licenças em relação aos originais, sempre tendo em conta que não existe uma única e “correta” tradução de um poema e sim várias, dependendo do tradutor e da época 3 . Não vou expor aqui todas essas licenças nos detalhes porque explicar um poema em sua construção significa entre outras coisas o risco de enfraquecê-lo, se não de negá-lo – e o desafio neste caso é chegar o mais perto possível de um poema no idioma de chegada, que só então terá efetivado seu encontro com o texto escrito no idioma de partida, ou motivo de inspiração. Acrescente-se, quando se coteja com outra versão, surge a oportunidade de aproveitar o resultado, ou deixá-lo para lá, etc. Por exemplo, Shemuel haNaguid configura a lua como a letra iud, um gancho suspenso no céu. T. Carmi, numa tradução inglesa, utilizou o C, que foi trazido para o texto aqui presente por ser uma solução óbvia pela sua visualidade. Já quanto a barêket, uma pedra preciosa, comumente entendida como esmeralda, preferi adaptar para “topázio”, pois uma das cores inequívocas da lua é, como se sabe, o amarelo. Shirman observa que nos melhores momentos tais poemas podem ser incluídos na “longa lista de criações similares na literatura mundial, começando com os autores gregos do período clássico e de períodos posteriores (Anacreonte), até proeminentes representantes do Oriente (árabes, persas) e algumas destacadas figuras da poesia moderna”, como Shakespeare, e Walt Whitman 4 . 3. “Na verdade, o tradutor promove o encontro de dois polissistemas de signos, engajado na arte de transpor o sentido poético de um sistema a outro”, diz Fábio Lucas em A Tradução da Poesia, LB, – revista da literatura brasileira, no. 23, p. 23 4. Shirman, idem, p. 68 Moacir Amâncio - Três Poemas sobre o Gazel 12 Shemuel haNaguid Daria a vida por / Gazel que despertou À melodia de harpa / E de flautas, gracioso, E ao ver na minha mão / Um copo, disse assim: “Beba em meus lábios sangue / De uvas especioso!” E a lua como um C / Grafava-se por sobre A veste toda treva / Em ouro precioso. *** Daria a vida por / Tão pérfido gazel. Amor por ele em meu / Peito ferroa agora. Aquele que ao erguer / Da lua perguntou: “Vês o esplendor de meu / Rosto e apareces? Ora...” A presença da lua / Nessa noite escura – O topázio que à mão / De uma negrita aflora. *** Iehudá haLevi Oh, oh gazel, oh senhor, Olhos ponha em meu sofrer, Que não cresça este penar. Bem, bem faça à minha alma / Teus cuidados trazem calma. Compadeça deste pobre Que por ti jejua e sofre Enquanto o maná não chove. Teu, teu o teu bom maná / Por única paga, dá! Se zombas de meu penar, Veja a coita neste olhar. Mas tua resposta: “Azar! Não, não, nada na rede / Só do que não tenho sede.” Eu me culpo toda vez: Se temes, seja cortês, Volva meu sono e talvez Voes, voes, caias como / Ave na rede em meu sonho. Revista de Estudos Orientais n. 6, pp. 09-13 - 2008 13 Se peço um beijo a morrer, Enrubesce, alvorecer – Assim esplende o seu ser: Tal, tal o branco exangue / se transforma em vivo sangue. Parte-me seu canto a alma, Mas canta, porque me inflama, Basta um beijo, a boca clama: Já, já beija co’alegria / E esquece a melancolia. *** Bibliografia: Shirman, Haim, HaShirá haIvrit beSefarad uvProvence, Mossad Bialik, Jerusalém, 1954, vol. 1 Shirman, Jefim (ou Haim), The Ephebe in Medieval Hebrew Poetry, em Sefarad – revista de estudos hebraicos, sefardies y de Oriente Próximo, no. 15, p., Madri, 1955, 56-68 Carmi, T., Hebrew Verse, Penguin, Nova York, 1982 Scheindlin, Raymond P., The Gazelle, Oxford University Press, New York/Oxford, 1991 Eisenberg, Daniel, Juan Ruiz’s Heterosexual “Good Loves”, em Queer Iberia, Duke University Press, 1999, p. 250-74 Lucas, Fábio, A Tradução de Poesia, em LB – revista da literatura brasileira, n. 23, São Paulo, 2001, p. 22-27. 15 LÍNgUAS SEmÍTICAS NA UNIVERSIDADE DE SãO PAULO Reginaldo Gomes de Araújo* Resumo: Este artigo propõe-se a apresentar as línguas semíticas que são ensinadas na Universidade de São Paulo. Começando pelo panorama histórico, nós apresentaremos o momento em que as línguas semíticas iniciaram na USP. Depois, apresentaremos uma concisa introdução do que são línguas semíticas e suas respectivas classificações. Finalmente, descreveremos quais línguas semíticas e seus respectivos níveis são ensinados na USP. Palavras-chave: Línguas semíticas, árabe, hebraico, aramaico. Abstract: The purpose of this article is to present the Semitic languages taught in the University of São Paulo. Starting from a historical panorama, we will present the momentum in which the Semitic languages started in the USP. Afterwards we will present a concise introduction of what are Semitic languages and their respective classifications. Finally, we describe which languages and in which le- vels they are offered in the USP. Key words: Semitic languages, Arabic, Hebrew, Aramaic. Panorama histórico A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH – da Universi- dade de São Paulo oferece, praticamente, desde a sua criação cursos de algumas línguas semíticas, a saber, de árabe, aramaico e hebraico. A língua árabe e a língua hebraica foram ensinadas nesta universidade primeiramente como “cursos livres”, como hoje é o curso de aramaico. Estas duas línguas se firmaram no decorrer do tempo e hoje fazem parte do programa de graduação e pós-graduação dos cursos de línguas oferecidos pela FFLCH. O curso de língua árabe existe na Universidade de São Paulo, em caráter oficial, desde 1963. Entretanto, teve início como curso livre em 1944, inicialmente estimulado pelo Centro Brasileiro de Cultura Árabe, criado pouco tempo antes. __________ *Professor Doutor da Área de Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas, Departamento de Línguas Orientais, Universidade de São Paulo. Reginaldo Gomes de Araújo - Línguas Semíticas na Universidade de São Paulo 16 A instalação do curso de árabe deu-se por iniciativa de membros expressivos da esfera intelectual da colônia sírio-libanesa e com integral apoio do reitor da Universidade de São Paulo, na época, o Prof. Dr. Jorge Americano, e de professores conceituados da FFLC (hoje FFLCH), dentre os quais podemos destacar o prof. Francisco da Silveira Bueno. O primeiro professor responsável pelo curso foi o prof. Taufik Kurban, titulado pela Universidade Americana de Beirute, Líbano. A seguir, assumiu o curso o prof. Jamil Sáfady, igualmente formado para o ensino do idioma e literatura árabes, permanecendo no cargo até fins da década de 50. Todavia, as atividades do Curso de Língua e Literatura Árabe iniciaram em 1963, na então FFLC, o professor Helmi Mohamed Ibrahim Nasr, que viera do Egito em 1962, como professor visitante. A partir de 1967, o curso de árabe passou a pertencer ao conjunto de Letras Orientais, oferecendo as disciplinas de língua árabe, literatura árabe e cultura árabe. Desde 1993 o curso de Língua Árabe passou a ter também um programa de pós-graduação, em nível de mestrado. A língua hebraica, como a língua árabe, existe como curso livre desde 1947, quando o Rabino prof. Fritz Pinkuss foi convidado para ministrar aulas nesta área. Em 1962 foi criado o Curso de graduação em Hebraico, na Área de Estudos Orientais, sendo mais tarde transferido para o Departamento de Lingüística e Línguas Orientais, hoje Departamento de Línguas Orientais da FFLCH. A partir de 1966 o curso passou a ter a colaboração da Profa. Rifka Berezin que assumiu a chefia após a aposentadoria do Prof. Pinkuss em 1975. Em 1983 foi criado o Curso de Especialização em Hebraico, em nível de pós-graduação, com duração de quatro semestres, tendo com o objetivo o aperfeiço-amento de bacharelandos e futuros candidatos para a área de pesquisa e de pós-graduação. A língua hebraica passou a ter programa de pós-graduação em 1989, em nível de mestrado. Hoje o programa de Hebraico oferece, além da graduação, programa de mestrado e doutorado e nos últimos anos, a saber, desde 2001, também conta com a pre-sença de pós-doutorandos. A partir de 2002, com a presença do recém-doutor Reginaldo Gomes de Araújo, a Universidade de São Paulo passou a oferecer também, como extensão universitária, mais um idioma da família das línguas semíticas: o Aramaico. Este curso tem sido ministrado semestralmente, possibilitando aos alunos dos programas de árabe e hebraico conhecerem mais uma língua semítica que contribui para aprofundar transformações lingüísticas ocorridas no árabe e no hebraico no decorrer do tempo. Desde então, têm sido oferecidos cursos de aramaico nos dialetos bíblicos e targúmicos. Estas são as línguas semíticas ensinadas na USP. Que são línguas semíticas? Que relação há entre elas? Estas e outras questões serão respondidas nos parágrafos seguintes. Revista de Estudos Orientais n. 6, pp. 15-29 - 2008 17 Depois deste panorama histórico da presença de línguas semíticas no curso de Letras da USP, podemos, agora, apresentar uma breve introdução às línguas semíticas e em seguida indicar, de forma breve, como estes idiomas são ensinados na USP, mostrando sua origem, sua classificação e a relação existente entre eles. A ordem aqui apresentada está baseada somente na ordem alfabética e não na contribuição e importância lingüística de cada um deles no âmbito das línguas semíticas. Interessante é que as línguas semíticas estudadas na USP apresentam ramificações diferentes, isto é, o árabe representa o Sul-Ocidental, o hebraico e aramaico o Norte-Ocidental, o hebraico é da família cananéia e o aramaico da família araméia. Todas semíticas, mas com ramificações diferentes. Seja por acaso ou não, este fato possibilita aos estudantes de línguas orientais conhecer três grandes grupos de línguas semíticas. Além disto, eles terão possibilidades, em um futuro breve, de conhecer também línguas semíticas do grupo norte-oriental como o acádico e seus dialetos. Download 3.63 Kb. Do'stlaringiz bilan baham: |
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